| Publicado originalmente no Teletime | Desde o Mobile World Congress em fevereiro, existe uma expectativa de que a Anatel possa reconsiderar a destinação de 1.200 MHz na faixa de 6 GHz para uso não licenciado, como Wi-Fi 6E. Na opinião do diretor de relações públicas da Cisco, Giuseppe Marrara, essa questão teria sido mais como um aviso da agência para que as empresas acelerem a adoção desse espectro. “Acho que é papel da Anatel estar constantemente revisando e pensando melhor o uso de espectro, mas acho que aquilo lá foi um ‘call to action’ para a gente adotar e acelerar”, destacou o executivo durante painel do Fórum de Operadoras Inovadoras nesta quarta-feira, 6. O evento é organizado por Mobile Time e Teletime.
Presidente da Brisanet, José Roberto Nogueira participou da audiência justamente levantando a questão, lembrando que a Anatel poderia reduzir a capacidade para 500 MHz. No entendimento do executivo, o maior problema para os provedores regionais é a última milha; mais precisamente, dentro de casa. “A Brisanet defende que os 1.200 MHz sejam exclusivos para os últimos metros [com o WiFi]. No call center, 90% das queixas são para resolver problema de conectividade dentro da casa”, coloca Nogueira, relacionando uma melhora da confiabilidade da conexão. A expectativa é que a maior capacidade do WiFi 6E, com 60 canais, resolveria não só a demanda de banda, mas também o alcance interno, já que possui penetração melhor em objetos sólidos (como paredes), sem o ruído no sinal da faixa de 5,8 GHz, por exemplo.
Marrara foi efusivo em resposta a Nogueira: “Amém, você está certíssimo”, declarou. Ele diz que a capacidade total da faixa tem valor social e permite a competição no mercado. “A posição da Cisco é que tem que manter os 1.200 MHz. Somos tão a favor disso que construímos uma fábrica para equipamentos locais para usar essa capacidade.” De acordo com o diretor da Cisco, há ainda um impacto para o futuro WiFi 7, que chega em 2024, caso a agência decida reduzir o espectro destinado. “Inviabiliza o WiFi 7, e começamos a ficar alijados.”
Outra questão trazida por Marrara é a de que não seria do melhor interesse para o País reduzir para apenas 500 MHz na faixa porque, segundo ele, deixaria os 700 MHz restantes “reservados” para as operadoras. “Para, quem sabe, em 2028, decidir se vai querer ou não, para depois começar um processo igual ao que foi feito com o 3,5 GHz, porque esse espectro de 6 GHz é somente para uso indoor”. Dessa forma, teria que fazer limpeza da faixa que é usada por satélites (no uso para serviço móvel). “Foi isso que discutimos com a Anatel, sobre o valor econômico da conectividade em última milha, o valor social do espectro com uma tecnologia muito mais democrática e que chega [na adoção] muito mais rápido.”
Homologação
Uma das queixas do regulador é a falta de hardware no mercado. Marrara argumentou que isso ocorreu justamente no momento em que houve a crise mundial da cadeia de fornecimentos, mas que mesmo assim a indústria está se mobilizando. “De fato, a Anatel fez o apontamento que está demorando, muito por conta da falta de componente. Mas 2022 vai ser o ano do WiFi 6E”, declarou, citando demanda de provedores por aparelhos compatíveis (tribanda) ou ao menos atualizável por software para receber futuramente compatibilidade com o 6 GHz.
Outro ponto que deverá aumentar a demanda é a oportunidade de fornecimento do WiFi 6E como offload, especialmente do 5G. Segundo dados da Cisco, o tráfego despejado na rede por espectro não licenciado passou de algo entre 12% e 15% há cinco anos para atuais 50%. “Quando se fala do 6 GHz, a experiência continua a mesma do 5G. Há complementariedade entre os dois, principalmente de dados consumidos.”