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Ilustração: La Mandarina Dibujos

“Teremos um ano bastante desafiador para as startups”. Para Gustavo Gierun, CEO do Distrito, plataforma que oferece soluções para empresas entrantes, quatro pontos ligados aos governos de todo o mundo, mas em especial o brasileiro, serão determinantes para que os bons ventos voltem a soprar favoravelmente às novas empresas e os investimentos retomem com mais força: como será tratada a questão fiscal, a inflação e a queda de juros, além das incertezas políticas.

“Esses temas vão ditar a vontade de recuperação do mercado. Mas não parece que a recuperação acontecerá rapidamente. Acreditamos que 2023 terá grandes desafios e empresas ajustando suas operações para chegar ao breakeven”, explicou o executivo em conversa com Mobile Time nesta segunda-feira, 6.

Na semana passada, o levantamento realizado pelo Inside Venture Capital, do hub de inovação do Distrito, apontou queda de 84% em investimentos em startups no mês de janeiro, na comparação com o mesmo mês de 2021. Ao todo, foram captados US$ 96 milhões, sendo que uma empresa, a Órigo, levou metade deste montante, ou US$ 45,5 milhões.

Vale lembrar que o primeiro trimestre de 2022 foi positivo, com as startups arrecadando um total de US$ 2,04 bilhões no período, um incremento de 4%. No entanto, a partir de abril, houve um declínio nos aportes de 5% na comparação com o mesmo mês de 2021. De acordo com a avaliação do Distrito, os aportes deveriam crescer, mas a taxas menores, o que aconteceu ao longo do ano.

Segundo Gierun, no momento, existe uma redução nos investimentos em early stages, pré-seed e seed. “O hype do investimento em startups diminuiu. São menos investidores anjos, muitos dos fundos estão preservando seu capital para apoiar suas próprias investidas. É natural a redução”, avalia.

Distrito; Gustavo Gierun

Gustavo Gierun é CEO do Distrito. Foto: divulgação

As incertezas fazem com que os investidores optem por empresas mais maduras. “As startups nesta fase inicial têm menor condição de comprovar sua sustentabilidade financeira. Os investidores vão buscar o bom empreendedor, com mais experiência, focado na realidade do mercado, com alta capacidade de execução”, explica. “O momento e o ambiente de negócio vão calibrando as restrições – conforme o mercado vai melhorando e as empresas vão voltando a crescer, eles começam a reduzir as restrições de investimento”, completa.

Contexto

A redução significativa de investimentos em startups está atrelada diretamente aos cenários político e econômico não só brasileiro, mas também mundial do ano passado.

Os governos reduziram os juros para incentivar a economia. Injetaram liquidez nos mercados, ou seja, havia dinheiro em abundância e, para os investidores, valia a pena buscar classes de ativos de maior risco e retorno, de modo a equilibrar o portfólio.

Com o tempo, a inflação ficou mais alta em todo o mundo. E os países que vinham de inflação negativa e juros negativos passaram a sofrer com a inflação. “O Brasil foi um dos primeiros países a reagir a esse cenário, aumentando os juros ainda no início do ano passado e, ao longo de 2022, todos os bancos centrais, principalmente dos Estados Unidos e da Europa, também fizeram o mesmo movimento. E junto com capital disponível e juros baixos, tivemos a guerra na Europa [entre Ucrânia e Rússia], o que impactou muito o preço e a disponibilidade de alimentos e energia, pressionando a inflação”, resumiu Gierun.

Até maio do ano passado, o mercado estava “agitado”, como definiu o CEO do Distrito. E como as rodadas demoram a serem negociadas e anunciadas, é bem provável que o que foi visto nos dois primeiros trimestres de 2022 foram resquícios do aquecimento do mercado de 2021. “No segundo semestre de 2022, houve uma desaceleração muito grande de investimentos. Em especial nas rodadas de late stages, ou seja, para empresas que estão mais maduras”, explica Gierun.

“Os fundos que atuam em late stage no Brasil se retraíram de maneira rápida. E um dos maiores exemplos disso foi o Softbank. O Softbank foi um dos marcos de venture capital de inovação e empreendedorismo no Brasil e, do mesmo jeito que ele incentivou e irrigou esse mercado aqui, ele se retraiu dadas as perdas que teve ao redor do mundo. O Brasil ficou órfão em investimentos de late state”, explica.

Conselho

O conselho apresentado pelo executivo para as startups e seus empreendedores é que olhem a responsabilidade financeira e operacional da empresa, em especial para quem estiver queimando caixa, com validação de produto ainda inacabado e para quem não estiver preparado para esse novo mercado. Esses vão sofrer mais. “Ajustes são necessários e você tem muitas maneiras de buscar capital e sustentabilidade para a sua empresa, se concentrando em três pilares: receita, custo ou captação. Crescimento de receita é sempre o melhor capital. Quem não tem condição, tenta mirar em custo ou investimento. Em custos, as empresas já estão mexendo [vide as demissões que estão acontecendo nas companhias de TI]. E, no caso do investimento, continuamos com um volume interessante de capital disponível. Mas ele está disponível para aquelas companhias que fizeram a lição de casa. Tem capital de fundo disponível, tem venture debt, que é sempre uma alternativa e os próprios bancos. Mas é importante que o empreendedor entenda o momento e tente se adaptar de maneira rápida”, diz.

Lá fora, com impactos no Brasil também, as big techs passaram a demitir dezenas de milhares de pessoas. “Existe uma clara restrição de capital, os empreendedores e os fundos favoreciam o crescimento em detrimento da rentabilidade. Mas agora, dada a restrição de capital, o mundo está preferindo rentabilidade em detrimento de crescimento”, explica o CEO do Distrito.

Segundo Gierun, destacam-se aqui os empreendedores que continuarem crescendo a taxas atrativas, mas de maneira rentável, com sustentabilidade financeira e operacional. “Os fundos estão em busca disso, ou seja, de empresas que estão com uma certa maturidade em produto e que conseguem demonstrar com segurança seus números e a saúde financeira da operação”, resume.

Verticais

Entre as verticais que o CEO do Distrito acredita que vão se destacar neste ano estão as fintechs – cujo histórico de investimento é forte, além de haver mais desenvolvimento em regulação e produtos personalizados. As healthtechs também devem ganhar mais espaço. “A saúde já vinha com aumento em investimento, mas o Brasil tem um problema crônico em saúde e é um mercado grande onde a tecnologia pode ajudar em diversos sentidos”, resume.

 

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