A Comissão Europeia recebeu da entidades do setor de telecomunicações, com apoio da associação global de operadoras móveis, a GSMA, na semana passada em Bruxelas, um manifesto no qual pede urgência na implantação da tecnologia 5G na região dentro das diretrizes do mercado único digital (DSM, na sigla em inglês). A intenção é incentivar interações e colaborações entre verticais da indústria (como transporte, fábricas, logística, saúde, energia, mídia e entretenimento) para a formação de ecossistema com demonstrações em larga escala, além de o estabelecimento de uma agenda regulatória orientada à facilitação de investimentos. A iniciativa inclui diversas medidas para tentar facilitar investimento no setor de telecomunicações, incluindo críticas à neutralidade de rede.
Para financiamento, atenta para a criação de um fundo de capital 5G (5G Venture Fund), com valores acima da marca de um bilhão de euros para aplicações entre verticais. A Comissão fala ainda em um aporte de entre 500 milhões de euros e 1 bilhão de euros usando fundos já existentes para demonstrações em larga escala. Em relação a espectro, fala em harmonização da faixa de 700 MHz, entre 3,4 GHz e 3,8 GHz, e outras bandas mais altas, acima de 24 GHz, até 2020.
Sugere também que os estados-membro da União Europeia precisam reconciliar a necessidade de "regras pragmáticas para a Open Internet para incentivar a inovação". O manifesto afirma que a indústria de telecomunicações "alerta para as atuais diretrizes de neutralidade de rede" feitas pelo grupo de reguladores europeus Berec que causariam "incertezas significativas em relação a retorno de investimento em 5G". Falam em "perigo de regras restritivas" nesse contexto, uma vez que a quinta geração introduz o conceito de camadas de rede para acomodar modelos de negócios de verticais da indústria, incluindo garantia de acordos de nível de serviço (SLAs).
Os casos de uso para a tecnologia incluem virtualização de rede, carros conectados, saúde digital, redes de transporte e logística, segurança pública, smart grids, smart cities, e projetos de entretenimento e mídia como integração entre rede terrestre e satelital e vídeos imersivos (realidade virtual e aumentada).
Estratégia
O manifesto explica que o diálogo entre as verticais da indústria e o setor de telecomunicações precisa ser forte, "a começar de uma base de profundo entendimento mútuo". Menciona a necessidade de investimento em escala para a colaboração para garantir que a 5G possa criar valor ao oferecer soluções digitais não apenas para os negócios europeus, mas em todo o mundo. Afirma ainda que precisa encorajar a inovação entre setores por meio de políticas adequadas e aglomerados de programas de experimentos, testes e pilotos em larga escala. Para tanto, sugere investigar se é possível uma harmonização regulatória em "alguns setores da indústria, como saúde, energia e transporte automatizado" para um mercado pan-europeu. "As melhorias políticas entre setores precisam ser ambiciosas e implantadas rapidamente para poder capitalizar na 'janela' de inovação da 5G", diz a carta.
As iniciativas de estabelecimento de ecossistema incluem o papel dos reguladores e da indústria no desenvolvimento de padronização, ajudando na harmonização e incentivando o investimento intensivo do setor privado. Os testes em 5G seriam divididos em duas etapas: antes de 2018, o que significa antes do primeiro release de padrão pelo 3GPP, e que visa a validação das capacidades da tecnologia para impulsionar o ecossistema; e após 2018, já com espectros pré-selecionados para a conferência de radiocomunicações da União Internacional de Telecomunicações no ano seguinte, a WRC 2019. Nesta fase, os stakeholders europeus estabelecem acordos em especificações de testes válidas para toda a região "baseadas o máximo possível em sistemas de acordo com padrões".
Resposta aos EUA
As várias entidades ligadas ao mundo de telecomunicações mencionam que, em fevereiro, a Comissão Europeia estabeleceu o Plano de Ação 5G, com metas para incentivar a região a liderar a implantação de redes padronizadas a partir de 2020. Mas o manifesto pode ser interpretado também como uma resposta das teles na Europa aos Estados Unidos. O anúncio foi feito apenas 15 dias após a agência reguladora norte-americana, a Federal Communications Comission (FCC), por meio do chairman Tom Wheeler, ter solicitado pedido de urgência ao governo para a quinta geração de redes móveis, colocando-a como "prioridade nacional".