O BS2 (Android, iOS) renasceu open banking em 2015, quando vendeu parte de sua operação para o Santander. Ao longo desse tempo, o banco digital vem se estruturando e se concentrando para atender o mercado de pequenas e médias empresas. Para completar seu portfólio, adquiriu recentemente a empresa israelense WEEL, que atua na oferta de crédito para empresas brasileiras. Em conversa exclusiva com Mobile Time, Juliana Pentagna Guimarães, vice-presidente do Banco BS2, explica a importância do open banking e da aquisição da WEEL, e comenta sobre Pix e planos para o futuro, como o lançamento de uma carteira de seguros mais robusta voltada às PMEs ainda no segundo semestre deste ano.
“Nossa ambição é nos tornarmos o melhor e maior banco voltado para pequenas e médias empresas do Brasil. Esse é um baita desafio que vamos perseguir nos próximos dois anos. E, uma vez bem-sucedido, por que não pensar em expandir as fronteiras?”, diz em conversa com Mobile Time.
Mobile Time – Quais são os planos do banco para o open banking?
Juliana Pentagna Guimarães – A história do banco BS2 remonta a 1992, quando foi fundado uma financeira, a Bonsucesso, que depois teve trajetória bem-sucedida em consignado. Em 2015 vendemos a operação para o Santander. Ficamos com um pedaço e vendemos o resto em 2020. Mas o fato é que, a partir do final de 2016 (foi um ano fazendo o unplug desse mercado) a gente começou a concentrar nossos esforços para desenvolver o que seria um novo banco. O que tem de Bonsucesso é apenas um chassi, uma licença bancária, e a gente, de 2016 em diante, começamos um processo de completa transformação cultural e digital. E esse processo, começou pela seleção de executivos-chave para que a gente pudesse realmente ter uma atuação destacada no digital, passando pela construção de alguns pilares que sustentariam a nossa atuação como banco digital, como por exemplo a nossa empresa de adquirência; a nossa DTVM, plataforma aberta de investimentos. Quando tudo isso começou a ser construído, pesou muito o open banking. A gente fez uma transformação, e é um caminho sem volta, onde os dados são do cliente e não das instituições. E precisamos olhar para os dados hoje como o petróleo de anos atrás. Dado é riqueza. E os bancos eram os donos desses dados e tinham toda uma gama de informação que facilitava o relacionamento com o cliente. A nova regulação veio para dizer: não, o dado é do cliente e ele fornece para quem ele quiser. Isso, na minha visão, é um avanço enorme de como os serviços bancários e a relações vão melhorar para o consumidor, porque vai fazer com que o seu histórico de bom comportamento seja levado em conta na contratação de qualquer produto. Ele pode se beneficiar desse bom histórico.
A nossa plataforma foi totalmente construída levando tudo isso em conta. Ela é componentizada em APIs que se integram a outros ecossistemas e que levam e buscam informações de forma instantânea e muito segura. E isso nos permite um crescimento bastante acelerado, uma vez que, através das nossas conexões das nossas APIs, a gente consegue se inserir em ecossistemas diversos.
O BS2 é um banco digital com foco em pequenas e médias empresas. Estamos reforçando isso cada vez mais. Inclusive, fizemos recentemente a aquisição de uma plataforma de crédito que complementava a nossa oferta para esse segmento. E a gente tem dentro do nosso escopo estratégico crescer através de parcerias. A gente se integra a outras fintechs e outros ecossistemas populosos. Um exemplo é a Contabilizei, empresa de contabilidade para pequenas empresas com a qual temos uma parceria. A empresa que acabou de ser aberta com eles consegue nascer com uma conta bancária e com toda a jornada integrada. Toda a movimentação na conta é refletida para o contador de forma instantânea. Esse conceito é tão bacana que vai desde melhorar a jornada financeira até a otimização do tempo, do foco do empresário. O case com a Contabilizei nasceu em 2020, antes mesmo do nascimento do open banking.
