O diretor da divisão Enterprise da NVIDIA para América Latina, Marcio Aguiar, afirmou que a companhia manterá seu crescimento acelerado em ritmo de três dígitos no segmento corporativo no Brasil em 2025, similar aos resultados globais em 2024.
Em conversa com Mobile Time antes da apresentação da NVIDIA na CES 2025 e, sem revelar os resultados financeiros no Brasil, o executivo afirmou que a operação local da companhia acompanha o seu crescimento global, e, portanto, é natural seguir com o incremento acima de 100%.
“A receita (do Brasil) foi acima do esperado. O público respondeu à altura consumindo tudo que a gente produz. Inclusive, um dos nossos desafios foi atender a demanda dos nossos clientes em hardware”, disse Aguiar, ao lembrar que o cenário não é fácil com quatro guerras que influenciam o trânsito de equipamentos, inflação global e a alta volatilidade no câmbio.
No terceiro trimestre de 2024, a companhia obteve uma receita global de US$ 31 bilhões na divisão empresarial, alta de 112% ante US$ 14,5 bilhões, impulsionado pela demanda de unidades de processamento gráfico (GPU) para treinar e gerar aplicações de IA nos provedores de nuvem.
NVIDIA e IA no Brasil
O executivo reforçou ainda que, no caso do Brasil, o aumento também foi puxado pela inteligência artificial em clientes dos setores de bancos, varejo, órgãos públicos, mas o mais notório deles é a Petrobrás com um pedido de 2,1 mil GPUs para seu mais recente combo de cinco supercomputadores avaliados em R$ 500 milhões que entram em operação neste ano.
Porém, o executivo explicou que a maioria dos pedidos ainda não estão voltados para o desenvolvimento de inteligência artificial generativa como acontece nos Estados Unidos. A IA, no caso brasileiro, ainda está um passo antes, com o machine learning, a visão computacional e a análise preditiva.
Com isso, Aguiar acredita que 2025 e mesmo 2026, a NVIDIA seguirá acelerando no Brasil e no mundo, uma vez que “a IA está desmistificada”, pois as pessoas não “têm mais tanto receio de adotá-la”. O especialista acredita que a IA vai avançar para reduzir “tarefas repetitivas” e ampliar àquelas que “trazem mais produtividade”.
Explicou ainda que a demanda pelos seus equipamentos continuará alta, uma vez que os seus parceiros de integração estão recebendo solicitações e validando os desenhos dos data centers de seus clientes para tirar máximo proveito dos novos insumos. O diretor da NVIDIA acredita que, em 2025, deve haver um avanço no debate sobre a robotização e automatização em armazéns de logística.
Outra iniciativa que colabora para os planos de crescimento é o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), em especial com os R$ 3 bilhões que estão destinados para criar o Programa Nacional de Infraestrutura de IA, algo que fará com que mais órgãos do governo federal peçam cotações para ter uma infraestrutura própria. Mas recorda que este montante não será investido apenas em 2025, mas sim, até 2028.
NVIDIA em 2025
Considerando o todo da tecnologia em 2025, Aguiar lembrou que a NVIDIA anunciou em março do ano passado durante o GTC (principal evento da empresa) o aumento de robôs (agentes) movidos por IA. E que o tema seria reforçado por Jensen Huang, seu CEO, na CES 2025. Na última terça-feira, 6, Huang fez uma apresentação de 1h30 no evento em Las Vegas, EUA, e teve a IA como foco. Suas principais novidades foram:
- Lançamento de modelos de fundação de IA para GPUs RTX que estão em PCs com IA;
- O NVIDIA Cosmos, uma plataforma para acelerar o desenvolvimento da IA física com novos modelos e processamento de dados de vídeo para uso em robôs humanoides, veículos autônomos e visão computacional com IA;
- Um supercomputador do tamanho de um all-in-one PC, mas com capacidade de rodar 200 bilhões de parâmetros, o Project DIGITS, que estará disponível por US$ 3 mil em maio;
- NVIDIA firmou parceria com a Toyota para a próxima geração de veículos seguros que terão o computador in-vehicle NVIDIA Drive AGX.
Veículos
Falando especificamente de carros, Aguiar recorda que o NVIDIA Jetson (módulo para acelerar a IA na ponta, o edge AI) começou no mercado de veículos autônomos em 2010, mas que vem evoluindo desde então. “Nossos chips são precisos, seguros e evoluíram. A Tesla foi um dos nossos primeiros clientes. Mas hoje é só veículo (com o chip). É preciso ter um ecossistema inteligente (por exemplo, o CV2X, a conexão com o ambiente) que começará a avançar”, prevê.
NVIDIA na saúde
Paralelamente, o diretor da NVIDIA acredita que veremos avanços em outras áreas, como em interações de humanos com robôs na saúde, com a cirurgia robótica à distância, e agentes inteligentes nos diagnósticos. Lembra que, em São Paulo, a Foxconn tem algumas máquinas de eletrocardiograma testadas em UBS e hospitais para fazer o alerta com visão computacional a análise preditiva em cinco minutos com foco em um tratamento mais assertivo.
“Também veremos com a IA a descoberta de novos medicamentos, pois os grandes laboratórios farmacêuticos estão fazendo suas provas de conceito sem uso de animal e humano, só com banco de dados”, disse.
Na ponta, por sua vez, Aguiar crê que os smartphones terão papel vital na inferência: “Entenda, toda vez que aperta o botão, o handset dá um comando que é processado em data centers em milhares de GPUs, isso é um comando de inferência que interage com redes neurais. Isso ajuda a customizar a experiência (e melhorar o uso da IA)”, explicou.
Mas para isso acontecer, o executivo reforçou que as empresas de telecomunicações precisam se modernizar: “Aumentar a banda e a capilaridade, como levar o 5G para o interior do País e gerar mais inferências. Hoje, as empresas de telecom não têm essa banda toda. Temos de oportunidade para expandir nosso negócio com eles”.
“Tudo isso se resume a muita programação, modelos de stacks, softwares e diversas arquiteturas de hardware com foco no fato de que não vamos conseguir ter espaço no data center como hoje. O consumo da energia que não é tão estável na sociedade atual. Pessoas com quedas de luz no Brasil e no mundo. Isso afeta a cadeia produtiva de um estado, um País”, concluiu.
Imagem principal: Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da NVIDIA para América Latina (divulgação)