O projeto de universalização de acesso do Facebook, o Internet.org, foi um dos principais alvos de críticas durante o primeiro dia do Fórum de Governança da Internet (IGF 2015) nesta terça, 10. Além de ser tema de protestos de entidades da sociedade civil – e que foram repreendidos pela segurança da ONU, que organiza o evento – durante discurso do ministro das Comunicações, André Figueiredo, na cerimônia de abertura, a iniciativa foi rechaçada mesmo em debates mais abrangentes por representantes de entidades de diversos países.
Um dos ataques mais pontuais foi da representante do Software Freedom Law Center, Mishi Choudhary, que afirmou que os acesso da plataforma Free Basic Services, do Internet.org, não é gratuito de verdade. Ela diz que há roteamento de tráfego pelo serviço "para que as identidades dos usuários possam ser monitoradas" e que o acesso se trata apenas de uma versão reduzida da "Internet real". Mishi chama atenção ainda que é possível estratégias múltiplas, e que o Facebook deveria reconsiderar sua abordagem após as críticas. "Apenas deixe para lá as estratégias ruins e pegue as boas", aconselha. "Temos uma tele na Índia oferecendo Internet inteira – sim, é limitada, mas é na velocidade, que é onde se pode mexer", exemplifica.
Helani Galpaya, do coletivo asiático de políticas e regulações LIRNEasia, destaca que modelos de acesso zero-rating são "possivelmente acordos de mercado de curto prazo". "O perigo é pensar que todo mundo está usando o pré-básico e em algo do tipo '.org' e estamos prontos. Não estamos, precisamos ter acesso à Internet real e inteira", declarou.
O diretor de políticas públicas e relações governamentais do Facebook para o Cone Sul, Martín Waserman, se defende ao destacar as várias abordagens do Internet.org na massificação do acesso, como projetos com banda larga via satélite, drone e com redes Wi-Fi. Quanto ao Free Basic Services, ele explica que é um ponta-pé para "uma Internet maior". "Não há objetivo de deixar os usuários dentro dele (do serviço)", argumenta. O argentino declara que 50% das pessoas que usam o Free Basic Services pagam por acesso a um plano de dados pela primeira vez. Ele diz também que a companhia escuta as reclamações e faz "mudanças substanciais", como a conexão entre cliente e website de forma criptografada e a abertura do programa para parcerias com qualquer operadora.
Naturalmente, é uma opinião compartilhada por Juan Jung, da Associação de Empresas de Telecomunicações Ibero-americanas (Ahciet), que advoga a favor de modelos comerciais mais flexíveis para as operadoras. "O zero-rating pode nos ajudar a conectar o próximo bilhão de pessoas e não contradiz princípios da Internet, a liberdade de escolha, informações confiáveis, e não estamos distorcendo a competição", justifica.