Vamos sempre acompanhar a regulação. Nascemos à frente da regulação. O BC aprimorou muito e temos muita troca com eles. Isso é uma coisa intrínseca ao nosso modelo de negócios. E junto com o open banking veio a LGPD e essas coisas precisam nascer juntas. Como tudo caminhou para o digital, a criminalidade também. Então, a questão de segurança é bastante sensível.
O sistema de segurança de vocês é terceirizado ou proprietário?
Usamos tudo o que existe de mais moderno no mercado. Como renascemos digital, levamos muito a sério a segurança da informação. A gente, como qualquer outro player de mercado, contrata sistemas terceiros para aquilo que é comoditizado, mas temos muito desenvolvimento de módulos e ferramentas que são nossos. É uma combinação disso. O que tentamos fazer é: sempre que temos um sistema legado, algo que, por exemplo, faz uma conectividade com o Banco Central, e que não é próprio nosso, a gente sempre constrói uma camada (de segurança) de dentro para fora, que tem uma customização nossa porque se tivermos que trocar aquele componente, aquele fornecedor amanhã, isso machuca muito pouco o nosso negócio. Nossa preocupação é fazer a melhor otimização dos nossos investimentos em TI. Não faz sentido construirmos algo quando existem excelentes players de mercado que são focados nisso. Outros são extremamente sensíveis e podem oferecer uma jornada melhor no mercado. Neste caso, construímos internamente.
Um exemplo é a jornada do Pix. O BS2 foi o primeiro banco a ser homologado no Banco Central. Nós construímos, dentro de casa, do zero, toda a plataforma de Pix. Nesse caso, era uma coisa nova. Ainda havia muita dúvida do mercado e não tinha ninguém fazendo. Nascemos com a tecnologia de ponta e foi um grande orgulho para a gente ter sido o primeiro banco a passar por todos os critérios de segurança do BC.
E como está o andamento do Pix no banco? Vocês têm números sobre o Pix no BS2?
Vemos que o nosso volume de Pix vem crescendo absurdamente. O Pix é algo que já se consolidou. Mas se consolidou em pessoas físicas. Transações de indivíduo para indivíduo, e também na economia mais informal.
A gente teve um recorde no final de abril, no dia 28, de 100 mil transações nesta data com Pix. Em maio, a gente superou 200 mil transações por dia. E em junho esse número está perto de 550 mil transações por dia. Isso só ecossistema BS2, dinheiro que entra e que sai via Pix.
Mas não observo tanto no mercado de PJ, no comércio, que vende mais com cartão de crédito. Acho que o Pix ainda não conseguiu um volume de transação tão grande pelo fato de ele ser à vista e não ter a possibilidade de parcelar, por enquanto.
Em maio houve 4 milhões de transações Pix. Em abril, foram 1,4 milhão. Isso só com a gente. Ou seja, de abril para maio, nós crescemos 287% em termos de número de transação Pix. Vendo pontualmente, tivemos, no dia 10 de junho, 325 mil transações Pix num dia (a entrevista foi realizada antes da divulgação dos números de junho). Isso só reforça que o movimento veio para ficar.
[Nota do Editor: A assessoria de imprensa passou depois da conversa uma comparação entre os pagamentos instantâneos do Banco Central e as TEDs no BS2: em janeiro, 71% das transações realizadas no BS2 eram TED Remessa, seguido por 22,37% de TEDs pontuais, enquanto o Pix correspondia a 4,62%. Em maio, o Pix passou a representar 86,97% das transações, seguido por TED Remessa (10,27%) e TEDs pontuais (3,15%).
Considerando que a maior parte da base de clientes do BS2 é de pessoas jurídicas, quem está “carregando” esse volume? É o cliente pessoa física?
Sim, porque esse cliente está pagando algo. A pequena e a média empresa não são aquelas do comércio, com loja em shopping ou várias soluções de adquirência. É uma empresa menor. Mas não posso deixar de afirmar que temos uma base consideravelmente grande de clientes pessoas físicas. Estamos concentrando nossos esforços na PJ (Android, iOS) e nossa intenção é de que a base de pessoa física passe a ser irrelevante com o tempo perto do tanto que a gente vai crescer no PJ. Os números que estamos passando (do Pix, acima), levam em conta as duas bases.
