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Da direita para esquerda: Fred Rabelo, Carlos Pappini Jr., Pedro Dias e Paula Mateus, (Crédito: Gustavo Drullis/Mobile Time)

Com sistemas desconectados entre si e uma defasagem tecnológica, o setor de saúde, no Brasil, ainda está bem no início do seu processo de compartilhamento de dados, o chamado open health. Paula Mateus, líder do comitê de healthtech e bem-estar do Movimento Inovação Digital (MID) e diretora de inovação da AmorSaúde, deixou isso claro: “Ainda é muito utópico, muito longe, comparado com as outras verticais da economia”, constatou, na IX Conference, em São Paulo, nesta terça-feira, 8.

Grande parte do setor de saúde ainda não passou por uma fase primária e essencial que torna possível o open health – a digitalização. Muitos médicos e instituições de saúde continuam a fazer registros de prontuário dos pacientes em papel, por exemplo, de modo que os dados ficam fragmentados em diversos documentos. Isso ocorre até mesmo em locais que já possuem sistemas digitais.

Fred Rabelo, CEO da Ti.Saúde, defendeu que a digitalização do setor seja impulsionada e incentivada como um primeiro passo para se iniciar o compartilhamento aberto. “Toda aquela informação que deveria estar no poder do paciente, ainda está lá, não digitalizada. O problema é a velocidade – na área de saúde é um pouco diferente da velocidade de qualquer outro setor. As coisas andam um pouco mais devagar”, afirmou.

Mesmo quando as informações sobre os pacientes são armazenadas em sistemas digitais, hoje não existe integração entre as diferentes instituições de saúde, como hospitais, laboratórios, clínicas e consultórios. Diferente do setor financeiro, muito mais estruturado e integrado, que passou pelo open banking e agora passa pelo open finance, o de saúde não é um “early adopter” de novas tecnologias, como apontou Pedro Dias, CEO da Mevo. Para ele, não será possível repetir no setor de saúde o que foi orquestrado pelo Banco Central no financeiro.

“Existe hoje um grande desafio do sistema do open health em si, que é justamente a falta de comunicação entre os players que compõem o sistema de saúde como um todo. Não existe uma contribuição para essa estrutura. Para o sistema financeiro, isso estava mais claro, quem são os atores. Já desde antes era muito digitalizado, o Brasil é referência em digitalização dos meios financeiros, inclusive para o mercado americano e europeu”, explicou Leandro Bissoli, sócio do escritório de advocacia Peck Advogados.

Governo deve agir

Um ponto foi quase unanimidade entre os painelistas: a iniciativa para integração do sistema de saúde brasileiro deve partir do governo, assim como no sistema financeiro o Banco Central atuou para intermediar o processo de compartilhamento dos dados. Caso isso não ocorra, é difícil que os próprios players tomem as rédeas da situação.

“Nós temos um País enorme, como é que a gente integra todos esses usuários? Isso tem que partir do governo mesmo”, disse Carlos Pappini Jr., CEO e cofundador da Conecta Médico. É preciso lembrar que 49 milhões de brasileiros possuem um plano de saúde, de acordo com levantamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) de 2022. Isso representa 22,9% de toda a população. A outra parcela, mais de 75%, é atendida pelo sistema público de saúde.

“A questão da digitalização, para mim, tem que ser ‘top goela down’. Tem que vir uma regulação e proibir o uso de papel, senão a gente não vai conseguir dar esse passo para frente. Como é que nós vamos trocar dados?”, questionou Mateus, a líder do comitê de healthtech e bem-estar do MID. “Eu acho que isso vem do governo. Se a iniciativa privada for se organizar, vamos sempre trabalhar em microssistemas”, argumentou Pappini.

 

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