O secretário-executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (Conselhão) do Ministério das Relações Institucionais, Paulo Pereira, acredita que o Brasil está em uma posição “neutra”, ou seja, sem caminho definido, em relação ao desenvolvimento da regulação de inteligência artificial e dos avanços de uma estratégia digital. Durante a Abes Conference nesta segunda-feira, 6, Pereira afirmou que o Brasil perdeu o ímpeto em ser uma grande potência e explorar temas de ponta, como IA. Mas crê que o momento é oportuno e ainda há tempo de recuperar esse papel.
“Particularmente, eu acho que sociedade e governo (brasileiro) estão aquém do desafio (regulação da IA) em comparação com o cenário global. Não vejo as pessoas preparadas para isso. Falta um pouco de ousadia que deveríamos ter como País. O Brasil perdeu um pouco da crença em si, parece que desistiu de ser um país grande”, disse o secretário-executivo, ao comparar com a crença que existia nos anos 1970.
“Isso não vai sair apenas do governo ou da sociedade. Nós (brasileiros) precisamos recuperar e conquistar a vontade que o Brasil não fique para trás nesta transformação (digital), ao unir governo e sociedade, mas tendo a ousadia de pensar ‘por que não nós’. Se vários países estavam fora do capitalismo anos atrás e chegaram, por que não podemos fazer isso?”, questionou.
Priscila Reis, advogada especializada em tecnologia, cofundadora da Layer Two consultoria, afirmou que o Brasil “precisa ampliar o diálogo, entender os temas e se unir” para que o País evolua no uso de tecnologias, como a IA. Em sua visão, um dos motores para alavancar esse momento é a discussão da educação, inclusive sobre a possibilidade de adoção de soft skills e outras capacidades voltadas às novas tecnologias.
Para Eliana Emediato de Azambuja, coordenadora-Geral de transformação digital no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, as participações internacionais do Brasil em órgãos como Unesco, G20 e OCDE mostram que o País não está muito atrás de outros. Cita como exemplo ações de saúde digital, governo digital, OpenRAN, semicondutores e IA. Azambuja lembra ainda que na próxima reunião do G20, que deve ocorrer no ano que vem no Rio de Janeiro, o tema da economia digital, conectividade, plataformas digitais e IA terá a discussão liderada pelo MCTI.
Vale lembrar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu da Índia a presidência do grupo em setembro deste ano.
E o diretor-executivo do Instituto Millennium, Diogo Costa, acredita que “temos oportunidade” e vê com otimismo a construção desse futuro. Um exemplo que deu foi o “salto do governo digital”, a partir do Gov.Br e da digitalização de seus serviços, ao atingir o segundo lugar de governo digital no ranking do Banco Mundial: “A sociedade brasileira é muito tecno-otimista. Ela abraça novamente as tecnologias. Usa seus negócios. Ela começa a usar o áudio do WhatsApp antes do grande executivo”, disse Costa.
Imagem principal: Paulo Pereira, secretário-executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (Conselhão) do Ministério das Relações Institucionais (reprodução: Abes/YouTube)