Em países emergentes como o Brasil, muitas pessoas não conseguem comprar um smartphone de alto padrão, ainda que parcelado, porque não possuem um bom score de crédito. Por conta disso, a compra acaba sendo negada. No entanto, muitos não são devedores: apenas carecem de um histórico financeiro que lhes confira uma boa pontuação. Esse problema pode ser resolvido com uma solução desenvolvida pela startup norte-americana PayJoy, que acaba de chegar ao Brasil. Ela consiste em oferecer o próprio smartphone adquirido pelo consumidor como garantia. Se a pessoa deixar de pagar alguma das parcelas, o smartphone é bloqueado remotamente, tornando impossível a realização de ligações ou o tráfego de dados. A primeira empresa a adotar a solução no Brasil é a varejista Ricardo Eletro, em aparelhos da Samsung e da LG.
A PayJoy nasceu em 2015 e sua primeira experiência foi no México. Lá, seus clientes conseguiram reduzir em 50% o índice de inadimplência, enquanto aumentaram o tíquete médio dos smartphones em torno de 40%. O lucro relacionado à venda de aparelhos, por sua vez, cresceu 100% porque além de vender modelos mais caros aumentou a comercialização de outros serviços, como seguros para o produto, relata Gilberto Lopez, cofundador e COO da PayJoy, em entrevista para Mobile Time. Hoje a PayJoy está presente em 20 países, tendo como clientes varejistas e operadoras.
A solução de bloqueio da PayJoy vem embarcada no smartphone. Isso pode ser feito diretamente na fábrica, em parceria com os OEMs, ou na hora da venda, com os varejistas. A PayJoy licencia o uso para seus clientes, cobrando por handset vendido. As regras para o bloqueio e para a notificação do cliente, assim como as funcionalidades a serem bloqueadas, são definidas por cada parceiro da PayJoy.
Antes de realizar o bloqueio do smartphone de um inadimplente, é necessário que o consumidor seja comunicado. “Alguns parceiros enviam um email duas semanas antes para o consumidor. Outros preferem mandar um SMS ou realizar uma chamada. Nós exigimos que haja transparência. Todos os parceiros precisam ser bem transparentes com seus usuários sobre o bloqueio e os pagamentos”, explica Lopez.
Os parceiros podem integrar-se ao sistema da PayJoy via API ou acessar um painel de controle na web para controlar a solução. Por ali é feita toda a configuração e o monitoramento da base de smartphones vendidos. É possível definir uma lista de funcionalidades, apps ou números telefônicos que o cliente consegue continuar usando mesmo após o bloqueio, como números de serviços de emergência ou do call center do parceiro, por exemplo.
Depois de procedido o bloqueio, o consumidor não consegue mais acessar apps, navegar livremente na Internet, nem fazer chamadas. Ao tentar, é direcionado para uma página do parceiro, explicando o motivo do bloqueio e recebendo informações de como quitar sua dívida e voltar a usar seu smartphone.
Inclusão tecnológica e financeira
Lopez destaca que a solução traz dois benefícios para o consumidor final: permite o acesso à tecnologia, viabilizando a aquisição de smartphones mais modernos, e ajuda também na inclusão financeira das pessoas, pois a partir do momento que o consumidor consegue crédito para comprar um smartphone caro, ele melhora seu score de crédito na praça. “Se conseguir o device com um de nossos parceiros, o consumidor começa a criar um histórico de crédito formal. E aí pode até entrar no sistema bancário ou conseguir um cartão de crédito. No México melhoramos o score de crédito de muita gente”, relata.
Parceiros
Sobre a estratégia de parcerias, o executivo comenta: “Procuramos parceiros que estejam motivados. Geralmente não é o líder ou o vice-líder do mercado. São players mais agressivos, que andam mais rapidamente e que estão focados em executar bem. Neste sentido, encontramos no Ricardo Eletro um bom parceiro para começarmos no Brasil. Queremos ajudá-los a melhorar as vendas e a dobrar seu lucro”, comenta Lopez.
A PayJoy tem focado bastante em parcerias com varejistas. Mas em alguns mercados onde a legislação permite há operadoras interessadas na solução para oferecer aparelhos subsidiados em troca da fidelidade do consumidor: neste caso, o bloqueio acontece caso o usuário troque pelo chip de uma concorrente.