IDEMIA; Idemia

Diego Cecchinato, vice-presidente sênior de operações móveis na América Latina e country manager do México da Idemia

A América Latina precisa avançar na regulamentação do uso da tecnologia biométrica e dos dados biométricos, sejam eles digital, facial, de íris, voz, pulso sanguíneo ou comportamento. Para Diego Cecchinato, vice-presidente sênior de operações móveis na América Latina e country manager do México da Idemia, a biometria chegou para ficar e sua adoção é inevitável. O executivo estima que as empresas, inclusive as pequenas, a adotarão não apenas para reduzir o número de fraudes como também para conhecer melhor o cliente. “É uma forma de salvaguardar a empresa, mas também o cliente”, afirmou em entrevista para Mobile Time. E se, a impressão digital é a queridinha do momento, a facial deverá escalar nos próximos anos por ser fácil de implementar e, dependendo da tecnologia, requerer apenas de um smartphone. Como exemplo, Cechinato contou que uma operadora mexicana cliente da Idemia adotou o reconhecimento facial e o índice de fraudes caiu de 35% para 6%. “Quando pedem a biometria, o fraudador pensa duas vezes”, diz. E, se a busca para a identificação acontece em um banco de dados governamental, ela é ainda mais eficiente, acredita.

Mobile Time – A partir do seu olhar que engloba toda a América Latina, como está, no momento, o uso das diferentes formas de biometria?

Diego Cecchinato – Quando aparece uma nova tecnologia existe uma falta de timing entre a aplicação dessa nova solução e a regulação do mercado. Sempre a tecnologia vem primeiro. Hoje em dia, estamos nesse processo (no caso da biometria). Ela está disponível e em alguns países a tornam obrigatória para questões governamentais como para tirar documentos de identidade, passaporte, licença para conduzir – vai depender de cada país. E isso está acontecendo sobretudo no setor financeiro. Muitas regiões estão explorando a necessidade de se ter uma identidade biométrica para abrir uma conta. No México, por exemplo, é usada a biometria digital, mas algumas instituições financeiras incluem o reconhecimento facial (como um segundo fator de segurança).

Em telecomunicações, todos os países têm a obrigação de ter um registro de quem comprou uma linha – normalmente com uma cópia de um documento. Mas isso não é suficiente e gera fraudes. O único país que tem uma exigência legal na América Latina é o Peru. Não se pode comprar uma linha telefônica se não tiver um registro biométrico digital validado pelo ente que regula a identidade da população. Nos demais países não existe uma regra clara.

Mas muitas operadoras estão caminhando com esse processo e pedindo uma validação biométrica. Fundamentalmente porque o número de fraudes é enorme. O dado que darei, mas que não é oficial, mostra que o nível de fraude na América Latina está entre 30-35%, o que é muito alto. E a maior parte das fraudes acontecem quando alguém vai comprar um terminal, ou seja, um smartphone novo. Há empresas que oferecem parcelar o pagamento do aparelho e o fraudador paga a primeira cota, mas depois para de pagar, deixando um prejuízo para a empresa. Por isso, a maioria das companhias já estão adotando algum tipo de controle biométrico para diminuir o nível de fraudes.

Há casos no México, por exemplo, onde temos dois clientes. E um deles reduziu o nível de fraudes de 35% para 6%. Quando pedem a biometria, o fraudador pensa duas vezes. Há uma validação feita em uma base de dados oficial (do governo). Existem muitas operadoras que estão implementando. Se você tem a biometria, mas não a valida em uma fonte oficial, ela fica enfraquecida.

Quanto à biometria facial, ela é relativamente simples e mais econômica de se implementar. Porque, para a digital, em cada loja, precisa ter um equipamento de leitura da digital. Com a facial, basta um celular com um app para validar a face do cliente. Essa validação pode acontecer em um banco de dados do governo. E os dados podem ser guardados por nós, Idemia, ou pela empresa. Assim, cada vez que o cliente entra em contato, terá que validar sua identidade. Mas, lembrando, isso não é obrigatório em nenhum lugar no mundo, apenas no Peru.

Ainda vai levar uns anos para  entendermos qual a melhor prática para diminuir as fraudes. O problema é que o roubo de identidade vai ser um dos delitos com maior frequência em todo o mundo nos próximos anos.

Qual a biometria mais popular?

Para a Idemia, a biometria digital é a mais usada. Porque é a mais antiga, é usada  em diferentes cenários e formatos. E é a mais confiável já que tem um nível muito avançado de tecnologia em capacidade de reconhecimento. Mas há alternativas como as biometrias de voz, facial e de íris. A facial tem a vantagem que pode ser facilmente utilizada e é mais barata.

