Discriminação, racismo, falta de representatividade, transformações no trabalho são temas inerentes à sociedade e isso acaba se refletindo na inteligência artificial. É o que acredita Gabriela Ramos, diretora-geral adjunta de Ciências Sociais e Humanas da Unesco, que abriu os trabalhos do segundo e último dia do Fórum Global de Ética na IA 2024, nesta terça-feira, 6, na Eslovênia.
A especialista questionou a rapidez das mudanças no mercado de trabalho, com a criação de novas profissões, assim como o desaparecimento de outras.
“Novos trabalhos estão sendo criados e talvez estejam aparecendo mais tipos de trabalho do que aqueles que estão desaparecendo. Mas quem está preparado? Estudos mostram que o aperfeiçoamento de habilidades e a requalificação não estão alcançando aqueles que mais precisam. Essa é a questão: o mercado de trabalho está mudando e o que vamos fazer para deixarmos de ver desigualdades aumentando?”
Ramos reforça que ainda existem as desigualdades intrínsecas aos modelos de negócio das empresas. Cita um estudo que mostra que 80% dos investimentos gerados ou vinculados à IA são provenientes dos Estados Unidos ou da China. Por outro lado, 50% da população mundial não tem acesso a uma Internet estável. Com esses contrapontos, como tornar a IA mais inclusiva?, perguntou.
“A questão não é tornar a IA ética, mas nós sermos éticos, a sociedade ser ética”, completou.
Ramos comentou também sobre a falta de representatividade no desenvolvimento da inteligência artificial, em especial quando se trata de mulheres no comando de empresas criadoras de IA. “A falta de mulheres em posição de comando é um dos reflexos dos gaps que temos na nossa sociedade. No fim, a tecnologia só representa o que somos”, resumiu. Para corroborar com sua fala, a diretora-geral adjunta de Ciências Sociais e Humanas da Unesco citou um estudo que mostra, sem surpresas, que mulheres gerentes ou CEOs em companhias de IA representam apenas 18% do total. “O que é muito abaixo dos 30% em outros setores da economia. E isso é um problema”, criticou.
“Com o avanço dessas tecnologias avançam também a discriminação contra aqueles que não são representados enquanto essas tecnologias são cada vez mais usadas para tomar decisões. E temos orgulho de que a recomendação em ética na IA da Unesco aborde essa visão – porque não há nada mais antiético do que ser desigual”, completou.
Gabriela Ramos, diretora-geral adjunta de Ciências Sociais e Humanas da UNESCO, que abriu os trabalhos do segundo dia do Fórum Global de Ética na IA 2024. Imagem: reprodução de vídeo