A Enciclopédia Britannica já salvou muita gente, de diferentes gerações, que precisava fazer algum trabalho de história, geografia ou ciências. Com seus diversos volumes de A a Z, nasceu em 1768, na Escócia, com a pretensão de ser o reservatório do conhecimento humano. Com a chegada da Internet, virou CD-ROM para se adaptar aos anos 1990 e, com o tempo, expandiu seu portfólio para escolas, tornando-se uma plataforma e aplicativos. Rebatizada como Grupo Britannica, a companhia atende a mais de 150 milhões de estudantes no mundo e está presente em mais de 100 países, entre eles o Brasil.

O grupo possui quatro unidades de negócio: Britannica Education (EdTech que atende instituições públicas e privadas), Britannica.com (a versão digital da enciclopédia, que pode ser assinada), o dicionário de inglês Merriam Webster e Melingo, uma startup israelense adquirida recentemente voltada para o desenvolvimento de inteligência artificial e que leva IA para dentro do grupo.

“Brinco que trabalho para uma startup de 257 anos”, diz Ana Bartholo, diretora de marketing da América Latina do Britannica Education, em conversa com Mobile Time. “A Britannica tem como core a transformação. Na década de 1990, quando começou a surgir a internet, a Enciclopédia Britannica começou a vir com CD-ROM. Isso tudo faz parte obviamente desse DNA de estar sempre de olho no futuro, pensando em realmente como se adaptar para o mundo. Por isso, a Britannica tem as maiores plataformas educacionais hoje, em inglês, do mundo, com conteúdo, artigos e imagens”, detalha a executiva.

Modelo de negócios

O Britannica Education utiliza o modelo de negócios de licenças (por aluno) e foca no mercado B2B. Os clientes são instituições de ensino – escolas públicas ou privadas. Atualmente, o governo de Minas Gerais liberou a plataforma para mais de 1,6 milhão de estudantes da rede estadual, por exemplo.

A empresa também licencia seus produtos para a rede de idiomas CNA (no caso, ela utiliza o produto de espanhol), para mais de 700 escolas em todo o Brasil, somando mais de 300 mil alunos.

Há ainda entre os clientes da Britannica Education a rede Pueri Domus, Escola Suíça e o grupo Eleva.

A proposta é que as escolas ofereçam uma nova forma de se fazer pesquisa para os alunos. No lugar do Google, um ambiente fechado, controlado, com conteúdo checado e sem fake news.

“Você imagina os alunos, jovens, adolescentes ou crianças fazendo pesquisa no Google, fazendo pesquisa em aberto e a preocupação que isso traz. A Britannica entra para suprir essa necessidade das escolas de oferecerem uma plataforma segura para os seus alunos”, resume.

Importante dizer que, para o mercado B2C, o grupo oferece assinatura da plataforma Britannica Online. Nela, é possível acessar o conteúdo da enciclopédia, ou seja, não é voltado para a educação, mas à informação de forma geral.

Melingo, a IA da Enciclopédia Britannica

A preocupação com desinformação, fontes seguras de pesquisa e checagem dos fatos também levou o grupo a pensar como a inteligência artificial, em especial a generativa, pode ser introduzida em seus produtos sem causar danos à sua reputação. A IA está sendo introduzida com cautela e segurança para que não comprometa a reputação da plataforma.

“O movimento [de inserir IA] está sendo feito de uma forma bastante cuidadosa. Em relação à generativa, existem muitos riscos ainda, tem muito conteúdo sendo gerado indevidamente”, avalia Bartholo.

E, com a devida precaução, o grupo inseriu a IA no Britannica Academy, produto para o ensino superior, onde estão artigos originais e é uma plataforma de pesquisa com fontes primárias – é possível, inclusive, encontrar artigos escritos por Albert Einstein. Neste caso, a inteligência artificial é usada para ajudar e direcionar a pesquisa, usando uma linguagem mais informal.

Hello Britannica

Dentro do guarda-chuva de Educação, a empresa também oferece o Hello Britannica, uma plataforma gamificada de ensino de inglês.

O estudante entra na plataforma, faz um teste de nivelamento e, a partir daí, segue uma trilha conforme as habilidades alinhadas ao quadro comum europeu de idiomas. A ideia é engajar o aluno com conteúdos interativos, mas com qualidade e acessibilidade. E, para os professores, oferece formação e capacitação para o letramento digital para que consigam usar este material em sala de aula.

