Quem já passou ou ainda está curtindo a vida de estudante universitário sabe o desafio que é o processo da escolha do curso. Antes mesmo de prestar o vestibular, todos os jovens se pegam pensando em qual curso fazer. Nesta época, muitas coisas passam pela cabeça: será que vou querer trabalhar com isso o resto da vida? E se eu desistir e quiser mudar de ideia no meio do curso? O salário vai ser o suficiente para bancar o que eu quero alcançar nos próximos anos? Enfim, são tantas as questões que muitos chegam a procurar ajuda com orientadores vocacionais.
E não poderia ser diferente no mercado mobile. Os jovens que querem investir nessa área sempre ficam em dúvida: faço uma faculdade de Análises de Sistemas e depois me especializo ou já parto para um curso técnico mobile? Mas antes de responder, vamos entender como tudo aconteceu.
A história do Brasil mostra que o surgimento das escolas técnicas e universidades se deram quase que concomitantemente. Foi com um decreto que em 1909 o presidente Nilo Peçanha deu o marco inicial no ensino profissional e tecnológico no país. O ato tinha como objetivo a criação de 19 escolas de aprendizes, que ofereciam ensino técnico para a inclusão de jovens carentes no Brasil. De lá para cá, muita coisa mudou. Uma recente pesquisa feita pela Fundação Itaú Social aponta que a educação profissional, que oferece cursos técnicos durante o período do Ensino Médio, cresceu 74,9% no Brasil entre 2002 e 2010.
Com o tempo, também foram se desenvolvendo os cursos técnicos profissionalizantes, que são aqueles que não necessariamente precisam ser feitos no Ensino Médio. Muitas pessoas, de diferentes faixas etárias, optam por esse tipo de capacitação para ampliar o conhecimento na sua área de atuação, mudar de profissão, ou simplesmente para conseguir uma renda extra atuando em outro mercado.
O MEC fez recentemente um estudo que aponta que 70% dos técnicos recém-formados conseguiram uma contratação para atuar na área de formação menos de um ano após a conclusão do curso. Muitos jovens conseguem uma bolsa de estudos a partir de programas governamentais, mas há aqueles que buscam por conta própria, principalmente quando são cursos mais específicos.
Já as universidades, que começaram a surgir por aqui em meados de 1912 com a chegada da Família Imperial no país, tiveram um significativo crescimento nos últimos anos. O ensino superior se popularizou e, só em 2013, obteve mais 7,3 milhões de matrículas segundo o Censo da Educação Superior divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Para quem quer se especializar na área de tecnologia, as opções são muitas: Tecnologia da Informação, Engenharia da Computação, Estatística, Sistema da Informação, Ciência da Computação, entre outros.
Agora voltando à questão: qual é a melhor opção – escolher um curso técnico ou fazer uma graduação? Pela minha experiência, acredito que isso depende do que você espera do treinamento e quais são suas metas profissionais.
Os cursos universitários têm maior duração e abrangem não somente as questões mais técnicas, como também toda a teoria que permeia a prática. Isso possibilita que o profissional atue não somente com programação e desenvolvimento mobile, como também lecionando em cursos universitários e técnicos posteriormente. Além disso, a graduação permite que o profissional consiga obter outras especializações no futuro, como mestrado e doutorado.
Já vi casos de pessoas que temem entrar em uma graduação na área de tecnologia por não se sentirem um “Steve Jobs”. Ou seja, há quem pense que para se matricular nessas graduações é preciso ser como Will Hunting, o personagem interpretado por Matt Damon em “Gênio Indomável”, que conseguia fazer cálculos dificílimos em questão de segundos. É claro que é fundamental ter uma certa habilidade, afinal, serão no mínimo quatro anos de estudos e isso exige muito empenho e interesse por cálculos, métricas e afins para conseguir concluir o curso.
Por sua vez, os cursos técnicos são realmente mais voltados à prática, e por isso, costumam atender melhor às necessidades de quem já tem intimidade com a área. É claro que há cursos introdutórios para quem não tem nenhum tipo de conhecimento – estes, aliás, são uns dos mais buscados em decorrência do crescimento do mercado mobile no Brasil –, mas eles possuem uma concepção muito mais mercadológica do que um curso de graduação. O fator tempo também é um ponto bem positivo para estes cursos, pois a maioria costuma durar no máximo três meses. Em síntese, se o seu objetivo é conseguir se especializar em um curto espaço de tempo para entrar no mercado de programação, esta pode ser uma ótima opção.
Assim como as universidades, os cursos técnicos vêm crescendo e abrindo mais opções de especializações para nichos cada vez mais específicos. Isso faz inclusive com que algumas pessoas graduadas há algum tempo acabem recorrendo a eles para se atualizar e não ficar para trás no mercado. Um exemplo são os cursos de iOS que utilizam a linguagem de programação Swift. Há muitos profissionais já estabilizados que os procuram, pois sabem que a tendência é que a Objective-C seja cada vez menos utilizada.
Acredito que independentemente da área de atuação, não há uma modalidade melhor ou pior que a outra. E sim circunstâncias em que um curso de graduação pode ser melhor que um técnico, e vice-versa. Depende muito das perspectivas profissionais de cada um. No fim, um acaba complementando o outro. Penso que quem sai ganhando com essa gama de opções são os profissionais, que têm cada vez mais possibilidades para alcançarem seus objetivos. Meu conselho é: pesquise, avalie quais são suas metas e quanto tempo você está disposto a esperar para colher os frutos do seu estudo. O mercado está em expansão – segundo o Gartner, em 2015 o setor de aplicativos móveis vai movimentar cerca de R$ 88 bilhões no mundo todo –, e vagas não estão faltando para quem tem capacitação.