O NFC (Near Field Communication) é uma tecnologia madura, já utilizada em diversas  aplicações, em vários países do mundo – especialmente na Ásia. Oferece uma série de vantagens únicas, inclusive em relação a outras tecnologias de comunicação sem fio:   uso intuitivo, versatilidade (que permite sua aplicação em um grande número de segmentos de negócio), segurança nativa, interoperabilidade e padronização, só para citar algumas delas.

Quando associado a um celular ou a outro dispositivo NFC, traz ainda como uma das principais vantagens a substituição de cartões de pagamento (crédito e débito) pelo aparelho. O celular passa a ter a função de carteira eletrônica, com a qual é possível comprar ingressos, pagar o ônibus, metrô ou produtos de baixo valor – como o jornal ou o cafezinho. Enfim, o leque de aplicações para dispositivos móveis com NFC é enorme e está só começando a ser explorado. É uma tendência irreversível, que vem ganhando cada vez mais força em todo o mundo.

No Brasil, essa tecnologia já está disponível, principalmente, para o uso como ferramenta de marketing e de acesso a informações. Ao aproximar o celular NFC de um cartaz ou display dotado de etiqueta (tag) também NFC, o usuário pode receber na tela do aparelho informações sobre um evento, um produto à venda em uma loja, descontos promocionais ou até mesmo sobre as obras de arte de um museu, por exemplo.

Uma aplicação desse tipo foi demonstrada durante o CIAB Febraban 2012, que se realizou em junho, em São Paulo: 30 smartposters, espalhados pelo ambiente do evento, traziam uma tag NFC com informações sobre a programação do congresso, que podiam ser “lidas” por qualquer dispositivo equipado com essa tecnologia. Para ter uma aplicação como essa, basta dispor de um servidor de conteúdo conectado a uma rede, ou à nuvem da internet, por meio da qual os dispositivos móveis, dotados da tecnologia NFC e de aplicativos específicos, podem acessar as informações – com um simples toque na tag NFC.

Já para ter uma aplicação de pagamento via celular com NFC, a operação é mais complexa, uma vez que envolve vários players: bancos, redes de captura, empresas de cartão de crédito, estabelecimentos comerciais, operadoras de serviços móveis, além dos próprios clientes. Esse ecossistema precisa ser gerenciado por um organismo ou empresa independente, conhecido como Trusted Service Manager (TSM). Seu papel é o de um agente gerenciador dentro do ecossistema NFC, de preferência isento, que tem como principal função intermediar e garantir a segurança das transações entre as operadoras móveis e os diversos provedores de serviço (bancos, empresas de cartões e estabelecimentos comerciais).

Na Europa, já existem duas iniciativas de consórcios – projetos Oscar (Inglaterra) e Travik (Holanda) – visando a criação de empresas TSM independentes, com a função de conectar operadoras móveis e bancos e viabilizar o lançamento do serviço de carteira eletrônica (e-wallet). De acordo com o cronograma, os testes nesse sentido deverão ser realizados no primeiro trimestre de 2013.

No Brasil, no entanto, ainda estamos distante dessa realidade – embora a tecnologia esteja pronta, madura, e os aparelhos com NFC estejam começando a chegar ao nosso mercado. Então, o que falta?

Faltam o TSM e a criação de um marco regulatório para o serviço, onde o modelo de negócio e o papel de cada player estejam bem definidos. Instituições financeiras,  operadoras móveis e outros players desse ecossistema precisam sentar e começar a discutir esse modelo, que deverá ser adotado em todo o país. Hoje não temos sequer um grupo de trabalho estruturado tratando desse assunto no Brasil. E, enquanto não houver um organismo isento para definir um modelo de negócios para essa nova forma de pagamento eletrônico, o NFC não vai decolar.

Afinal, quem vai garantir a negociação das taxas de serviço entre as partes envolvidas, ou o nível de segurança exigido pela transação? Ou ainda permitir a entrada no ecossistema de novos players antes nunca vistos no mercado financeiro?

Esse é o grande desafio que temos pela frente.

 

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