Os pagamentos móveis, que permitem compras presenciais com cartão usando smartphones e tablets, estão abrindo novas estradas para o comércio e para o setor de serviços em todo o mundo desde o início desta década. No Brasil, o mercado começa a se pavimentar beneficiado pelo aumento na penetração destes dispositivos móveis. Em 2013, pela primeira vez, a venda de smartphones ultrapassou a de celulares comuns, com 35 milhões de unidades vendidas só naquele ano, de acordo a pesquisa anual do IDC (International Data Corporation).

Ainda assim, a adoção dos leitores de cartão para pagamento móvel segue em rotas e estágios diferentes em várias partes do mundo. Enquanto por aqui estamos entrando em um ano de consolidação e de regulamentações, o que deve acelerar o amadurecimento do mercado, ainda nos encontramos longe da realidade de países superdesenvolvidos, como a Suécia, e um pouco à frente de nações em desenvolvimento, como o nosso colega latino, o México.

Além da penetração da telefonia móvel, outro importante fator que impacta no desenvolvimento desse setor é a capacidade de banda larga da região. O pagamento móvel depende destes serviços para efetuar as transações, por isso o investimento nessa área é um grande nivelador. Na Suécia, país onde quase não se usa mais dinheiro vivo – 70% das transações do varejo são feitas via cartões de crédito -, 93% da população tem acesso à Internet. Até mesmo moradores de rua vinculados a uma associação denominada Situation Stockholm vendem jornais e aceitam doações com um smartphone e um leitor de cartões. Enquanto isso, México e Brasil ainda estão bem no início da jornada, com 38,5% e 47% de penetração de banda larga, respectivamente.

Os mexicanos, no entanto, se posicionam à frente do Brasil no que se refere ao número de smartphones por cidadão. Segundo o levantamento Our World Planet, contratado pelo Google, 37% dos habitantes no México usam smartphone. Já no Brasil, apenas 24% da população tem acesso a esses aparelhos.

Mas o fator crucial para a multiplicação dos leitores de cartão pelo mundo foi mesmo a necessidade de profissionais autônomos e pequenos empreendedores  desatendidos pelas grandes redes de cartões. O preço do equipamento, a mensalidade, as taxas por transação e a burocracia envolvida tornam as máquinas convencionais praticamente inacessíveis a uma parcela considerável da economia, afinal, cerca de 90% das empresas no mundo são pequenas e médias. No Brasil, por exemplo, somente os Microempreendedores Individuais (MEI), com renda de até R$ 60 mil por ano, somavam 3,3 milhões em 2013.

A velocidade com que este segmento será incluído no universo do pagamento móvel depende ainda do aspecto cultural. Afinal, o costume de usar cartões nas transações faz a diferença. Na Suécia, existem 21,3 milhões de cartões em circulação e 50 terminais POS (pontos de vendas com cartão) para cada mil habitantes, No Brasil, onde existem mais de 705 milhões de cartões emitidos, a relação é de 22 terminais para cada mil moradores. No México, os números são mais modestos: 125 milhões de cartões e apenas seis POS por mil habitantes.

Colocando em perspectiva nossos avanços e desafios no que se refere aos pagamentos móveis, temos boas razões para acreditar que o Brasil está no curso certo. O otimismo é justificável: o acesso à Internet móvel e aos smartphones e tablets só cresce no País; o mercado está aquecido com novos entrantes locais e internacionais e é latente a evolução na regulamentação do Banco Central para arranjos de pagamentos. Sem buscar competir com qualquer outra nação, o Brasil precisa apenas lutar contra suas próprias fraquezas estruturais para ver esta estrada se abrir de maneira robusta e democrática, mais rápido do que se imagina.

 

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