Cerca de um ano atrás um projeto liderado pelo Bradesco chamou a atenção do mercado brasileiro de mobilidade: pela primeira vez no Brasil, uma empresa privada negociou simultaneamente com as quatro grandes operadoras para bancar o acesso de dados ao seu aplicativo móvel por todos os seus correntistas. Nascia ali a Internet móvel patrocinada no Brasil. O case fez tanto sucesso que ganhou o Grand Prix do Júri no Prêmio Oi Tela Viva Móvel deste ano. À época, esperava-se que o modelo fosse replicado por outras empresas interessadas em estimular o acesso aos seus canais móveis, especialmente aquelas nas quais isso geraria redução de custos ou aumento de vendas. Circularam boatos de que outros bancos nacionais e grandes redes varejistas negociaram com as teles. Porém, passado mais de um ano desde a entrada em operação do Bradesco, não houve mais nenhum exemplo. Por quê?

À procura de respostas, MOBILE TIME conversou com algumas fontes envolvidas nas negociações que de fato aconteceram ao longo dos últimos 12 meses entre operadoras e diversas empresas. A primeira explicação é a seguinte: no case do Bradesco, as teles cobraram um preço baixo (ou justo, dependendo do ponto de vista) pelo Megabyte. Isso aconteceu porque se tratava do primeiro projeto do gênero e era importante pô-lo no ar para medir os resultados e o impacto nas contas e nas redes das teles. Para os projetos seguintes começou o impasse. Enquanto algumas operadoras concordavam em manter o preço cobrado do Bradesco, outras quiseram elevá-lo. Há relatos de ofertas abusivas, chegando a R$ 6 por MB, preço muito mais alto do que o cobrado para uma pessoa física, por exemplo. A conta não fecha. E como não faz sentido lançar com apenas uma ou duas operadoras, novos projetos de Internet móvel patrocinada simplesmente não saíram do papel.

O preço não foi o único obstáculo. Uma das fontes relata dificuldades técnicas nas conversas com as operadoras. Em algumas teles, não está bem definido de quem é a responsabilidade por tais projetos. "Há muita desorganização interna nas teles", reclama. Além disso, falta padronização nos requisitos técnicos solicitados ao cliente. Algumas pedem que sejam informados todas as URLs acessadas pelo app e que serão isentas de tráfego.  Outras querem detalhes sobre o conteúdo de cada uma das URLs. A configuração dos servidores das teles também é um trabalho demorado. Por conta do atraso, alguns clientes de comércio móvel perderam oportunidades sazonais que poderiam ter justificado o investimento em Internet patrocinada, descreve a fonte.

Em resumo: a falta de um modelo sustentável e a demora na implementação técnica e na definição de regras claras impediu até o momento que qualquer outro projeto de Internet móvel patrocinada se tornasse realidade. Paralelamente, no meio do caminho, o assunto virou tema de discussão também no âmbito legal e regulatório, com a aprovação do Marco Civil da Internet: há grupos que entendem que Internet móvel patrocinada feriria a neutralidade da rede.

De qualquer forma, essa história ainda não chegou ao fim. Ela está no meio. É possível chegar a um acordo se houver bom senso por parte das teles na definição dos preços e um esforço conjunto para a formatação dos requisitos técnicos e das regras para essa oferta. Se obtiverem sucesso, todos saem ganhando: as operadoras, os bancos, as redes varejistas e o consumidor final.

Zero-rating

Cabe lembrar que as teles firmaram individualmente acordos de acesso móvel gratuito com redes sociais e apps de mensagens como Facebook, Twitter e WhatsApp – alguns deles ainda em vigor. Porém, nestes casos, são parcerias do tipo "ganha-ganha". Não há pagamento de valores entre as partes. Não há geração direta de receita. As teles concordaram em liberar o acesso a essas redes sociais e apps de comunicação para estimular a experiência de navegação móvel entre os clientes pré-pagos, acreditando que esses portais serviriam de janela para o resto da Internet, cujo acesso, aí sim, demandaria a contratação de um plano de dados pelo cliente. No exemplo específico do acordo entre TIM e WhatsApp, o objetivo é ter um diferencial em relação às outras teles, conquistando novos clientes e fidelizando os atuais. Enfim, na prática, nestes casos, quem patrocina a Internet móvel são as próprias teles.

 

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