O lançamento da loja do Kindle nesta quinta, 6, no Brasil, marca um novo momento do mercado brasileiro de livros eletrônicos. A Amazon não está sozinha nesse novo nicho com alto potencial de crescimento: o Google também anunciou a venda de livros na sua loja virtual, seguindo os passos da Apple, que desde o fim de outubro disponibiliza livros digitais na App Store.

As grandes editoras brasileiras parecem estar bastante satisfeitas com o novo momento do mercado: “A Amazon, assim como a Apple e o Google, é um excelente canal de vendas dentro dessa vertente que é o e-book”, afirmou Sérgio França, coordenador editorial da Record. No entanto, o entusiasmo com a chegada desses gigantes ao Brasil só é possível após uma longa batalha sobre o modelo de negócios nas vendas das lojas virtuais e da coordenação entre grandes editoras pela Distribuidora de Livros Digitais (DLD), desde 2011. Já pensando na futura chegada da Amazon, da Apple e do Google no Brasil, Record, Objetiva, Planeta, Sextante, LPM e Rocco uniram esforços para que vigorasse o chamado “modelo de agência” nas vendas virtuais, em contraposição ao “modelo de distribuição”, preponderante no mercado norte-americano, por exemplo.

No primeiro caso, são as editoras que determinam o preço do e-book, em geral 30% mais barato que a versão impressa, enquanto que pelo segundo modelo, o de distribuição, as lojas virtuais compram das editoras e podem vender aos usuários pelo preço que quiserem. De acordo com França, esse segundo modelo pode ser extremamente predatório para todos os setores envolvidos na produção de livros.  “O preço do livro não deriva só do papel, mas de uma cadeia enorme de colaboradores. Vender livros por dois ou três dólares, como é feito nos Estados Unidos, poderia acabar com todo o ecossistema editorial”, explicou o coordenador editorial.

A fim de conseguir o acervo das grandes editoras reunidas na DLD, a Amazon teve que aceitar que vigorasse no Brasil um modelo de vendas distinto daquele que predomina nos Estados Unidos. “Foi uma grande batalha da qual saímos vitoriosos”, disse França. Para ele, a vantagem do mercado editorial brasileiro foi ter aprendido com o caso norte-americano: “Tivemos a chance de nos preparar”. Para cada e-book vendido, 35% do preço fica com as livrarias virtuais. As editoras ficam com o valor líquido restante, descontada a parcela do distribuidor digital. 25% do valor que cabe às editoras é repassado para os direitos autorais. “Com e-book, escritores ganham o mesmo valor em direitos autorais que nos livros impressos”, assegura França.

Venda de livros digitais ainda é baixa

Apesar da chegada dessas grandes livrarias virtuais, o mercado de livros eletrônicos no Brasil ainda é pouco representativo. Contudo, França acredita que as vendas da loja do Kindle, da App Store e da Google Play podem ser bastante estimulantes: “As vendas de e-books da Record ainda são irrisórias, muito porque a base instalada para leitura do e-book ainda é mínima no Brasil. Mas grandes players podem catalisar uma mudança no mercado. Já sentimos um crescimento bem significativo desde a chegada da Apple. Com a Amazon, a Apple e o Google, o consumo de livros digitais tende a dar um salto”, afirma.

Diante da transformação no mercado editorial, são cada vez mais comuns contratos que preveem o lançamento simultâneo de versões impressa e digital dos livros. Se em 2012, 40% dos livros da Record podem ser vendidos no formato eletrônico, em 2013 esse percentual deve ficar entre 50% e 60%. Segundo França, a estimativa é que, até 2015, 100% dos contratos prevejam a edição de e-books.
 

 

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