|Mobile Time Latinoamérica| O empresário Carlos Slim Helú, presidente honorário da América Móvil, realizou sua conferência anual nos escritórios do Grupo Financeiro Inbursa. Durante o evento, o também dono da Telmex, Telcel e Claro, se pronunciou sobre temas de interesse para a indústria de telecomunicações, como o debate do fair share, a concessão de espectro gratuito para a Altán Redes e a possível extinção do Instituto Federal de Telecomunicações (IFT). Suas declarações reacendem o debate sobre regulação e concorrência no setor de telecomunicações no México.

O empresário também comentou sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao aço e ao alumínio, afirmando que essas medidas não são uma solução eficaz e que o país norte-americano deveria repensar sua estratégia produtiva. Além disso, expressou ceticismo quanto a uma possível mudança de postura do presidente Donald Trump em relação a essas tarifas no curto prazo.

Fair Share: Slim propõe que plataformas paguem pelo uso das redes

Um dos temas centrais de sua intervenção foi a crítica às grandes plataformas de streaming e de conteúdo digital. Para o empresário, não é justo que empresas como Netflix e YouTube não paguem pelo uso das redes de telecomunicações, enquanto as operadoras investem em infraestrutura e os usuários arcam com o custo do serviço.

“O que a Telmex, a América Móvil, a Telefónica e todas as empresas de telecomunicações do mundo defendem é que oferecemos o serviço de graça para o YouTube. Isso está errado, porque, em vez de darmos esse serviço gratuitamente para empresas que valem trilhões, elas deveriam fazer um pagamento em benefício do cliente”, afirmou Slim.

Essa discussão é conhecida como fair share, um conceito utilizado no setor de telecomunicações que propõe que os geradores de conteúdo, como Netflix, Google, Meta e Amazon, participem do desenvolvimento da infraestrutura. Vários países da América Latina já começaram a debater o tema.

De acordo com o empresário, se as plataformas digitais contribuíssem financeiramente pelo uso das redes, os custos para os consumidores poderiam ser reduzidos. Ele lembrou que a Comissão Federal de Comunicações (FCC) dos Estados Unidos esteve perto de regular esse modelo, mas a pressão do Silicon Valley impediu a medida.

Espectro gratuito para Altán Redes

Slim manifestou-se favorável à concessão gratuita de espectro radioelétrico pelo governo mexicano à Altán Redes, uma empresa de telecomunicações atacadista da qual o governo federal é o principal acionista. Em sua opinião, essa medida é válida se o espectro for usado exclusivamente para levar conectividade a áreas remotas, como regiões rurais.

A Altán, que atualmente opera na banda de 700 MHz, demonstrou recentemente interesse em acessar 40 MHz na banda de 2,5 GHz, com o objetivo de melhorar seus serviços de internet e se preparar para a implantação de redes 5G.

“Que deem o espectro… mas que ele seja usado para levar o serviço para lá [zonas remotas]; o que faz aqui? O objetivo é que todos tenham conectividade, por isso o serviço deve ir para onde não há rede”, declarou o empresário durante a coletiva de imprensa.

Atualmente, a Lei Federal de Telecomunicações e Radiodifusão (LFTR) estabelece que a atribuição de espectro só pode ser feita por meio de licitação pública, compra e venda entre concessionárias ou concessão direta para serviços comunitários ou sociais. No entanto, com o novo marco legal em discussão, pode ser aberta uma brecha para que a Altán receba espectro sem custo.

A concessão gratuita de espectro é um tema controverso no setor, já que a Telcel e a AT&T, principais operadoras móveis no México, pagam anualmente cerca de 18 bilhões de pesos mexicanos (aproximadamente 1,5 bilhão de dólares) pelo uso do espectro. Enquanto isso, a Altán Redes possui um modelo de pagamento diferente, o que, segundo a Telcel e a AT&T, gera desequilíbrios competitivos.

Atualmente, a Telcel detém 31,66% do espectro disponível para consumo em massa, a AT&T possui 20,4% e a Altán Redes, 9,85%, operando principalmente como fornecedora atacadista para mais de 130 empresas de varejo que atendem cerca de 17 milhões de clientes.

“O IFT não era tão autônomo”, critica  Carlos Slim

Slim também criticou as regulações impostas à Telmex e à Telcel pelo Instituto Federal de Telecomunicações (IFT), órgão que será substituído pela nova Agência de Transformação Digital e Telecomunicações (ATDT).

O empresário afirmou que, sob a supervisão do IFT, foram impostas várias restrições às suas empresas, impedindo o desenvolvimento de serviços que poderiam beneficiar os consumidores mexicanos. Entre as críticas, mencionou a recusa do órgão em permitir que a Telmex oferecesse serviços de TV por assinatura, mesmo possuindo a infraestrutura necessária.

“Temos uma grande rede de fibra óptica em todo o país, mas ainda não podemos oferecer TV por assinatura. Houve um momento em que iriam nos autorizar, mas não foi permitido”, lamentou Slim.

Ele também acusou o IFT de não agir com autonomia, alegando que algumas decisões foram influenciadas por interesses políticos. Slim destacou que, apesar de a Telmex ser considerada uma empresa “preponderante” em telecomunicações, atualmente detém apenas cerca de 38% do mercado de banda larga e enfrenta restrições para expandir seus serviços em determinadas regiões.

Além disso, mencionou o bom serviço prestado pela Telmex ao longo dos anos e o papel da empresa na criação da Telcel como concorrente direta. Nesse sentido, destacou o impacto do México na indústria móvel global:

“O pré-pago de celular foi inventado no México e agora 70% ou 80% do mundo usa”, afirmou.

Desenvolvimento econômico do México

Slim também falou sobre a economia e o desenvolvimento do país, destacando a importância do investimento em infraestrutura, da criação de empregos bem remunerados e da substituição de importações como fatores essenciais para o crescimento econômico do México.

Elogiou a recente reunião entre a presidenta Claudia Sheinbaum e empresários, ressaltando a necessidade de fortalecer a colaboração entre o setor privado e o governo. Além disso, informou que o Grupo Carso continua expandindo sua presença no setor de energia, com a construção de plataformas marítimas para a extração de hidrocarbonetos.

Em relação a temas sociais, Slim enfatizou a importância de combater a pobreza por meio da geração de empregos e da capacitação profissional, além de destacar a necessidade de melhorar a gestão da água no país.

Imagem no alto: Carlos Slim, durante o encontro com a imprensa no México (Crédito: reprodução da TV)

 

*********************************

Receba gratuitamente a newsletter do Mobile Time e fique bem informado sobre tecnologia móvel e negócios. Cadastre-se aqui!