A área técnica da Anatel avaliou que a melhor destinação da faixa de 6 GHz será dividi-la entre telefonia celular e Wi-Fi. A proposta consta no novo Plano de Atribuição, Destinação e Distribuição de Faixas de Frequências (PDFF) enviado ao conselho diretor da agência. Agora é preciso aguardar a avaliação por parte dos conselheiros da Anatel. A novidade foi anunciada pelo superintendente de outorgas e serviços à prestação da Anatel, Vinícius Caram, durante painel realizado na Futurecom, nesta terça-feira, 8, em São Paulo.
A proposta é que os serviços móveis fiquem com 700 MHz da faixa, enquanto os outros 500 MHz sejam mantidos para uso não licenciado. A alocação para serviços móveis tem como objetivo atender a demanda futura da sexta geração de telefonia celular (6G). E o uso não licenciado serve para redes Wi-Fi 6E e Wi-Fi 7. Em qualquer um dos casos, será necessário garantir a não interferência sobre serviços de comunicação via satélite em banda C que operam nessa frequência.
Até o presente momento, a faixa de 6 GHz está destinada inteiramente para Wi-Fi, mas com limites de potência para não interferir nos satélites. Caram justificou a decisão de alterar a destinação da faixa com o argumento de que ela até agora não foi efetivamente ocupada por redes Wi-Fi, pois os padrões Wi-Fi 6E e Wi-Fi 7 ainda não ganharam escala e seus equipamentos custam muito caro.
Além disso, o superintendente da Anatel destacou que a maior parte do mundo, incluindo Europa e Ásia, caminham no mesmo sentido de dividir a faixa entre serviços móveis e Wi-Fi. Apenas os EUA e alguns outros países estão optando por reservar a faixa inteira para Wi-Fi. Caram relembrou que da última vez que os EUA se isolaram do restante do mundo acabaram tendo que recuar mais tarde: foi no caso do CDMA, padrão utilizado nas redes 2G e 3G daquele país e que acabou não ganhando escala mundial, sendo substituído pelo GSM.
“Não podemos criar um jabuti”, argumentou. “O 6G vai precisar de 6 GHz. É mais fácil encontrar outra faixa para o Wi-Fi do que para o 6G”, acrescentou.
Caram explicou que para atender às operadoras móveis no 6G serão necessários quatro canais de cerca de 200 MHz cada. E não serviria pegar uma faixa mais alta porque o alcance do sinal seria curto, o que inviabilizaria o serviço móvel.
O lado do Wi-Fi
O presidente da Abranet, Eduardo Neger, disse que o Wi-Fi 7 trabalha com 320 MHz por portadora. Logo, em 500 MHz caberá apenas uma portadora e pode haver interferência entre diferentes pontos de acesso. “O ideal seria termos três portadoras de 320 MHz cada”, disse.
Neger também argumentou que o Wi-Fi consome menos energia que redes móveis, porque a energia necessária para irradiar um sinal externo para dentro ambientes internos é entre três e dez vezes maior do que uma rede de alcance interno como o Wi-Fi.
Além disso, lembrou que recentemente a Apple se comprometeu em incluir o Wi-Fi 7 em seus novos dispositivos, o que vai ajudar o padrão a ganhar escala.
Por fim, reclamou da baixa potência autorizada no momento para o Wi-Fi em 6 GHz, o que prejudica a cobertura em ambientes internos de grande densidade, como shopping centers, que acabam requerendo a instalação de muitos pontos de acesso.
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Caram reconheceu que a questão da potência ainda precisa ser revista e ressaltou que no PDFF não foram definidas as condições de uso da faixa. E sugeriu ainda a possibilidade de o uso não licenciado continuar liberado para a faixa de 6 GHz inteira, desde que não interfira no SMP.
Setor de satélites preocupado
O presidente da Abrasat, Mauro Wajnberg, demonstrou preocupação diante a decisão da área técnica da Anatel. “Ficamos decepcionados com a decisão”, comentou no painel.
Wajnberg fez questão de enaltecer a importância da comunicação por satélite, que serve para a transmissão de sinais de TV, e também para backhaul de redes móveis. “O satélite é um serviço menos tangível, porque as pessoas não o veem. Mas o Brasil não funciona sem satélite”, afirmou. Ele cobrou que, qualquer que seja a destinação final da faixa de 6 GHz, seja garantida a não interferência com a operação de satélites. Caram respondeu que isso será respeitado.
Imagem no alto: Vinícius Caram, superintendente da Anatel, durante a Futurecom 2024 (Crédito: Fernando Paiva/Mobile Time)
*O jornalista viajou a São Paulo a convite da organização da Futurecom e da Intel