Ano passado, o presidente da Anatel, Carlos Baigorri, sugeriu que fosse desenvolvida uma rede privativa única para todas as empresas do setor de utilities. Nesta quarta-feira, 9, na UTCAL, evento que acontece no Rio de Janeiro, Baigorri fez uma nova sugestão: a criação de uma entidade que coordene o espectro de uso secundário para a utilização em redes privativas.

“Ou é uma coordenação de todos, de diversos sistemas usando o secundário para garantir quenão haja interferência – um trabalho mais de governança –, ou todos se unem para fazer uma rede única de modo a atender a todas as utilities, como uma joint-venture, com uma rede comum, compartilhando os custos, os riscos de implantação e manutenção, além da parte burocrática”, explicou o presidente do órgão regulador, durante sua participação no evento.

A nova proposta tem o intuito de proteger as utilities dos aspectos técnicos e burocráticos, para não caírem na armadilha de correr com a transformação digital – e se apressarem em montar uma rede – sem pensar em possíveis percalços ou consequências não previstas. Por exemplo: Baigorri lembrou que a Anatel não é responsável caso haja interferência quando empresas exploram o espectro secundário. “Em havendo interferência, ninguém tem prioridade. É meio que cada um por si. Então, neste momento surge uma oportunidade para uma atividade de coordenação, seja para a utilização do espectro, na implantação dos equipamentos, seja até por compartilhamento de custos e riscos”, propôs.

A opinião da UTCAL 

Se, no ano passado, a proposta de uma única rede para todas as utilities foi considerada “inviável”, esta nova sugestão, de uma entidade gerenciando o espectro, foi bem recebida. “O que o Baigorri falou hoje é muito interessante. A coordenação de serviços funciona, sim. Isso é feito nos Estados Unidos, pela UTC norte-americana, mas isto tem um custo que as empresas brasileiras não estão acostumadas”, comentou Dymitr Wajman, presidente da UTCAL em conversa com Mobile Time.

Nos EUA, cada empresa tem a sua rede e a UTC, habilitada pela agência reguladora (FCC), presta o serviço de coordenação de espectro. “Só no setor elétrico, são 3,5 mil empresas e elas não pedem licença à Anatel de lá (FCC). Eles entram em contato com a UTC e eles fazem o licenciamento”, explicou. Com isso, a UTC possui o cadastro completo de operação das redes e, em caso de interferência, é possível resolver o problema.

“É viável, mas totalmente novo para o nosso país. A Anatel não tem as mesmas ferramentas que a FCC. Nos EUA, ela delega o serviço de coordenação de espectro de utilities”, comentou Wajsman.

Sugestão da UTC

UTCAL

Dymitr Wajman, presidente da UTCAL

A UTC também possui uma proposta para o gerenciamento do espectro para utilities. Seria criar um sistema de comunicações multi-utilities, que nada mais é do que a possibilidade de uma empresa de utilities que já tenha sua rede privativa compartilhá-la com outra empresa do mesmo setor. “É possível fazer a coleta de dados de uma empresa e entregar para ela. Claro que é um serviço oneroso. E começa uma discussão regulatória terrível”, comentou Wajsman.

“A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) tem resistência a isso porque tem que ver quem paga o quê, porque o bem implantado pela empresa elétrica (por exemplo) não pode servir de faturamento que não seja da concessão. Como fazer? Criar uma subsidiária? Discutimos este tema e tem que estudar uma solução para isso?”, disse.

O presidente do conselho da UTCAL explica que, melhor do que ter uma empresa coordenando o uso do espectro é poder compartilhar a rede com terceiros. Mas o compartilhamento é difícil porque o setor elétrico é altamente regulado, inclusive o preço a pagar do consumidor final. “O setor de telecom não regula tarifa, o setor elétrico, sim, e todo o investimento é pago pela tarifa. E em toda receita adicional, alguma coisa tem que retornar para o consumidor final”, explicou.

“Precisamos fazer um trabalho regulatório. Talvez um P&D para ver se a regulação funciona”, completou. Para isso, será necessário requisitar à Aneel uma verba para o projeto e empresas dispostas a trabalharem em conjunto em uma determinada rede privativa.

Foto principal: Carlos Baigorri, presidente da Anatel (à dir.), durante o UTCAL, evento que aconteceu no Rio de Janeiro. Crédito: Isabel Butcher/Mobile Time

 

*********************************

Receba gratuitamente a newsletter do Mobile Time e fique bem informado sobre tecnologia móvel e negócios. Cadastre-se aqui!