O Senado Federal, a Câmara dos Deputados e diversas assembléias legislativas estaduais possuem contas verificadas no YouTube com canais próprios para a divulgação de vídeos sobre o trabalho diário de seus parlamentares. É uma maneira fácil e barata de se comunicar com o cidadão sem pesar no orçamento público. O problema são os vídeos exibidos depois pelo YouTube de forma automática, selecionados por seu algoritmo de recomendação, alertam pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD). Se for um vídeo com conteúdo político radical ou contendo notícias falsas, ele estará herdando não apenas a audiência do canal oficial da casa legislativa, mas, de certa maneira, também a sua autoridade e credibilidade.

“Não é admissível que alguém que assine um canal do Senado, por exemplo, seja redirecionado no autoplay para canais que difundem fake news, muitas vezes atacando o próprio Congresso”, comenta João Guilherme Bastos dos Santos, coordenador do laboratório de dados do INCT.DD, em conversa com Mobile Time.

Em parceria com Cristiane Brum Bernardes, do Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados, Santos analisou 72.350 comentários e outros dados dos 241.888 vídeos publicados em todos os canais oficiais de casas legislativas brasileiras entre 2009 e 2019. Os dois pesquisadores concluíram que faltam informações sobre redirecionamento dos usuários para outros vídeos e canais, muitos deles relacionados a notícias falsas. Porém, concordam que as casas legislativas não deveriam abrir mão de usar o YouTube para divulgar seus vídeos, porque carecem de capacidade técnica e infraestrutura para viabilizar a transmissão por conta própria em seus websites. A solução, na opinião de Santos, seria o YouTube criar regras especiais em seu algoritmo de recomendação para os canais das casas legislativas e outras instituições políticas.

“Nosso ponto não é descobrir como funciona o algoritmo e/ou se as pessoas estão se radicalizando politicamente. É mais a questão institucional: as casas legislativas estão emprestando sua autoridade para outros canais. É necessário que haja algum cuidado em relação ao que é exposto ao público a partir daquele canal”, explica Santos. “Se os canais do Legislativo são checados como oficiais, as pessoas inscritas neles não deveriam ser automaticamente redirecionadas (pelo autoplay) para canais envolvidos com notícias falsas. Isso transfere não apenas visibilidade, mas também credibilidade a esses atores”, reforça o pesquisador.

Dificuldade de classificação

Cabe destacar que a categorização dos canais no YouTube é feita pelos próprios criadores do conteúdo. Muitas vezes, vídeos políticos não são classificados como tal. Isso gera uma dificuldade na identificação automática realizada pelo próprio algoritmo da plataforma. “Alguns dos vídeos mais vistos e curtidos sobre política nem sempre se autodefinem desta forma, mas como entretenimento, religiosos etc. Isso gera num ponto cego nos estudos de comunicação e política”, comenta Santos. Para resolver essa questão, estão sendo desenvolvidos métodos de análise para identificar quais nichos de canais são os principais players políticos, independentemente de como se autoclassificam, diz o pesquisador.

Os próximos passos da pesquisa serão expandi-la no âmbito estadual e aprofundar uma proposta de solução, informa Santos.

YouTube

O YouTube foi procurado por Mobile Time mas não se posicionou sobre a pesquisa até o momento.

 

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