Entre suas funcionalidades, o Hello Britannica permite que o professor acompanhe o aluno e controle seus estudos por meio de um dashboard, com porcentagem de atividades completas do aluno e que permite comparar o desempenho de cada um em relação à turma. A aplicação sugere mais atividades caso o aluno não alcance um determinado objetivo e possui ferramenta de treinamento da habilidade oral por meio da inteligência artificial – desenvolvida com a participação da Melingo. Ou seja, este é o segundo ponto em que a IA está inserida.

Britannica.com, integração com o Google e os apps

Vale dizer que as plataformas do Education são integradas ao Google sala de aula. As ferramentas disponibilizam artigos e fotos do Britannica e é possível compartilhar esse conteúdo pelo professor com as turmas.

“Todos os conteúdos são cobertos ali, todos os componentes curriculares são encontrados. Os alunos podem fazer pesquisas de geografia, história, artes, educação física, usar fotos, usar vídeos, encontrar gráficos e fotos. Ele é integrado ao Google Maps e todas as informações de cada localidade são apresentadas. Na prática, você entra num país, e ele vai dar a capital, e todas as informações geográficas daquele lugar, com base nos dados da Britannica”, explica.

De seus produtos, o app do Britannica Escola foi desenvolvido para atender ao mercado brasileiro. E o aplicativo Hello Britannica para atender o Brasil e alguns países da América Latina. “Justamente porque a gente sabe que, no Brasil, existe mais celular do que pessoas”, brinca Bartholo. “É um elemento importante e que nos ajuda na distribuição de nossos produtos e a alcançar mais escolas distantes e seus alunos”, comenta.

“O Britannica Escola foi o primeiro produto que teve um aplicativo desenvolvido pela empresa justamente por causa dessa necessidade local, brasileira, de ter o acesso via aplicativo. Em seguida veio o Hello Britannica, que é um produto para ensinar inglês, que também é mais particular dos mercados latinos. Então, ele foi desenvolvido pensando no mercado brasileiro e no mercado latino-americano também”.

O Britannica Escola foi lançado no final de 2024 e já possui duas prefeituras clientes: uma no Maranhão e outra no interior do estado de São Paulo que, juntas, totalizam cerca de 100 mil alunos.

Concorrência

Mas o que faria uma escola adquirir licenças dos produtos do Grupo Britannica e não ficar simplesmente com as plataformas gratuitas? A resposta já foi dada: conteúdo seguro, com checagem dos fatos.

“As pesquisas gratuitas são concorrentes, não tem como negar. Mas quando a gente coloca esse diferencial para as escolas (de fonte segura) e considerando o ticket médio das nossas plataformas, que é muito baixo, elas acabam repensando. Nossos produtos são uma resposta ao debate fato versus fake e mostramos a importância da informação curada”, defende a diretora de marketing.

“Não estamos aqui para brigar com o Google, não é um propósito da Britannica, nem com a Wikipédia. Mas é uma questão de confiabilidade e de segurança. Não há riscos para uma criança pesquisar dentro de uma plataforma da Britannica. Nenhum risco de conteúdo inadequado, de conteúdo inseguro, de bullying, de acesso a grupos e chats e plataformas que ele não possa usar”, resume

E, se não querem brigar com os concorrentes gratuitos, o grupo se junta a eles por meio de um plugin. O Britannica Escola pode ser integrado ao Google em sua versão em inglês. Assim, a pessoa faz a pesquisa no sistema de busca da Alphabet, mas as referências são da Britannica.

“As plataformas da Britannica são atualizadas a cada 20 minutos. Existe um time editorial no mundo inteiro, em vários países. A gente tem uma anedota interna que quando morreu a rainha Elizabeth, a notícia demorou 20 minutos para entrar nas nossas plataformas. Muitos não entenderam a demora, acharam que tinha que entrar rapidamente. Mas existe um processo bastante robusto de checagem de fatos”, conta.

 

*********************************

Receba gratuitamente a newsletter do Mobile Time e fique bem informado sobre tecnologia móvel e negócios. Cadastre-se aqui!