"Wikipedia dos mapas": esta é uma boa definição para se entender o OpenStreetMap (OSM). Trata-se de uma iniciativa internacional de construção aberta e colaborativa de mapas para uso livre e gratuito que tem atraído cada vez mais o interesse por parte de desenvolvedores de aplicativos móveis. Foursquare, Tripadvisor, Moovit e Scout são alguns dos aplicativos que preteriram o Google Maps e outras opções privadas em favor dos mapas do OSM, não apenas por razões de custo, mas também de qualidade. No Brasil, uma comunidade crescente de editores voluntários, hoje composta por mais de 3 mil pessoas, trabalha frequentemente no aperfeiçoamento dos mapas e planeja a abertura de uma associação nacional que possa representar formalmente o projeto no País. A criação dessa entidade, junto com o lançamento de um site brasileiro para o OSM, deve acontecer no segundo semestre e alavancar ainda mais a adoção desses mapas no Brasil.

"Entre outros mapas que também são colaborativos, o OSM está despontando como uma opção global, sendo adotado por grandes players a nível mundial", explica Thierry Jean, country manager da Telenav, empresa cujo app de navegação por GPS, chamado Scout, adotou o OSM nos EUA. Uma das vantagens do OSM sobre o Google Maps é a possibilidade de os mapas serem baixados, o que viabiliza a navegação sem conexão à Internet. A utilização dos mapas do OSM é completamente livre: empresas podem comercializar soluções com eles, além de criar plug-ins e SDKs, como fez a Telenav, por sinal. A única exigência é que seja dado o crédito.

As ferramentas de edição do OSM estão disponíveis no site do projeto e permitem desenhar e nomear ruas, pontos de interesse, estabelecimentos comerciais, ciclovias etc. Não há restrição do que pode ser mapeado: qualquer coisa que tenha localização fixa pode entrar. Em alguns países, o trabalho de mapeamento está bastante avançado. Na Alemanha, os mapas do OSM são considerados mais detalhados que aqueles dos concorrentes privados. Na cidade de Karlsruhe, por exemplo, os editores começaram a mapear as árvores, porque todo o resto já fora incluído. Como base para o trabalho, são usadas imagens de satélite fornecidas gratuitamente pela Microsoft, em um acordo com a fundação OSM.

No Brasil, as grandes metrópoles, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, já têm sua infraestrutura viária bem mapeada e com praticamente todas as ruas nomeadas. No interior, contudo, ainda há muito trabalho a ser feito, reconhecem membros da comunidade. O Brasil está entre os 15 países com maior quantidade de colaboradores editando por dia. Somente na última quinta-feira, 10, por exemplo, 51 pessoas editaram o mapa brasileiro, o que fez do Brasil o 11º na lista dos mais participativos nesse dia. Para efeito de comparação, na mesma data, a Alemanha ficou em primeiro lugar, registrando a participação de 477 membros. Os EUA vieram em segundo, com 240.

A expectativa é de que a criação da associação brasileira do OSM vai ajudar na obtenção de dados junto a prefeituras. Há um esforço em atrair para o projeto empresas de serviços públicos, como operadoras de telecomunicações e distribuidoras de energia, assim como construtoras e empreiteiras. São companhias que hoje pagam caro por atualizações em mapas privados e que poderiam contribuir bastante com o OSM, além de economizar custos.

Comunidade

O OSM nasceu em 2004, na Inglaterra. Diante da dificuldade de obter mapas com os órgãos públicos britânicos, o empreendedor Steve Coast decidiu ele próprio começar a viajar pelo país e mapear o que via pela frente, munido de um laptop e um GPS. Ele tornou os dados públicos e gratuitos e abriu o projeto para a participação de quem quisesse. Foi criada então a Fundação OpenStreetMap, que gerencia o banco de dados global e mantém os servidores onde ele está hospedado, assim como a listas de discussão internacionais do projeto. A fundação não tem fins lucrativos e é mantida por doações, tal como acontece com o Wikipedia.

Qualquer pessoa pode se registrar no site do OpenStreetMap e editar os mapas. Hoje, há mais de 1,6 milhão de usuários cadastrados ao redor do mundo. Para se ter uma ideia do crescimento, em janeiro de 2012 eram 500 mil. Geralmente os colaboradores mais ativos são pessoas que já trabalharam anteriormente com sistemas de informação geográfica (GIS, na sigla em inglês), programadores de softwares que requerem mapas e aficionados por GPS automotivo.

O ideal seria que cada um dos usuários ajudasse um pouco no mapeamento da sua vizinhança. Na prática, contudo, a maior parte do trabalho é feita por poucas pessoas, aquelas mais entusiasmadas com o projeto. "O OSM é feito principalmente por gente que encara o projeto com paixão e adora editar. Às vezes aparece um sujeito que mapeia um bairro inteiro ou uma cidade inteira", comenta Vitor George, um dos membros mais ativos da comunidade brasileira. Ele conta como aderiu à iniciativa: "Conheci o OSM em 2008. Sou engenheiro de transporte e desenvolvedor de softwares. Era muito difícil ter acesso a dados de qualidade sobre a infraestrutura de transportes no Brasil. Por isso vi grande potencial no OSM. Hoje sua atividade principal é programação do softwares: ele trabalha em um laboratório que desenvolve plataformas de meio-ambiente e cidadania com o uso de mapas.

Como em qualquer projeto aberto e colaborativo, acontecem casos de vandalismo, ou seja, de gente que passa propositalmente dados equivocados ou desfaz o trabalho dos outros. Mas esses incidentes são insignificantes perto da grandiosidade da iniciativa e são monitorados e consertados pela própria comunidade. Usuários identificados como sabotadores são bloqueados pela fundação e perdem o direito de editar. "Em um mapa proprietário, para se trocar o nome de uma rua é preciso mandar um email para alguém e aguardar. A diferença no OSM é que está todo mundo olhando. Se alguém mudar equivocadamente o nome de uma rua, a comunidade inteira vê e qualquer um pode consertar", explica George.

 

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