No caso da Idemia, a empresa desenvolveu a solução chamada MFace. Não se trata de um aplicativo ou um SDK para ser usado em aparelhos celulares, mas um equipamento próprio que foi desenhado especificamente para essa função. O MFace tem uma capacidade de reconhecimento mais apurada que um celular. Claramente a tecnologia de reconhecimento facial será o próximo degrau a ser implementado porque acelera muito os processos.

A tecnologia da Idemia (MFace), por exemplo, está presente em todo o circuito do aeroporto Changi, de Singapura. Na primeira vez do passageiro, ele se cadastra e, a partir daí, não é necessário apresentar mais o passaporte. Basta caminhar pelo aeroporto que está equipado com a tecnologia de reconhecimento facial da empresa. A estimativa é que o percurso feito pelo passageiro, da entrada do aeroporto até a porta da aeronave, seja de 12 minutos, graças ao reconhecimento facial, que proporciona uma experiência muito mais rápida em qualquer processo administrativo ou comercial.

Como foi para a Idemia participar dos pilotos realizados nos aeroportos aqui no Brasil?

Os aeroportos são um ponto focal para a Idemia. A empresa tem a tecnologia mais avançada e desenvolvida com foco em identidade para governos, agências de investigação e aeroportos. A tecnologia de reconhecimento facial e identidade está fundamentalmente baseada e vinculada à segurança de um país e os aeroportos são um ponto nevrálgico porque têm uma relação entre o mundo privado e público muito forte e as exigências de segurança são muito altas. É um ponto importante para Idemia e estamos participando dos pilotos que estão acontecendo nos aeroportos do Brasil para levar o reconhecimento facial.

A tecnologia é a mesma do aeroporto de Singapura. Mas sua implementação depende do que for requerido pelos aeroportos. Será basicamente a identificação de passaporte e pessoas, além de reconhecimento facial preventivo, ou será algo massivo, com todos os passageiros precisando se cadastrar obrigatoriamente previamente para poder passar? Outros países estão implementando, como a Colômbia. Alguns usam como uma opção adicional e outros como a única opção. Essa será basicamente a diferença: se o país permite, você vai com o seu passaporte, normalmente, e também pode fazer em formato autoassistido, que seja digital, facial ou íris, com o registro prévio. Mas há também a possibilidade de que a biometria seja a única forma de passar. No final, terminaremos assim. A pergunta é quando. A única diferença é a velocidade de implementação da tecnologia.

A pandemia causou uma mudança de comportamento humano e uma mudança na forma de relacionamento entre pessoas e entidades ou instituições. Tudo o que tem que a ver com a segurança de uma conexão e em como gerar a unicidade de uma pessoa e validar as suas informações será chave. A biometria terá um avanço enorme no mundo corporativo e público nos próximos anos e vai gerar impacto grande no comportamento de como as pessoas se relacionam com empresas, governo ou instituições. A pandemia foi a aceleradora disso.

Qual o futuro da biometria? Como a pandemia acelerou sua adoção?

A pandemia acelerou o processo. Estamos trabalhando há muitos anos sobre como chegaríamos à digitalização. Ela viria lentamente, com opções tardias. Havia uma certa resistência por parte de empresas e população. E o que a pandemia fez foi acelerar todo o processo. A pandemia rompeu com essa barreira. As fraudes aumentaram muito e a implementação dessa tecnologia para combatê-la se fez urgente.

Na América Latina, quase todas as empresas privadas estão implementando um processo da tecnologia biométrica para identificar seu cliente. Não apenas para resolver o problema de fraude, mas para conhecer melhor seu cliente, ter um canal de conexão com ele mais fluido e também para poder reduzir o indício de ação fraudulenta e proteger tanto a conta do cliente quanto a conta da empresa. Sem dúvida é uma ida sem volta e o uso da tecnologia biométrica será, nos próximos anos, algo muito comum entre todas as companhias.

Muitos bancos e fintechs já te pedem uma validação biométrica inicial para poder ter um cartão de crédito, ou uma carteira de serviços, por exemplo. É um padrão que será adotado muito mais rapidamente pela população.

Como está a utilização da biometria vocal?

A biometria de voz começa a ser usada majoritariamente por bancos, para reconhecimento do cliente no call center. Aliás, o mundo do atendimento ao cliente está usando muito essa biometria. E, ao ir presencialmente em uma agência ou loja, usam-se as biometrias digital ou facial. Tudo vai depender de qual canal se está usando.

A tecnologia biométrica poderá ser adotada por pequenas empresas?

Sim. Há muitas opções biométricas e acesso ao serviço. Dez anos atrás a biometria era praticamente exclusiva para uso das forças de segurança de um país, FBI, Interpol, por exemplo. Mas já se espalhou para estados, municípios e muitas companhias. Os custos baixaram muito e há uma grande gama de opções, além de ter melhorado a qualidade.

 

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