O Facelita é um jogo criado por universitários para dar suporte a criação com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Por meio dele, a criança é incentivada a identificar emoções. Em uma viagem no tempo, ela passa por diferentes períodos históricos, em que interage com os cenários e personagens. A ferramenta é uma forma de acompanhar a evolução do paciente, tanto pelos pais quanto pelos especialistas da área, já que ela gera relatórios de aprendizados, identificando as dificuldades e a evolução das crianças.

O projeto foi iniciado e desenvolvido por Ana Luísa Ferreira Costas, Juan Pablo Andrade Avelar e Leonardo Resende Aguiar, todos estudantes da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Costas é estudante de física e assídua frequentadora das aulas de Ciência da Computação da instituição, curso em que seus amigos estão matriculados, mas que até então não tinha virado uma amizade. O grupo se conheceu pouco antes do início do programa Minas Coders – voltado para incentivar mulheres na área –, e formaram a sua própria equipe, pré-requisito para participar da iniciativa. 

Ali, notaram que tinham ambições parecidas: queriam participar do Campus Mobile, concurso do Instituto Claro destinado a estudantes e recém-formados para desenvolverem produtos ou serviços para o segmento mobile. “Na faculdade, a gente estuda muito sobre código e ficamos em imersão nisso. Acabamos não aprendendo muito sobre como aplicar os nossos conhecimentos”, explica Costas. A partir disso, começaram a pensar o que poderia ser o projeto. “Nós tivemos muitas ideias, mas elas não pareciam fazer sentido”, lembra Aguiar.

Sem muita pretensão, o ponto de partida do projeto surgiu em uma uma conversa entre Costas e uma amiga, que trabalha com crianças autistas. Foi naquela ocasião que a universitária conheceu mais sobre a alexitimia – dificuldade em expressar e reconhecer emoções –, condição muito presente em pessoas com TEA. “Quando a Ana falou sobre a alexitimia, encontramos uma motivação também. Era uma forma de ajudar as pessoas”, disse Aguiar. 

A partir de então, os universitários começaram a se mobilizar para aprender mais sobre o tema e como poderiam desenvolver algo que ajudasse essas crianças. Para isso, além da leitura de artigos e pesquisas científicas, conversaram com psicólogos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos. 

Universitários na prática

Com a ideia no papel, os três jovens resolveram participar da seleção do Campus Mobile. Aprovados, tiveram a almejada chance de colocar em prática o que aprendiam em sala de aula e aprimorar o projeto. Ali começaram a se movimentar para buscar alternativas e fazer o Facelita ganhar vida. O primeiro passo foi encontrar uma plataforma em que pudessem desenvolver o jogo. Uma vez encontrada, o grupo passou a elaborar a história do game e o seu design.

“Estudamos pelo próprio YouTube para ver como poderíamos fazer. Fomos nós quem fizemos os desenhos e criamos os personagens. Basicamente, o mundo do jogo foi todo feito pelo grupo”, lembrou Costas. Além disso, tiveram suporte dos chamados embaixadores do Campus Mobile, que são ex-participantes do concurso. As conversas contribuíram na evolução do game, segundo os desenvolvedores.

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Interface do Facelita, ilustrada por Ana Luísa Ferreira Costas, Juan Pablo Andrade Avelar e Leonardo Resende Aguiar

O principal desafio dos universitários ficou na parte dos testes, uma das etapas do Campus Mobile. O fato de envolver um público específico foi um empecilho, tanto é que o Facelita foi testado em menos de dez crianças. No experimento, o grupo contou com o apoio de uma clínica especializada, localizada em Betim/MG, um deslocamento de mais de 240 km. “Queremos testar mais, para fazer outros ajustes. No geral, notamos que as crianças gostaram. Ao mesmo tempo, percebemos que cada uma delas é única, o que exige que o jogo seja mais customizado”, apontou Aguiar.

Campeões na categoria Saúde, os universitários não botavam fé no título. “Tinham outros aplicativos incríveis. O nosso projeto lida com uma área delicada. Só pensávamos que a experiência tinha sido boa até ouvirmos o nome do app”, revelou Costas. Como prêmio, eles receberam um investimento no jogo e partem ao Vale do Silício, para apresentarem a ideia a uma aceleradora de startups. Apesar da vitória, o grupo que deu início ao Facelita em julho de 2023, segue fazendo ajustes. Embora ainda não esteja disponível nas lojas de aplicativo, o jogo funciona normalmente pelo navegador dos smartphones.