O brasileiro comprou bicicletas para fugir do transporte público ou dos aplicativos, está arrumando mais a casa, pede mais delivery de restaurante e de mercado. De acordo com a quarta edição da Análise de Comportamento de Consumo, elaborado pela empresa de adquirência do banco Itaú, a Rede, e apresentado nesta terça-feira, 7, a pandemia do novo coronavírus mexeu com os hábitos do brasileiro.
“A penetração de celulares no Brasil é enorme e o acesso à Internet também. Mas estamos vendo uma mudança do cidadão online para o consumidor digital, o que é diferente. Víamos setores online que não eram tão expressivos crescendo. Acredito que as compras que fazem a pessoa feliz, onde a escolha é um prazer, essas serão físicas. Mas aquelas que não dão prazer, não voltam para o físico”, resume Paula Cardoso, CEO da Rede.
Com relação às bicicletas, apesar do declínio de 21% no terceiro trimestre deste ano, ante o mesmo período em 2020, se comparado com o 3T19, o aumento é de 58%. “Houve uma mudança de comportamento e de hábitos com mobilidade para evitar aglomeração e qualquer serviço de mobilidade urbana, como ônibus ou Uber. A bike leva o consumidor para outro patamar de comportamento”, afirma Cardoso. No gráfico, é possível ver que, no início da pandemia, há um crescimento em V (ao contrário) nas compras de bikes e esse movimento não volta a patamares pré-pandêmicos.
O segmento de delivery de restaurantes também registrou um aumento. Dessa vez de 428% na comparação com o terceiro trimestre de 2019. E, no ano contra ano, houve incremento de 18%. Para a CEO da Rede, apesar do crescimento mais tímido, atualmente, trata-se de um comportamento que não vai retroceder a ponto de voltar a patamares de antes da pandemia. Essas mudanças de hábitos apontam também para a importância do meio de pagamento.
“Antes, a visão de pagamento era que se tratava de uma simples transação. Hoje, é um serviço. O pagamento faz parte da jornada de compra. E o cartão de crédito ou de débito são algumas possibilidades de pagamento. E o pagamento é um ambiente que está em plena mudança. O Pix, por exemplo, veio para ficar e em apenas um ano já fez uma mudança no setor. Em muito pouco tempo estaremos cardless”, prevê Cardoso.
O mesmo movimento é notado quando a pesquisa analisa o segmento de bares e restaurantes. Na comparação com o 3T20, o aumento é de 94%. Mas, ao comparar com o mesmo período de 2019, o incremento é de 16%. De todo o modo, nota-se um incremento na frequência de bares e restaurantes neste momento em que a pandemia está mais amena.
Entre as lojas de departamento, o crescimento geral foi um pouco menor (17%), sendo o mundo físico apenas 3,7% e o online 50,2%. “Ao avaliar a curva histórica, vemos uma retomada do físico. Mas existe uma aceleração dos pagamentos online na comparação com o físico muito forte. Neste caso, avalio que se trata realmente de uma mudança de comportamento”, explica a CEO da Rede.
Acúmulo
Um terceiro segmento avaliado pela pesquisa foi a de agências de matrimônio e bufês. Na comparação com o 3T20, o aumento é de 80%, mas, ao comparar com o mesmo período de 2019, o incremento é de 18%. “O brasileiro não está se casando mais, mas, sim, houve uma retomada do segmento. Muitos casais tiveram que adiar as festividades”, explica.
Sem volta
A análise de comportamento avaliou também a evolução do meio de pagamento da adquirente por alguns setores, como alimentação, material de construção, lojas de departamento e jardinagem.
No geral, o segmento de alimentação cresceu 36,1%. Ao destrinchar o número, nota-se que o físico registrou incremento de 33% e o online, 50,5%. Algo semelhante aconteceu em material de construção, com 23,1% de aumento, sendo que o físico teve crescimento de 20,3% e o online, 102%.
Com relação ao setor de materiais de construção, houve aumento de 45% na comparação com o 3T19 e incremento de 4% na comparação com 3T20. Já móveis de escritório, registrou incremento de 51% na comparação com 3T19 e +22% ante 3T20. “Muitas pessoas ficaram no home office e estão cuidando mais da casa”, avalia a CEO da Rede. A mesma lógica aconteceu no setor de jardinagem, que, apesar do crescimento modesto de 1% ano contra ano, teve aumento de 34% na comparação com o mesmo período de 2019.
Turismo
A pesquisa mostra ainda que o brasileiro está viajando mais, se comparado com o período de crise sanitária. O setor de turismo teve aumento de 133,7% ano contra ano, lembrando que, em abril de 2020, registrava um declínio de 87,9%. Segundo Cardoso, as pessoas estão viajando pelo País e seu tíquete médio em hospedagem (hotéis, motéis e pousadas) alcançou aumento de 109,7%, enquanto as passagens aéreas 149,9%, ambos na comparação com 3T20.