Algumas das maiores redes de farmácias do Brasil, como Raia, Drogasil, Onofre, PagueMenos e Panvel, dentre outras, agora oferecem uma série de exames de sangue com entrega de resultados em poucos minutos diretamente no smartphone do paciente. Todas elas estão usando um dispositivo chamado Hilab, uma espécie de máquina de exames miniaturizada, desenvolvida pela startup Hi Technologies, de Curitiba. A empresa fornece os equipamentos e as cápsulas para exames de graça, em troca de um percentual sobre o valor cobrado pelos testes. Há farmácias realizando exames com a Hilab em 139 cidades do Brasil, do interior do Rio Grande do Sul ao interior do Acre. A meta da empresa para 2020 é ter uma máquina à disposição de 70% da população brasileira a uma caminhada de distância.
Primeiramente, a Hi Technologies procurou parcerias com médicos, clínicas e hospitais, para que os exames fossem feitos logo depois das consultas. Mas depois percebeu que a melhor forma de escalar sua operação seria se aliando às farmácias.
“Nas farmácias a gente consegue uma padronização mais fácil da experiência do paciente. Além disso, o farmacêutico é o profissional de saúde que mais tempo passa com o paciente no Brasil. Vimos a oportunidade de ter o farmacêutico como nosso agente”, explica Marcus Figueredo, CEO e fundador da Hi Technologies, em entrevista para Mobile Time. O foco da startup casa perfeitamente com uma tendência atual do setor farmacêutico: “As farmácias estão passando por uma transformação. Estão deixando de ser apenas estabelecimentos que vendem medicamentos para virarem hubs de saúde. Todas essas grandes redes estão fazendo isso. A farmácia é onde a pessoa afere sua pressão arterial, faz acompanhamento para parar de fumar ou perder peso etc. Isso está acontecendo no mundo todo”, comenta o executivo.
Para as pessoas que vivem longe dos grandes centros, há ainda a dificuldade de se marcar consultas médicas. E muita gente não tem plano de saúde. A demora para a realização de exames no SUS é grande. Enquanto um paciente com plano de saúde realiza, em média, de quatro a cinco exames por consulta, aquele atendido pelo SUS faz apenas 0,75. Todos esses fatores contribuem para a demanda por exames em farmácias.
“Já somos um dos maiores laboratórios do Brasil em cobertura. É uma revolução silenciosa, porque não fizemos nenhuma campanha aberta de marketing. Mas em 2020 vamos deixar de ser silenciosos”, afirma Figueredo.
Exames
Com a Hilab, as farmácias oferecem exames que não dependem de pedido médico. São testes de sangue para acompanhamento de doenças crônicas, como diabetes, ou teste de gravidez, ou para identificar doenças transmissíveis, como HIV, dengue, zika, sífilis e hepatite. Os preços variam de R$ 10 (teste de glicemia) até R$ 95 (teste de zika). São valores mais baratos que os praticados pelo resto do mercado. O exame de dengue, por exemplo, custa R$ 35 com a Hilab enquanto laboratórios tradicionais costumam cobrar mais de R$ 200.
A coleta é feita no local e o material é inserido na máquina, que realiza os processos químicos imediatamente. Os dados são enviados pela Internet para um servidor no laboratório da Hi Technologies, que devolve em questão de minutos o resultado para os smartphones do paciente e do profissional de saúde. O exame mais rápido é o de glicemia, cujo resultado chega em cinco minutos. E o mais demorado é de zika, que leva de 20 a 25 minutos. Se quiser tirar dúvidas, o paciente pode contactar uma central de atendimento 24 horas mantida pela Hi Technologies com profissionais de saúde.
Os testes mais comuns nas farmácias são o de gravidez e os de monitoramento de doenças crônicas, relata o executivo.
Importante destacar que tanto a máquina Hilab quanto seu software são desenvolvidos e produzidos pela própria startup, ou seja, com tecnologia nacional.
Pressão
Como era de se esperar, a aliança com as farmácias incomodou parte dos laboratórios tradicionais. Houve inclusive uma tentativa da Anvisa de proibir a realização de exames de sangue em farmácias, o que foi derrubado na Justiça.
“Há 16 mil laboratórios contra 75 mil farmácias. Em um intervalo curto de tempo nos espalhamos pelo Brasil em um nível de capilaridade que poucos laboratórios têm. O incômodo dos incumbents é natural. Aqui no laboratório da Hi recebemos quase que uma inspeção sanitária por mês”, relata Figueredo.
A Hi Technologies sabia que sofreria pressão dos laboratórios, por isso montou previamente uma forte equipe jurídica para proteger seu negócio, antes do acordo com as farmácias. “Se estivéssemos em outra fase, teríamos capitulado diante de tanta pressão. Mas estávamos preparados porque antevimos isso e montamos um time jurídico para aguentar”, comenta. Vale destacar que a startup tem entre seus investidores a Positivo e importantes fundos de capital de risco, como Qualcomm Ventures e Monashees.
Exame a domicílio
Como um complemento da sua estratégia de se aliar às farmácias, a Hi Technologies está testando em Curitiba a realização de exames a domicílio, para atender pacientes com dificuldade de locomoção. Os preços são os mesmos daqueles praticados nas farmácias. Os exames são realizados por profissionais de saúde autônomos, como enfermeiros, farmacêuticos e biomédicos, para os quais a empresa distribui as máquinas e as cápsulas de exames, tal como faz com as farmácias.
“É a uberização do processo. Você pede o exame pelo app e o profissional de saúde vai na sua casa. É um serviço focado no paciente com dificuldade de se locomover, como idosos e crianças pequenas”, explica. A ideia é expandir o modelo para o resto do Brasil.