Em seu primeiro dia de sabatina no Congresso norte-americano, Mark Zuckerberg passou cerca de cinco horas respondendo a perguntas dos senadores sobre a privacidade e a utilização dos dados de usuários do serviço da rede social. “Foi um erro, me desculpe”, disse o CEO do Facebook. Em seu testemunho, Zuckerberg disse que sua empresa está trabalhando com o advogado Robert Muller na investigação federal sobre a interferência russa na campanha presidencial de 2016 e trabalhando duro para mudar as próprias políticas de uso da ferramenta. “Não tivemos uma visão ampla da nossa responsabilidade, e isso foi um grande erro”, disse ele. “Eu iniciei o Facebook, gerenciei e sou responsável pelo que acontece aqui.”
Os senadores alertaram que estão céticos quanto à possibilidade de a empresa se autorregularizar e ameaçaram aprovar regras de privacidade e outras regulamentações. Eles disseram que não tinham certeza se poderiam confiar em uma empresa que violou repetidamente suas promessas de privacidade.
Zuckerberg assumiu a responsabilidade para si pela falta de salvaguardas da rede social, não apenas por conta do vazamento de dados do usuário para a consultoria político Cambridge Analytica, mas também pela intromissão da Rússia na eleição presidencial dos EUA em 2016.
Os senadores
Alguns senadores pegaram pesado, como, por exemplo, Jon Tester, conforme reproduzimos abaixo:
John Tester: “Você disse várias vezes durante esta audiência que eu possuo os dados (armazenados no Facebook). Eu vou te dizer que eu acho que isso soa bem, mas, na prática, você está fazendo US$ 40 bilhões por ano, eu não estou ganhando dinheiro com isso. Parece que você possui os dados … Você poderia me dar uma ideia de como você pode dizer honestamente que são meus dados?”
Zuckerberg: “Quando eu digo que são seus dados, o que queremos dizer é que você tem controle sobre como isso é usado no Facebook. Você claramente precisa dar ao Facebook uma licença para usá-lo, caso contrário, o sistema não funcionará.”
Tester: “O fato é que a licença é muito ‘grande’, talvez intencionalmente.”
O senador John Kennedy foi direto: “Eu não quero regular o Facebook, mas Deus te ajude, porque eu vou … Vou dizer gentilmente: o seu acordo de usuário é uma droga […]. O objetivo desse contrato de usuário é cobrir a retaguarda do Facebook, não informar seus usuários sobre seus direitos. Você sabe disso e eu sei disso. Eu vou sugerir que você vá para casa e o reescreva”.
A senadora Kamala Harris lista todas as questões que Zuckerberg evitou até agora: “Durante o curso desta audiência, você recebeu várias perguntas críticas para as quais você não tem respostas. Essas perguntas incluem se o Facebook pode acompanhar as atividades depois que um usuário faz logoff, se o Facebook pode rastreá-lo através de dispositivos, quem é a maior concorrência do Facebook, se o Facebook armazena até 96 categorias de informações de usuários; se você conhecia os termos de serviços de Kogan [Aleksandr Kogan, acadêmico da Universidade de Cambridge]… Em outro caso relacionado à Cambridge Analytica, em dezembro de 2015 você percebeu que Kogan desviou dados de 87 milhões de usuários. Isso foi 27 meses atrás. No entanto, a decisão foi de não notificar.” O CEO disse que não se lembra de ter uma conversa em que o Facebook decidiu não informar os usuários. Disse, como em outros momentos da audiência, que, em retrospecto, foi um erro.
Já o senador Richard J. Durbin perguntou a Zuckerberg se ele ficaria à vontade para compartilhar o nome do hotel em que ficou na noite passada ou se ficaria à vontade para compartilhar nomes das pessoas para quem ele enviou mensagens nesta semana. “Não. Eu provavelmente não escolheria fazer isso publicamente aqui ”, respondeu Zuckerberg. “Talvez isso tudo seja sobre isso. Sobre o seu direito à privacidade. Os limites do seu direito à privacidade. E quanto você abdica na América moderna em nome de ‘conectar pessoas ao redor do mundo’”, replicou Durbin. “ ”