A HMD trouxe de volta conceito de smartphone modular nesta semana com o lançamento do handset HMD Fusion. Apresentado durante a IFA em Berlim, Alemanha, o equipamento tem uma série de módulos que permitem ao usuário customizar o smartphone ao seu gosto.
Batizados como Smart Outfits, os módulos são aplicados na parte do trás do device. Entre eles estão:
- Anel de luz (ring light, no original em inglês) para selfies ou vídeos com a câmera frontal, o Flashy Outfit;
- Carregador wireless, o Wireless Outfit;
- Controle gamer que é aplicado nas extremidades da tela;
- Capa robusta para proteção, o Rugged Outfit.
Também há uma alternativa com três capas coloridas (azul, verde e rosa), o Casual Outfit, uma opção modular para a pessoa combinar com suas roupas e para proteger de batidas e impactos.
Configuração e disponibilidade do HMD Fusion
O handset também se destaca pela câmera principal dupla com 108 MP e 2 MP, além de 50 MP da câmera frontal. Com tela de 6,56 polegadas e chipset Snapdragon 4 Gen 2, o HMD Fusion tem em sua configuração:
- 128 GB de armazenamento;
- 6 GB de RAM;
- Android 14 e atualização para mais duas gerações do sistema operacional;
- Bateria de 5.000 mAh;
- Conectividade 5G.
Inicialmente chegando ao mercado europeu, o dispositivo está disponível por 200 libras esterlinas e 250 euros no site da empresa. Os Smart Outfits chegam até o final de 2024. Seus preços não foram revelados.
Análise 1 – histórico
Os smartphones modulares e customizáveis não são novidades no mercado. No Brasil logo no começo do avanço dos smartphones LTE em 2015, a Motorola teve o Moto Maker que permitia customizar o celular Moto G, isso incluía: escolher cores do device e da capa, ampliar o armazenamento e a memória RAM, escolher se teria o sinal de TV Digital (OneSeg) e até funções triviais, como gravar o nome na parte trás e definir o papel de parede.
Em 2017, a Motorola lançou então os Moto Z com os módulos Moto Snaps que incluíam, por exemplo, caixa de som da JBL, câmera Hasselblade, TV Digital e bateria extra. Uma aposta para se manter ativa no público que buscava por dispositivos premium e diferenciados.
Mas a fabricante basicamente matou a iniciativa entre 2019 e 2020, após lançamento do Moto Z4. Em um primeiro momento enxergaram como público-alvo os norte-americanos que consumiriam mais no 5G, e decidiram retirar o produto do Brasil. Mas o avanço das câmeras múltiplas nos devices e a chegada dos smartphones dobráveis afundaram qualquer chance da família Z voltar.
Antes de sair do mercado de celulares em 2020, a LG também experimentou smartphones com módulos de som, bateria e câmera extra com o LG G5. Mas entrou no rol de projetos inovadores que não vingaram da sul-coreana, ao lado do smartphone com tela curva, de duas telas e com biometria de veias.
O LG G5 fazia parte do Projeto Ara do Google. Uma iniciativa criada em 2013 quando a big tech era dona da divisão móvel da Motorola e que foi alimentada por patentes de outra aquisição, a israelense Modu. Um ano depois, o Google repassou a fabricante para a Lenovo por R$ 2,9 bilhões, o que começou a tirar força do Ara. Dois anos depois, o projeto foi cancelado.
Análise 2 – mercado
Vale lembrar que uma andorinha não faz verão. A iniciativa da HMD é válida para se diferenciar em um mercado que está cada vez mais escasso de novidades. Da morte dos modulares até agora, as novidades de destaque nos celulares podem ser contadas com os dedos de uma mão:
- Múltiplas câmeras;
- Smartphones dobráveis;
- 5G;
- Comunicação satelital D2D (que ainda não avançou);
- Inteligência artificial generativa.
Sim, os celulares ficaram mais parrudos em memória, tela, capacidade computacional e gráfica. Um avanço natural. Mas são poucas as funcionalidades que justifiquem aparelhos que façam a pessoa largar o modelo antigo ou até investir valores similares para comprar (ou dar entrada) em bens duráveis, como um carro, um eletrodoméstico ou um imóvel. O reflexo é a atual estagnação nas vendas oficiais dos celulares e avanço do mercado cinza.
A aposta da HMD é louvável. Mas a companhia vai encarar as mesmas dificuldades de LG e Motorola, como o fato que é uma iniciativa solo, não tem outros grandes fabricantes fazendo, e o mais importante: não há um padrão para modulação e customização de dispositivos.
O ideal seria que outras marcas adotassem a mesma ideia e que houvesse um padrão de mercado para esses módulos, para que funcionassem de maneira interoperável. O conceito de ceular modular confere poder de escolha ao usuário. Dar a possibilidade de a pessoa ter o celular que realmente quer. E não apenas um mercado de capas e cores como é hoje.