Enquanto o Android vai ficando mais sofisticado e demandando mais memória RAM em suas novas versões, o Firefox segue o caminho contrário e baixou de 256 MB para 128 MB seu requisito mínimo, o que deve viabilizar smartphones a US$ 25. "Não vemos o Android como competidor. Nosso competidor são os feature phones", diz Andreas Gal, vice-presidente de mobilidade da Mozilla, em entrevista para MOBILE TIME concedida durante o Mobile World Congress (MWC), em Barcelona. O executivo vê como vantagens competitivas a abertura do HTML e o fato de a Mozilla ser uma fundação sem fins lucrativos. "Android e iOS são ecossistemas fechados, dominados por Google e Apple. Eles existem para o benefício de Apple e Google. E ambos cobram pelo uso da loja", critica. Sua aposta para atrair desenvolvedores está na escala da plataforma HTML. Gal diz que a participação de mercado do iOS é irrelevante se comparada com a massa de novos usuários de smartphones à qual o Firefox OS se destina.

MOBILE TIME – Por que Mozilla optou por focar no Brasil para o desenvolvimento do Firefox OS?

Andreas Gal – A primeira geração de devices foi desenhada para o Brasil. Levamos nossos engenheiros para passar uma semana no país. Eram 150 pessoas. Fomos recebidos pela Vivo. O Brasil era uma oportunidade para entrarmos no mercado. Não fazia sentido competir na gama alta. Havia melhor oportunidade junto às pessoas que ainda não tinham smartphones, gente em países onde não conseguiam comprar iPhones ou Androids de gama alta. A Telefônica se juntou ao projeto no primeiro dia e nos ajudou a entender o Brasil. Influenciou no design, na inclusão do rádio FM como parte do núcleo do sistema… Todas as versões do Firefox OS tem rádio FM. Isso foi um desafio para nossos engenheiros, que estão na Europa e na Ásia. Eles entendiam de email, de Android etc. Nos EUA, rádio FM não era importante, mas no Brasil é parte da vida de muita gente. Os primeiros aparelhos acabaram chegando ao Brasil depois da Venezuela e da Colômbia, mas o foco foi o Brasil. O protótipo foi feito para o Brasil, mas claro que alvo era a América Latina como um todo.

E o resto do mundo?

Anunciamos que vamos lançar na África e no sudeste asiático, onde há pessoas procurando smartphones mais baratos. Há tremenda oportunidade. Queremos oferecer uma excelente primeira experiência com smartphone. Mas não se trata só de preço. É um aparelho fácil de usar. Não é para competir com Android… É para quem tinha feature phone. Nosso principal competidor é o feature phone. Queremos ser o primeiro smartphone para essas pessoas.

Quantos usuários o Firefox OS tem hoje no mundo?

A Mozilla não vende os aparelhos. A Telefônica disse que na Venezuela e na Colômbia o Firefox respondeu por 9 e 11% da vendas. E no Uruguai o share foi de 30% no Natal passado. Superamos as expectativas. Viemos ao MWC para capitalizar esse momento e também para mostrar os próximos passos. Entraremos em 15 novos mercados neste ano, principalmente na América Latina e também na Europa. E três OEMS (Alcatel One Touch, ZTE e LG) anunciaram que estão expandindo o portfólio em Firefox OS. A ZTE apresentou dois novos devices; a Alcatel One Touch, três. E a Huawei também vai trabalhar com Firefox OS.

O Firefox mira a faixa de smartphones de entrada, mas o Android também está se barateando rapidamente…

Em sua nova versão, o Firefox OS vai poder funcionar com 128 MB de memória RAM. Antes requeria 256 MB. Agora podemos fazer telefones com preço de ponta de US$ 25, o que abre a possibilidade de atingir mercados mais sensíveis a preço. Não há smartphones nessa faixa de preço.

O Android tem a maior base de usuários do mundo, o iOS tem os consumidores com maior poder aquisitivo. O que o Firefox OS oferece para atrair os desenvolvedores?

O Google está querendo competir mais com o iOS e está puxando o ecossistema para cima. Os únicos Androids baratos são aqueles com versões velhas do sistema operacional, como a 2.3, e que nem oferecem os novos serviços do Google. As versões mais recentes do Android precisam de pelo menos 500 MB de RAM. Nós vamos na direção contrária: queremos diminuir a necessidade de RAM. Não vemos Android como competidor. Nosso competidor são os feature phones.

E a família Asha? É um competidor?

A Asha está mais perto de ser um competidor, mas não é um verdadeiro smartphone. É um feature phone. E a Asha não tem um ecossistema tão grande. O do Firefox é muito mais amplo.

Mas qual é o principal atrativo do Firefox OS para os desenvolvedores afinal?

A escala. É uma oportunidade. Nosso alvo é o próximo bilhão de pessoas que terão smartphones. Isso é muito mais do que o iOS oferece. Estamos falando de 80% do mercado. O iOS alcança um share irrelevante. Outra vantagem é a abertura do HTML5. Android e iOS são ecossistemas fechados, dominados por Google e Apple. Eles existem para o benefício de Apple e Google. E ambos cobram pelo uso da loja. O Firefox OS usa HTML5, que não é controlado por ninguém. O desenvolvedor tem a opção de botar seu app na nossa loja, mas pode distribuir de outras maneiras. Pode direcionar as pessoas para seu site para baixar, por exemplo. Não queremos controlar esse ecossistema. Somos uma fundação sem fins lucrativos. Não temos interesse comercial. Nossa missão é abrir esse ecossistema. Estamos estimulando provedores locais de conteúdo a trazer seus apps para a gente. E não se trata de uma tecnologia nova e desconhecida: todo mundo conhece HTML5, ao contrário da Asha.

Como estão lidando com as limitações técnicas do HTML5, como para jogos em 3D?

Quatro anos atrás ainda havia muitas limitações em HTML. Mobilidade não era um foco, simplesmente porque a Mozilla e outros não prestavam muita atenção para esse aspecto. Hoje, HTML em mobilidade é tão bom quanto na web. Não dava para usar NFC, Bluetooth etc. Hoje é possível. Estamos tentando trazer desenvolvedores de games para o Firefox OS. Não há mais uma desvantagem técnica. Queremos que seja possível fazer em HTML tudo o que se faz com Android e iOS. Estamos próximos disso.

Qual é a vantagem para o Firefox OS de ser desenvolvido por uma fundação sem fins lucrativos?

A grande vantagem é que o conselho da fundação não me perguntou em nenhum momento sobre como fazer dinheiro com isso. Nossa missão é prover uma tecnologia aberta. Não nos limitamos ao pensamento comercial. O Google criou o Android para ganhar dinheiro, e não tem problema nenhum nisso.

Mas há custos. Como pagam as contas?

Temos muitos usuários do Firefox no desktop e geramos um pouco de dinheiro com acordos de busca. Basta um pouco para pagar as nossas contas. E a Telefônica fornece apoio com engenheiros e tecnologia, mas sem qualquer transação financeira.

 

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