Recentemente, vocês adquiriram a WEEL (fintech israelense que atua na oferta de crédito para empresas brasileiras). Faz parte da estratégia do banco adquirir outras empresas e startups para crescer? Teriam planos de adquirir mais? Se sim, em quais segmentos?
A aquisição da WEEL foi muito estratégica. O banco BS2 já possui algo muito valioso dentro de casa que é toda a parte de jornada bancária para empresas. A gente tem toda a parte do banking: conta, pagamento, braço de adquirência, jornada do Pix, boleto bancário. O que nos faltava, que é algo essencial para uma pequena ou média empresa, era uma jornada de crédito digital. A gente vinha construindo isso. Não é simples você conseguir dar uma oferta de crédito a uma empresa, a partir da análise de dados disponíveis dela, e ter agilidade para desembolsar esse dinheiro através de uma plataforma digital. Isso requer muito conhecimento, inteligência artificial. Então, vínhamos amadurecendo nossos motores de crédito para isso quando conhecemos o time da WEEL. E depois que entendemos como a plataforma funcionava, chegamos à conclusão de que esta era a melhor plataforma de crédito digital da América Latina. Não tinha outra tão robusta quanto a deles, tão assertiva em termos de modelagem de crédito. Até conversamos com vários players, mas chegamos à conclusão que aquilo se encaixava como uma luva para o que a gente precisava para nos tornarmos o banco com as melhores credenciais e servir bem uma empresa. Estamos muito animados e caminhando muito rápido com a integração das plataformas.
Isso por si só já nos colocaria à frente no mercado. Mas também temos duas outras competências que consideramos complementares. A primeira delas é a vasta experiência que a gente tem no mercado de câmbio – pagamentos e recebimentos internacionais – e oferecemos uma conta digital em dólar para a empresa. E a gente acha que isso tem um valor enorme com o número crescente de empresas globalizadas. O outro ponto é o de seguros. A gente tem uma seguradora dentro de casa há mais de 20 anos e pretendemos olhar para ela de uma forma mais estratégica e trazer uma jornada de seguro com foco em empresas. Devemos lançar um produto mais robusto no mercado no segundo semestre deste ano.
Mas pretendem adquirir outras empresas para expandir?
A aquisição da WEEL foi muito complementar e o seguro temos dentro de casa. No radar de curto prazo, não. No médio, quem sabe.
Nos últimos anos, o Brasil vem registrando um aumento muito expressivo de fintechs e empresas que oferecem serviços financeiros digitais. O que causou o movimento no País e quais são as consequências? O que você acha disso e como sobrevier à competição?
A gente vive num mundo volátil, incerto, ágil, disruptivo e isso não se restringe à indústria financeira. Tudo migrou para o digital. Na indústria financeira não foi diferente.
Falando sobre competição, como qualquer mercado, os que conseguirem ter mais agilidade, mais qualidade na sua operação, vão se sobressair. No nosso caso, isso nos norteou muito na decisão de ter um foco mais direcionado para PJ. Quando o BS2 nasceu, entendíamos que poderíamos andar nas duas frentes (PF e PJ) porque eu tenho uma tecnologia estruturada e posso alavancar em dois mercados. Mas, por outro lado, quando você tem muitos clientes, é possível que você se perca nessa jornada. Porque a necessidade da pessoa física é uma. De baixa renda é outra, de alta é diferente. Os jovens mais digitalizados têm outra necessidade. São muitas variáveis, são muitos públicos por trás da ‘pessoa física’. Por isso, decidimos escolher onde poderíamos ser os melhores e ser o player para mudar. Fomos, então, para o mercado de pequenas e médias empresas, que é mal servido no Brasil.
Quais são as ambições do BS2? Tem planos de expansão?
Nossa primeira ambição é nos tornarmos o melhor e maior banco voltado para pequenas e médias empresas no Brasil. Esse é um baita desafio que vamos perseguir e tentar se consolidar nessa posição nos próximos dois anos. E, uma vez bem-sucedido, por que não pensar em expandir as fronteiras?