O maior desafio dos grupos tradicionais de mídia está em responder com agilidade aos modelos de negócio disruptivos, se adaptar às novas demandas dos consumidores e estar apto a também inserir inovações no mercado. “A tecnologia não é problema, é a parte fácil de resolver. Nas empresas tradicionais, a dificuldade está na cultura de inovação”, disse Omarson Costa, consultor da Accenture, no 5×5 Tec Summit nesta sexta, 10.
Segundo ele, as tecnologias que estão por vir terão impacto profundo na mídia apenas na próxima década. O deep fake e o deep voice, tecnologias que permitem dar vida a atores não reais com realismo, devem impactar a produção de conteúdo em cinco ou dez anos, garante Costa. “Se você não tem uma equipe de tecnologia robusta, ou um parceiro tecnológico forte, vai ficar pelo caminho”, diz.
Os modelos disruptivos de entrega levaram a uma demanda crescente por novos conteúdos, em “patamares estratosféricos”. Os orçamentos de conteúdo de Netflix (US$ 15,9 bilhões) e Disney (US$ 33 bilhões), juntos, se aproximam de 50 US$ bilhões. “Vai faltar gente para suprir as demandas dessa indústria, tanto em profissionais de tecnologia quanto em talentos artísticos”, diz o consultor. Isto levará à criação de filmes de ação real sem atores. “Haverá filmes em live action com atores que não existem entre 2030 e 2035”, aposta.
Novo profissional
Raymundo Barros, diretor de estratégia e tecnologia da Globo, diz que atrair e reter profissionais que atuam em meios digitais é um desafio muito grande atualmente. O digital derrubou fronteiras entre indústrias distintas, no que se refere à busca de talentos. “Hoje eu perco profissionais que vão trabalhar em fintechs e também trago pessoas de outros setores”, diz Barros.
Para evitar a disputa por pessoal, a Globo investe na formação própria, apostando em profissionais com anos de carreira na casa e que têm familiaridade com os processos internos. “Todos se engajam com muita vontade”, diz Barros. De acordo com ele, passam pela academia interna da Globo 2 mil profissionais por ano. “O desafio na formação dos profissionais nas carreiras digitais e a imensa competição por profissionais torna isso uma prioridade na empresa”, destaca.
Carlos Cauvilla, diretor de tecnologia e operações do SBT, diz que também encontra muita disposição para os treinamentos internamente. “Temos dificuldades para conseguir bons profissionais, mas é a primeira etapa para a transição para modelos de negócio digitais”, diz.
Unir o tradicional com o novo também é uma estratégia na Sky. Segundo Thales Freitas, diretor de desenvolvimento e transformação digital na operação de TV paga, ao chegar a certa idade as empresas enfrentam o desafio da reinvenção digital. A operadora conta com um serviço irmão, o DirecTV Go, que já nasceu totalmente digital. “A gente procura usar as experiências da estrutura tradicional no cloud, e também do cloud no tradicional, para permitir que Sky e DirecTV Go possam evoluir, cada uma em sua vertical”, explica.
Transição
Apesar de não descartar a experiência obtida em plataformas dedicadas de serviço de vídeo por assinatura, a Sky persegue a meta de ser uma empresa 100% na nuvem. “Não é fácil atingir esse objetivo, mas é uma vantagem competitiva ter um ambiente totalmente cloudificado”, justifica Freitas.
Para Cauvilla, do SBT, a migração para um novo modelo em que se dirige ao indivíduo, e não mais baseado na comunicação de um para muitos, é inevitável. “Não é simples chegar a cada um. Começamos atacando de forma macro, atacando grandes verticais”, explica. Hoje a plataforma SBT Games, por exemplo, tem acesso contínuo e volumoso, gerando informações relevantes sobre parte do público do canal. “Vamos processando e refinando as informações para direcionar os produtos. A TV 3.0 trará ainda mais esta necessidade”, diz. “Chegaremos em um modelo que é uma plataforma que não sei se vamos chamar mais de TV. Esse novo produto será baseado em software, em aplicações, em endereço”, completa.
Dados
A aquisição de dados para que se chegue à personalização de conteúdos e publicidade leva a um aprendizado de uso destes dados. Segundo Freitas, da Sky, a quantidade de dados obtida já é grande. “Temos que saber usar isso para monetizar, criando pacotes adequados, ofertas melhores e atender melhor o cliente”. A Sky, para isso, uniu a área de tecnologia a outras áreas, colocando as ferramentas dentro da área de negócios. “Ela tem uma mini-TI própria capaz de entregar o ferramental”, diz.
Paulo Samia, CEO do UOL, conta que a empresa, que nasceu na Internet, ainda que em seus primórdios, é cada vez mais baseada em dados. “Nós temos variedade de produtos e de conteúdos”, diz, complementando que a variedade não basta, “temos sempre que analisar usos e demandas”. Assim como na Sky, a empresa aposta em uma troca entre as diferentes áreas. “No ambiente compartilhado você tem mais agilidade para responder às demandas”, afirma.
O UOL também confia no modelo baseado em nuvem como sendo o que é à prova de futuro. “Conteúdo hoje é muito mais pesado, uma vez que o vídeo é o formato mais aderente aos interesses dos anunciantes e dos usuários. A nuvem se tornou fundamental para qualquer grupo de mídia”, diz Samia.
Os grupos de mídia oriundos do analógico também se dirigem à nuvem para atender às crescentes demandas por novas formas de consumir conteúdo. Além da Globo, que apresentou no evento a estratégia por trás da parceria com o Google, o SBT segue rumo ao modelo baseado em cloud. “Os desafios que sempre tivemos estão relacionados a questões de desenvolvimento de soluções em nuvem. Os prestadores de serviços tinham dificuldade em entender nossas demandas. Nisso, o case da Globo ajudou”, diz Cauvilla. “Estamos no momento inicial para determinados tipos de uploads, mas ainda teremos alguma redundância interna”, completa.