Márcio Kanamaru, head de Tech, Media & Telecom da KPMG, participou nesta quinta-feira, dia 8 de dezembro, da terceira edição do 5×5 TecSummit, evento organizado pelos portais Convergência Digital, Mobile Time, Tele.Síntese, Teletime e TI Inside, falando sobre a economia de atenção, um aspecto que impacta diretamente o setor de entretenimento e que, no contexto de transformação digital no universo do conteúdo, marcado especialmente pela implementação recente do 5G, segue em constante mudança.

O ano de 2022 foi significativo do ponto de vista do avanço do 5G e do reposicionamento das empresas de telecomunicações, que revisitaram suas filosofias e atualizaram seus modelos de negócio. Todos esses movimentos ocasionaram mudanças no contexto da economia de atenção. “O 5G é um habilitador fantástico, pensando especialmente em baixa latência e alta velocidade e capacidade. Nesse cenário, conteúdos com alta densidade e definição ganham um espaço bem importante, de protagonismo até, nesse tipo de navegação. A economia de atenção, a briga por ela, passa por como disponibilizar um conteúdo mais relevante”, introduziu Kanamaru.

“Existe um dito popular no meio da mídia que diz que o conteúdo é rei. Ele realmente segue muito relevante. Temos diversos personagens do mundo do streaming de vídeo no nosso país desenvolvendo programas e parcerias com conteúdos originais locais. O Brasil é um dos países mais relevantes em termos de crescimento nesse sentido. No triênio 2019, 20 e 21, houve um crescimento de quase 40% na utilização desse tipo de conteúdo no país. Claro que tivemos uma aceleração pela pandemia, mas a gente vai ver que o 5G vai contribuir bastante para que o conteúdo que hoje é predominantemente consumido nas TVs conectadas possa migrar para esses dispositivos móveis – porque até então não tínhamos uma tecnologia com baixa latência e alta velocidade para usufruir desses conteúdos. É uma mudança de paradigma. Estamos vendo hoje que os consumidores iniciam o consumo de determinado conteúdo numa plataforma, migram para outra, voltam… Mas o consumo no dispositivo móvel ainda não é tão representativo quanto na TV conectada ou tradicional”, observou.

5G: upgrade automático ou oportunidade de monetização? 

As operadoras ainda não colocam essas novas oportunidades de conteúdo criadas com a chegada do 5G como diferencial para os clientes adquirirem novos pacotes. A novidade ainda é tratada como um upgrade automático, e não como uma possibilidade de monetização, com crescimento de receita. “Diversas pesquisas foram feitas ao redor do mundo na transição do 4G para o 5G e identificou-se que o percentual de assinantes dispostos a pagar um valor incremental por um novo plano, por um potencial upgrade, era muito pequeno. Não estava nas contas do assinante, que assumia que isso era parte da inovação tecnológica, da evolução da rede”, explicou o especialista.

“Mas o 5G traz de fato essa oportunidade de monetização diferenciada para as operadoras. Dependendo do tipo de upload, da carga de conteúdo e do perfil do consumidor, o conteúdo pode ter um preço diferenciado. Com o avanço da cobertura do 5G, a demanda vai ser essencial e oportuna para a monetização das operadoras. A indústria gamer, por exemplo, é gigante e tem gerado experiências cada vez mais imersivas. Esse perfil de consumidor busca uma rede mais segura e confiável para jogar. Grande parte deles são, inclusive, profissionais, e precisam de um bom acesso. A esse perfil pode ser oferecido um preço diferenciado, para a disponibilidade, um pacote de dados com maior confiabilidade, e de acordo com a sua necessidade de velocidade, que garante sua competitividade. O metaverso também demanda uma rede confiável e pode ser uma oportunidade de monetização”, citou.

Para ele, o metaverso é, sim, uma coluna de oportunidade de desenvolvimento de novos caminhos e receitas, mas a médio e longo prazo, e não agora. “As empresas ainda estão desenvolvendo as plataformas em si, bem como os equipamentos, os dispositivos necessários para que a gente possa usufruir desse ambiente e navegar de forma segura e confiável. Por isso acredito que, em termos de linha do tempo, o metaverso ainda está um pouco distante. Mas o 5G é um contribuinte importante para acelerar a adoção do metaverso em termos de mobilidade, imersão e confiabilidade de rede, com baixíssima latência”, pontuou. “O ecossistema do metaverso ainda precisa amadurecer. Isso passa por outros mecanismos de viabilização, como NFTs, criptomoedas e demais formas para interagir, comprar, viver e fazer investimentos nesse ambiente. Essa interação e essa segurança fazem parte de um ecossistema de inúmeros elementos que estão se integrando”, completou.

