Nas guerras modernas os combates se dão não apenas com soldados, tanques e mísseis. Há também uma batalha virtual, travada nos meios de comunicação para conquistar a opinião pública nacional e internacional. Embora não fira nem mate ninguém diretamente, a guerra da informação pode influenciar tanto o acirramento da disputa quanto a negociação do seu fim. O conflito na Faixa de Gaza este ano marcou a adição de um novo campo de batalha à guerra pela comunicação dos fatos: os aplicativos móveis. Diversos apps para Android e iOS relacionados ao conflito foram criados nas últimas semanas por apoiadores dos dois lados e com os mais diversos propósitos, desde utilidade pública até compilação de notícias, passando por games.
Um dos exemplos que teve maior repercussão na mídia internacional foi o app Red Alert, criado por desenvolvedores israelenses para iOS com o objetivo de informar em tempo real sobre o lançamento de foguetes contra cidades de Israel, com base em dados fornecidos diretamente pelo centro de comando do Exército. Surgiram em seguida outros apps similares para Android e também aperfeiçoamentos do Red Alert original, como o iRon Dome, também para iOS, que envia os alertas de acordo com a localização do usuário e faz uma previsão da área de impacto sobre um mapa. Outro desdobramento foi a integração do Red Alert com o Yo, um app desenvolvido por um judeu norte-americano cujo objetivo inicial era apenas enviar uma saudação ("yo", em mensagem de áudio) para amigos. Foi criado um canal do Red Alert: quem o segue é avisado da chegada de foguetes por um "yo". Esses apps complementam o trabalho das sirenes de alerta sobre os ataques, que nem sempre são escutadas, dependendo de onde a pessoa estiver. A cada alerta, os civis têm poucos minutos, ou mesmo segundos, para buscarem abrigo.
Em vez de um app que alerte sobre os mísseis do exército israelense, os palestinos criaram outro para contar mortos, feridos e casas destruídas. Trata-se do Gaza Under Attack, que faz uma contagem diária das fatalidades da guerra, mas apenas do lado palestino. Nesta quinta-feira, 8, o app informava um saldo de 1.867 mortos, 9.567 feridos e mais de 10 mil casas destruídas. Outro app que agrega informações do conflito com viés pró-Palestina é o Activists for Palestine, disponível para iOS.
Na área de utilidade pública, os palestinos têm o Gaza Electricity Cuts, que ajuda a gerenciar um dos maiores problemas dos habitantes da Faixa de Gaza: os frequentes cortes de luz. O app foi criado em março, antes do conflito atual, mas tornou-se ainda mais útil neste momento.
Games do conflito
Os jogos não devem ter sua importância minimizada, pois, além de entreter, transmitem uma mensagem, por vezes de paz, por vezes de ódio. Chamou a atenção, por exemplo, o Bomb Gaza, jogo para Android que simulava o bombardeio da Faixa de Gaza. O objetivo era acertar os militantes do Hamas e evitar alvos civis. Ficou poucos dias disponível na Google Play, sendo retirado após uma enxurrada de críticas de usuários do mundo inteiro.
A resposta palestina foi o Gaza Hero, também para Android: ao clicar em cima das unidades do exército israelense que se aproximam da Faixa de Gaza, o jogador as transforma em mantimentos, como pães. Há também diversos games similares do lado israelense, nos quais o objetivo é impedir a queda de foguetes disparados pelo Hamas, como o Iron Dome Interceptor e o Israel Under Attack, ambos lançados em julho para Android.
Em busca da paz
São poucos os títulos cujo propósito seja, objetivamente, estimular um acordo de paz e a convivência em harmonia dos dois povos. Merecem destaque dois apps de origem israelense. O primeiro é o Tikvah, que reúne somente artigos e notícias sobre tentativas de buscar a paz para o conflito, provenientes de diversos jornais e sites. O app é um grande mural com esses artigos, todos acompanhados de botões para rápido compartilhamento via Facebook e Twitter.
O segundo é o iNakba, um raro exemplo de app neste contexto que critica as ações de seu próprio povo. Trata-se de um extenso banco de dados sobre os vilarejos palestinos que foram destruídos na guerra de 1948, que deu origem ao estado de Israel e resultou na expulsão de mais de 700 mil palestinos. O aplicativo informa o nome e a localização de cada vilarejo, junto com fotos e vídeos. Lançado em maio, o app foi desenvolvido por uma organização israelense chamada Zochrot.
Histórico
Vale lembrar que Israel é reconhecido internacionalmente como um celeiro de apps inovadores. Lá nasceram alguns títulos de sucesso mundial, como Waze, Moovit, Mobli e Yokee.