O zero rating, prática adotada há anos pelas operadoras móveis brasileiras e que consiste na oferta de navegação em determinados apps sem descontar da franquia de dados, começa a ser reavaliado pelas próprias teles. Cresce entre as operadoras o entendimento de que essa estratégia fortaleceu demais os apps beneficiados, como o WhatsApp, que hoje está instalado em 99% dos smartphones brasileiros, segundo a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box. O assunto foi trazido à tona pelo vice-presidente de estratégia e transformação da TIM, Renato Ciuchini, durante o painel de abertura do MobiXD, seminário organizado por Mobile Time nesta terça-feira, 10, em São Paulo.
Na opinião de Ciuchini, as operadoras brasileiras erraram na estratégia de zero rating. Para o executivo, o motivo principal de o WhatsApp estar instalado em 99% da base de celulares do Brasil se deve ao fato de que as operadoras passaram a oferecer o app de mensageria com zero rating. “Do ponto de vista das operadoras, foi um erro”, avaliou. “Olhando hoje, a gente está numa posição inferior na comparação com cinco anos atrás em termos de relação com o cliente. E agora não dá para tirar”, avaliou o executivo da TIM.
Ciuchini reforçou que a questão dos OTTs é um debate global e comparou as operadoras a uma estrada e os OTTs aos caminhões que trafegam nela. Dentro dessa comparação, quando algum engenheiro de software das OTTs decide aumentar o limite de videos em cache do app, o caminhão fica mais pesado e desgasta mais a estrada, explicou. O problema é que uma mudança impactante como essa não é decidida por quem não paga a conta, explicou Ciuchini.
Para Fábio Maeda, diretor de serviços digitais e inovação móvel da Claro, o zero rating acaba com o “fear of use”, o que gera valor para o cliente. “Quando se faz o zero rating você tira a dor do ‘medo de usar’. No caso do WhatsApp, 99% das pessoas têm em seus celulares o aplicativo e é uma ferramenta essencial hoje em dia. Não se pode ficar sem WhatsApp. Você continua conectado mesmo atingindo a franquia, principalmente com o pré-pago. Com esse cliente, a gente consegue dar muito valor e ele consegue ficar conectado o mês inteiro”, explicou Maeda. Questionado se a operadora poderia adicionar ou remover apps este ano da sua oferta de zero rating, respondeu que isso é uma avaliação constante.
A Algar também adota a estratégia de oferecer aplicações sem o uso da franquia de dados. Mas de uma maneira diferente, dando ao cliente o controle para escolher quais aplicações terão zero rating. “No plano ilimitado do pós-pago o cliente seleciona o que ele quer usar no zero rating. E, no pré-pago, existe também o ilimitado, mas somente na madrugada”, explicou Zaima Milazzo, diretora de inovação da Algar Telecom e presidente do centro de inovação Brain.
Rodrigo Gruner, diretor de inovação e novos negócios da Vivo, apresentou um outro ponto de vista sobre como se dá a relação entre operadoras e OTTs e como ela mudou exponencialmente. “Hoje, é ótima e amadureceu nos últimos anos”, afirmou. O executivo explicou que hoje as parcerias estão mais profundas, com desenvolvimento de soluções. “Temos que estar próximos para o benefício do cliente. O que queremos é o cliente satisfeito e que consuma mais”, disse.