De acordo com Kanamaru, essa experiência do metaverso pode inclusive ser integrada à própria experiência do streaming, que ainda está “na infância”, segundo o especialista. “Hoje, consumimos conteúdos em streaming com qualidade através das plataformas digitais, mas é uma experiência simples, elementar, que existe em sua essência há mais de uma década. Isso vai evoluir para algo mais imersivo, com todos os sentidos convergindo para uma experiência diferenciada. O ambiente do metaverso é propício para que isso se construa também lá dentro”.

Streaming já enfrenta oscilações e desafios 

E falando sobre streaming, o executivo relembra que, até pouco tempo, tínhamos poucos players, com um “oceano azul” a ser conquistado. “Grandes investimentos foram feitos. Episódios de séries relevantes, com elementos ricos de cenografia e efeitos, consomem até 15, 20 milhões de dólares por episódio. São investimentos massivos porque, afinal, o conteúdo é rei. As pessoas assinam determinada plataforma porque se sentiram atraídas pelo conteúdo. É impacto cultural, social, tendência. Plataformas conseguem importantes incrementos de assinantes com lançamentos de conteúdos relevantes”, analisou. “Por outro lado, os investimentos ficaram muito altos. Outros jogadores entraram em cena, apesar da barreira de entrada ser grande. O cenário acabou ficando pulverizado e fragmentado, e os assinantes também começaram a migrar entre as plataformas. Tudo isso promove uma corrosão e uma competição muito hostil. As plataformas não tinham nos seus planos tamanho desafio, e nem consideravam que tantos novos jogadores iam surgir de forma tão agressiva. Temos muitos players com altos custos de produção. Na pandemia, houve acréscimo de assinantes, mas também os desafios de produção. Temos ainda o cenário de inflação em todos os setores, que também deixa as produções ainda mais caras. Nesse sentido, estamos vendo serviços migrando do SVOD para o AVOD, que antes era o tradicional. É um movimento paradoxal, e o AVOD chega como se fosse uma tábua de salvação”, definiu.

Para ele, as empresas de streaming serão cada vez mais como agências de publicidade digital que vão habilitando oportunidades de geração de receita e conversibilidade: “Vamos ver, em tempo real, as marcas chegando nesse ambiente e encontrando essa audiência disponível, transformando em conversão de vendas. É uma geração de oportunidades. Teasers, QR code, todas as formas de interação serão válidas para que o consumidor seja beneficiado através dessa conexão com as marcas e o conteúdo. Vamos ter novidades interessantes. Será mais uma batalha, uma disputa importante por campanhas publicitárias, inserções e product placement no ambiente de streaming. Veremos ainda o desdobramento das fusões, pois não é sustentável manter tantas empresas assim, num cenário fragmentado do jeito que estamos vendo”.

O especialista acrescenta que as operadoras podem ser grandes aliadas desses jogadores nesse novo momento: “Acredito que de forma inteligente, preservando a privacidade dos usuários, a gente pode ter alianças positivas no sentido de que as operadoras têm informações e dados importantes sobre comportamento e utilização, e por isso podem entrar nesse jogo junto dos serviços de streaming”.

Possibilidade de remuneração em duas vias 

Por fim, o executivo falou sobre uma discussão que tem sido pauta no Brasil e lá fora a respeito da possibilidade de fatiamento de redes que o 5G traz, considerando uma possível remuneração em duas vias, com as empresas de telco também sendo remuneradas pelos provedores de conteúdo por sua qualidade de serviço. A solução resolveria um problema – essas empresas também querem sua fatia de remuneração na nova economia digital, onde até então, elas só participam como provedoras de conectividade: “As operadoras querem revisitar os investimentos feitos nas redes 5G e os retornos esperados desse capital investido. Elas querem seu fair share, isto é, sua fatia justa e correta do ponto de vista dessa assimetria regulatória e até tributária que existe hoje. O caminho passa por trazer à mesa players de OTT para chegar num consenso de remuneração equânime, que possa sustentar esse modelo de negócio, garantindo a qualidade esperada pelo espectador. O benefício deve ser mútuo”.

 

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