|Mobile Time Latinoamérica| O fair share é um conceito utilizado no setor de telecomunicações que propõe que grandes plataformas digitais geradoras de tráfego, como Netflix, Google, Meta e Amazon, participem ou coparticipem no desenvolvimento da infraestrutura de telecom. Esse debate está ganhando força em países da América Latina e foi abordado no Andicom 2024, com a participação de especialistas e principais líderes das operadoras na Colômbia.

No painel intitulado ‘Inovação e Equidade: Explorando o Fair Share em Telecom’, especialistas do setor, como Lucas Gallito (GSMA), Raúl Echeberría (ALAI) e Christian O’Flaherty (Internet Society), discutiram os desafios e riscos que a regulamentação do tráfego de internet pode implicar.

Os palestrantes concordaram sobre a importância de defender a neutralidade da rede, alertando que uma intervenção regulatória poderia distorcer o ecossistema digital e prejudicar os usuários finais. Melissa Horwitz, representante do Departamento de Estado dos EUA, expressou preocupação com a confusão entre conectividade e controle de tráfego. “Uma regulamentação apressada poderia discriminar certos provedores e prejudicar os usuários”, afirmou.

Por outro lado, Lucas Gallito alertou sobre a escassez do espectro e a necessidade de gerenciar eficientemente esse recurso. “70% do tráfego é gerado por três grandes plataformas, que monetizam através da publicidade. Precisamos encontrar mecanismos para que essas empresas contribuam de maneira justa”, pontuou.

Por fim, Christian O’Flaherty ressaltou que, embora o debate sobre o fair share tenha mais de dois anos na Europa, ainda não foi alcançada uma conclusão definitiva. “Não estamos em condições de implementar uma regulamentação que penalize o tráfego, e é crucial proteger a neutralidade da rede”, concluiu.

A visão dos líderes de telecomunicações sobre o fair share

Do ponto de vista das empresas de telecomunicações, o debate continua focado no equilíbrio do uso das redes. No painel intitulado ‘Liderando a Conectividade do Futuro: Inovação, Desafios e Oportunidades’, participaram líderes das principais operadoras da Colômbia, como Fabián Hernández, CEO da Telefónica Movistar; Carlos Blanco, CEO da TIGO; e Ramiro Lafarga, CEO da WOM, e o tema do fair share também foi discutido.

Alex Blanco, CEO da ETB, destacou a necessidade de equilibrar o uso das redes. “Embora não tenhamos grande força financeira, somos a empresa que mais investe em relação às receitas que recebemos. Acreditamos que é justo que os geradores de conteúdo contribuam para fechar a lacuna digital”, afirmou.

Por sua vez, Rodrigo de Gusmao, CEO da Claro, sublinhou os desafios tributários enfrentados pelo setor. “Um dos grandes problemas é a alta carga tributária que suportamos. Além disso, 60% do tráfego em nossas redes é gerado por plataformas de streaming, que não contribuem para o desenvolvimento da infraestrutura de conectividade”, acrescentou.

Fabián Hernández, CEO da Telefónica Movistar, focou na importância de flexibilizar a regulamentação para sustentar o crescimento da indústria. “Os operadores assumem a maior parte dos custos, embora não gerem o tráfego. É necessário repensar o marco regulatório para garantir que a indústria seja sustentável”, explicou.

Carlos Blanco, CEO da TIGO, destacou o paradoxo enfrentado pelo setor: “É a única indústria em que a demanda cresce a cada dia e, ao mesmo tempo, espera-se que as tarifas diminuam. Isso representa um desafio importante para nós, e é fundamental resolver o tema do fair share o quanto antes”.

Atualmente, o setor de telecomunicações na Colômbia está enfrentando diversos desafios em sua sustentabilidade, o que obriga as empresas a buscar alternativas para cumprir com os compromissos de conectividade e implementação do 5G. No encontro, os executivos alertaram sobre os desafios que o setor enfrenta, como a necessidade de regular o tráfego na rede e os altos custos energéticos, que afetam a sustentabilidade das operações.