Logo no início da pandemia causada pelo novo coronavírus, a startup pernambucana Mamba Labs participou do Desafio Covid, iniciativa promovida pelo Ministério Público de Pernambuco e a Secretaria de Saúde do Estado e realizada pelo Porto Digital para encontrar soluções tecnológicas para ajudar a sociedade nesse momento. Do evento, nasceu o aplicativo Dycovid (Android, iOS), voltado para a rastreabilidade de contato e análise de como se comporta o espalhamento da Covid-19 e, se for o caso, de outras doenças. Neste primeiro momento, a solução encontrou espaço de atuação no mercado B2B. Assim, o app notifica empresas e funcionários sobre a possibilidade de contágio do novo coronavírus de acordo com quem tiveram contato.
O contact tracing da startup utiliza, no momento, Bluetooth e GPS, porém, ele é Privacy by Design, ou seja, foi pensado desde o início em preservar a privacidade de seus usuários e está em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Matheus Rodrigues, CEO da Mamba Labs, explicou em entrevista para Mobile Time que nada é armazenado pela empresa e que o processamento do aplicativo é feito na borda. “A gente trabalha com edge computing, ou seja, os dados são processados no celular do usuário. Depois que a pessoa baixa o aplicativo e se cadastra, o app cria um conjunto de chaves criptografadas. Para cada dado que ela insere, a solução associa a uma chave diferente”. Não à toa que a Mamba tem apenas uma estimativa do número de usuários da ferramenta – que contabilizou, até o momento, mais de 100 mil downloads e está sendo usado por cinco empresas com atuação em Pernambuco, entre elas a de baterias para veículos, Moura.
O Dycovid analisa o histórico de até 14 dias antes do resultado do teste do infectado pela Covid-19 dar positivo. Assim, as pessoas que estiveram nas imediações do contaminado recebem uma notificação de risco, que é classificada de acordo com a proximidade e tempo de exposição. Ao todo, o app conta com três graus de rotulação, sendo o mais alto para pessoas que estiveram um maior período mais próximas ao contaminado. São classificados como Risco 1 aqueles contatos de três metros de distância por oito minutos; Risco 2 são dois metros de distância por 5 minutos; e Risco 3, um metro durante 3 minutos. Neste caso, o app recomenda que o usuário faça um exame. E, geralmente, as empresas que contratam os serviços da Mamba oferecem gratuitamente a seus funcionários. Vale dizer ainda que os parâmetros são feitos em parceria com infectologistas de diferentes instituições, como Fiocruz e a Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco.
GPS
Um dos diferenciais do Dycovid para outros aplicativos de contact tracing está no uso da geolocalização. A ideia é que ela funcione para determinar o grau de contaminação por ambiente. “Imagina que você está na parada e chega um ônibus cheio de pessoas infectadas com Covid-19. Elas descem do veículo, e o ônibus te pega 200 metros depois. O problema é que as pessoas saíram, mas as partículas infecciosas continuam lá”, exemplifica Matheus. “Somente com o Bluetooth, como é o caso da API de Google e Apple, essa situação não seria identificada. Mas no nosso app, conseguimos sinalizar esse tipo de perigo”, completa.
Os próximos passos
Com cinco empresas já contratando a ferramenta da Mamba Labs, a startup está desenvolvendo novas soluções para incrementar ainda mais o Dycovid, de modo que atue com eficiência dentro de estabelecimentos. Algumas companhias – como hospitais – já pediram uma ferramenta que as ajudasse a determinar a prioridade para desinfecção de salas e espaços, por exemplo. Com o uso do app e de beacons, por exemplo, Rodrigues explica que isso poderia ser feito. “Se um hospital precisa deslocar uma equipe para desinfetar suas salas, com os beacons e o registro de quantas pessoas entraram em cada espaço, será possível determinar quais lugares são prioritários para a limpeza”, resume.
Rodrigues e o time da Mamba Labs também estão desenvolvendo uma forma de o som atuar como um rastreador de contato. Neste caso, o app emite uma onda sonora inaudível aos ouvidos humanos e quando esse som encontra um outro aparelho, eles interagem. “A onda tem que ser emitida constantemente e ‘entende’ o tempo e a distância. A vantagem, neste caso, é se compararmos com o Bluetooth. O Bluetooth passa pela parede e pode causar erros nos rastreamentos. Enquanto que o som tem mais dificuldade em atravessar o muro. Não queremos que pessoas em apartamentos diferentes sejam notificadas erroneamente”, disse.
Por fim, Rodrigues comentou que também vão pensar em uma solução usando o Wi-Fi. “Todas essas possibilidades estão no nosso roadmap, e tivemos resultados interessantes, mas optamos por não encaixá-las dentro do Dycovid agora e aprimorar o que temos aos poucos”, explicou.