A iZettle é um dos principais players do mercado de mPOS na Europa. Graças a uma parceria com o banco Santander, aportou no Brasil e no México no ano passado. A empresa agora busca parcerias com operadoras locais, apostando que sua solução serviria como um diferencial competitivo para conquistar clientes entre pequenas e médias empresas. Há, contudo, diversos competidores no Brasil oferecendo soluções similares, que transformam smartphones em máquinas para receber pagamentos com cartões. Em entrevista para MOBILE TIME durante o Mobile World Congress (MWC), em Barcelona, o CEO da iZettle, Jacob de Geer, fez um balanço positivo dos seis primeiros meses de atuação no Brasil, previu um processo de consolidação no mercado de mPOS dentro de 12 a 18 meses e comentou sobre a comoditização do hardware de m-payment, planos de expansão pela América Latina e novas rodadas de investimento.
MOBILE TIME – O Brasil e o México foram os primeiros mercados da iZettle fora da Europa. Por que decidiram vir para as Américas e não para a Ásia?
Jacob de Geer – Uma das razões é porque temos uma parceria fantástica com o banco Santander. A forma como a nossa parceria funciona é muito dinâmica: podemos atender o mercado através deles. Além disso, o Brasil é o segundo maior mercado de pagamentos do mundo, atrás apenas do EUA. Compartilhamos experiências com o Santander: nós apresentamos o que aprendemos com pagamentos móveis e eles, com mobile banking. Quanto ao México, também pesou a parceria com o Santander, mas, além disso, o país tem uma taxa de apenas 5 terminais de POS para cada 1 mil habitantes. No Brasil a relação é de 22 para 1 mil. Nos EUA, 29. O número de cartões no México é grande, mas a quantidade de lugares onde você pode usá-los é pequena. Uma terceira razão para termos optado pela América Latina é que o mercado financeiro na região está mais maduro que na Ásia. Os bancos latino-americanos são mais receptivos a trabalhar com parceiros como nós.
Qual o seu balanço desses primeiros seis meses de operação no Brasil?
Estamos começando a ver os efeitos da nossa entrada no Brasil e no México. O grande potencial de mercado é a primeira coisa que me vem na cabeça. 40 mil comerciantes se credenciaram no primeiro mês no Brasil para usar nosso serviço. No México foram entre 15 e 20 mil no primeiro mês. A América Latina segue o que vimos na Europa em termos de uso, número de transações, tipos de mercadorias. A maior diferença é que o tíquete médio equivale a 60% do europeu. Não foi uma surpresa, porque é o que vimos nas estatísticas de uso de cartões de crédito.
Há diversos competidores em mPOS no Brasil. Se por um lado isso é um desafio, por outro, ajuda a divulgar um serviço que ainda é pouco conhecido. Qual a sua avaliação do nível de competição no Brasil?
Sem competição você trabalha sem distúrbios, mas é o único promovendo o mercado. O fato de ter competição no Brasil é bom, porque significa que os consumidores gostam de comparar opções. Somos um dos maiores players de mPOS no Brasil.
Espera que haja fusões e aquisições no mercado brasileiro de mPOS?
Não posso falar especificamente sobre o Brasil, mas este será um ano de consolidação. Na Europa há três companhias de mPOS. Os EUA estão super-povoados de competidores. Veremos um processo consolidação nos próximos 12 a 18 meses.
Nesse processo, a iZettle é compradora ou vendedora?
Depende do preço e do que oferecerem. Tenho certeza que haverá oportunidades pela Europa e na América Latina. Estamos analisando.
A competição é tão grande em outros mercados quanto no Brasil?
Não acredito que estejamos sozinhos no México, mas não conheço os outros competidores. Acho que somos o único player no México com um aparelho de chip e swipe.
Por que a iZettle não opera nos EUA?
Já existem bons competidores por lá: PayPal, Square etc. Não faria sentido entrar nos EUA agora. Mas em 2020, quando o mercado norte-americano de cartões migrar para o padrão EMV, ou seja, de cartões com chip, acho que talvez faça algum sentido a gente aportar lá, pois trabalhamos com isso há algum tempo.
O Brasil é então o mercado mais competitivo de mPOS onde a iZettle opera?
Não. No Reino Unido há mais competidores que no Brasil. Há muitos bancos entrando em mPOS, além do Paypal e dos players europeus tradicionais de mPOS. O Brasil é o segundo mais competitivo. Não é só pela quantidade de players, mas seu tamanho e o tipo de serviço que oferecem. Vemos alguns bancos expandindo serviços para mobile payment. Neste caso não competimos diretamente com eles.
O que está aprendendo com a operação no Brasil que pode levar para outros mercados? Pagamento parcelado?
Cada mercado é único em termos culturais, monetários, legais etc. No Brasil, a forma como cada pessoa usa seu cartão, especialmente o pagamento em parcelas, é muito diferente da Europa, onde isso nem existe. Você precisa adaptar seu produto para a realidade local para que dê certo. (Nota do Editor: A iZettle está planejando o lançamento da opção de pagamento parcelado no Brasil).
Como estão as negociações de parcerias com as operadoras móveis no Brasil?
Estamos em conversas com as operadoras, mas nada que possamos anunciar agora. em todos os mercados buscamos parcerias com teles. Temos parcerias com operadoras nos países nórdicos e na Alemanha, além de testes com a Orange na Espanha.
Como funcionam essas parcerias?
As operadoras precisam se diferenciar e nosso produto pode ajudá-las no segmento de pequenas e médias empresas. Elas podem incluir nosso serviço no pacote para os clientes corporativos de pequeno porte.
A iZettle é um nome difícil de pronunciar para muitos brasileiros. PagSeguro, um concorrente nacional, tem um nome mais simples e fácil de decorar. Consideram a possibilidade de mudar a marca para a operação brasileira?
É algo a ser considerado em cada novo mercado. Faz sentido essa questão do nome. Estamos ainda bem no começo (no Brasil). Foram apenas seis meses para entender o mercado brasileiro. A língua é parte disso. Ainda não chegamos a uma conclusão, mas sem dúvida é um ponto relevante.
Considera importante investir em tecnologia própria para os aparelhos leitores de cartão?
Não acho que seja necessário ter tecnologia proprietária. O hardware está sendo comoditizado. Em breve haverá mais de 60 devices diferentes de mPOS. O valor que trazemos não tem a ver com hardware, mas com os serviços que oferecemos.
Para quais novos mercados a iZettle pretende levar a sua operação?
Estamos olhando outros países na América Latina e na Europa. É onde estamos mirando este ano. A quantidade de países vai depender dos resultados que obtivermos nos mercados onde já estamos. Esperaria entrar em alguns novos mercados em 2014.
Quantos usuários a iZettle tem hoje no mundo e quanto espera ter ao fim do ano?
Temos algumas centenas de milhares de usuários no mundo. Espero crescimento exponencial em todos os nossos números.
Alguma nova rodada de investimento à vista?
Estamos olhando isso para 2014.
Que tipo de investidor procuram? Um fundo de venture capital ou um investidor estratégico, que agregue valor à operação?
Estamos sempre procurando parceiros estratégicos, não apenas dinheiro. Será uma combinação das duas coisas. Levantamos 40 milhões de euros até agora em investimentos. Estamos apenas começando.