[Atualizado às 16h22 do dia 15/01/2024 trocando CNH por Case IH] O primeiro especial do Mobile Time em 2024 aborda um dos temas mais debatidos nos últimos anos: o avanço da conectividade celular no agronegócio. A publicação procurou líderes e parceiros das três grandes operadoras para entender como está a expansão e oferta de conectividade no campo. Em conversas com Claro, Vivo e Case IH (parceira da TIM) é possível notar que o caminho para as fazendas conectadas vai da oferta de prateleira de produtos e serviços até fabricantes dando ERBs para grandes produtores que compram robustos equipamentos agrícolas, como colheitadeiras e tratores.

Cenário

TIM e Adeagro

Foto: divulgação (ConectarAgro)

A proporção de domicílios conectados no campo cresceu 20 pontos percentuais (51% para 71%) entre 2019 e 2021, mas o CGI.br pontua que apenas 20% dos domicílios rurais acessam a Internet pela rede móvel contra 40% que acessam via cabo ou fibra. Durante a divulgação do resultado em junho do ano passado, Fábio Storino, coordenador da pesquisa TIC Domicílios, afirmou que o fato de a conectividade ter crescido em três anos não significa que há qualidade nessas conexões.

Pelo ponto de vista corporativo, o agro brasileiro possuía 28 redes celulares privativas (RCPs) contra um total de 128 computadas no primeiro Mapa do Ecossistema de Redes Celulares Privativas no Brasil feito por Mobile Time em julho de 2023. O setor agrícola perde apenas para o de óleo e gás em quantidade de RCPs.

TIM e Case IH

A TIM recentemente chegou a 16 milhões de hectares cobertos com sua rede 4G. Um dos locais com essa tecnologia é a Fazenda Conectada, dentro da empresa Agropecuária Jerusalém, em Água Boa, cidade a 450 km de Cuiabá. O espaço tem como um dos principais parceiros da operadora a Case IH,  marca da CNH, multinacional de maquinário agrícola.

Entre os benefícios gerados pela parceria estão:

  • 25% de redução de consumo de combustível por litro em equipamentos agrícolas, economia de R$ 300 mil se comparar a safra de 2023 com a de 2022;
  • 10% de queda na emissão de CO²;
  • Diminuição de três dias na janela de colheita com a redução do motor ocioso (6%) e aumento do tempo de trabalho (4%);
  • Aumento da produtividade em 3,5%, o equivalente a 2,35 sacas de soja a mais por hectare em uma área de 3,2 mil hectares;
  • R$ 1,4 milhão de investimento recuperado em um ano e meio com o aumento de duas sacas por hectare, se comparado com outra fazenda da mesma região sem conectividade;
  • Apoio à comunidade local de Água Boa com LTE para 25 mil pessoas, 27 escolas e uma universidade e dez postos de saúde, que antes não tinham acesso ao 4G.

Os dados foram obtidos por meio de um estudo da Agricef (startup de soluções customizadas para o agro) com a Unicamp, além de apoio da Case IH para definir os indicadores-chave (KPIs). No processo de avaliação foram usados dados históricos da própria fazenda (período com e sem conectividade) e da região através da Embrapa.

A partir deste caso de uso para o agronegócio, Eduardo Penha, diretor de marketing da fabricante, explicou que o projeto evoluiu para a “servitização” (agregando serviços aos produtos vendidos) e resolução de problemas remotos em equipamentos agrícolas por meio do sistema AFS Connect Center. Além disso, toda a infraestrutura da região, com equipamentos da Nokia e torre da Highline, está pronta para o 5G.

Com essa vitrine para o agronegócio, a Case IH conseguiu mostrar os benefícios para seus clientes e gerar negócios. Penha revelou que, em alguns casos, a companhia deu a antena e a conectividade da TIM para o agricultor. Essa ação valia para os principais agricultores que faziam parte do Agleaders, um programa da Case IH. A ideia é que o produtor agrícola que compra máquinas como tratores e colheitadeiras (de milhões de reais) possa usufruir da conectividade desses equipamentos no todo e iniciar sua jornada de transformação digital.

“O agricultor está percebendo que, se não investir, vai ficar para trás. Se ele não rastrear processos, vai ter problemas lá na frente”, afirma Penha, sem revelar quantos clientes receberam os equipamentos de telecomunicações.

“Hoje o agricultor descobre que precisa de um responsável de TI. Isso tem sido um problema para o agricultor para que os sistemas e as APIs conversem entre si. O agricultor não sabe o caminho para a digitalização. Nós damos esse caminho”, completa, ao lembrar que os equipamentos da Case IH saem de fábrica 100% prontos para conectividade.

Embratel

Por sua vez, a Embratel começa a sua jornada no agronegócio com ofertas de prateleira em parceria com a canadense Farmers Edge. Segundo Adriano Rosa, diretor-executivo da operadora, a companhia focou primeiro em ampliar a conexão no campo para depois trazer as soluções para os agricultores.

“Todas essas soluções são baseadas nas demandas do cliente. O agronegócio sempre foi um grande objetivo e um grande desafio. Agora, cada vez mais queremos levar soluções para o agro”, diz Rosa. “Por isso levamos o Smart Farm para conectar e levar conexões de IoT ao campo”, completa.

O conjunto de soluções é oferecido como SaaS em software de gestão e orquestração da Farmers Edge e pode ser usado por todos os níveis. O Smart Farm é oferecido em quatro módulos:

  1. Smart Imagery, com dados e imagens de satélite da fazenda para detecção automática de pragas no campo até problemas em equipamentos agrícolas;
  2. Smart Insite, uma estação meteorológica para captar informações sobre umidade, temperatura, precipitação em tempo real, com informações de satélite, e assim realizar o monitoramento de culturas;
  3. Smart, a união do Imagery com o Insite e a adição de telemetria para monitorar equipamentos, como colheitadeiras e tratores que não estão conectados;
  4. Smart VR e o Smart somados são uma consultoria agronômica para analisar o solo com intuito de melhorar a aplicação de fertilizantes e corretivos agrícolas.

Atualmente em testes, a Farmers Edge entra com a tecnologia, e a Embratel, com a conectividade, entrega, faturamento, cobrança e revenue share. Um quinto módulo está no radar das companhias, o Smart Silo, uma solução para ver se um silo de grãos está cheio ou não, por exemplo, além de checar a geração de gases perigosos às commodities.

Na conectividade, Rosa conta que há uma oferta de rede privativa com recorte de rede pública para o agronegócio. Ou seja, em uma ponta está a conectividade dedicada para as fazendas e seus hectares e a outra ponta para as comunidades ao redor. Dá como exemplo, o chip SIM que conecta os dispositivos dentro da fazenda e que é diferente dos chips das pessoas usuárias da rede de telefonia móvel.

“Diferentemente do passado, quando a pessoa ficava meses afastada no meio de uma fazenda, hoje em dia, ela quer estar conectada. Até isso é um diferencial que ajuda o agricultor. E se tem uma equipe produzindo também com qualidade, além dos maquinários, é bom”, diz Adriano Rosa. “É comum falarmos de máquina, máquina, máquina e máquina. Mas tem pessoas lá. São centenas de milhares de pessoas trabalhando no agro. E poder estar ali, em um processo de colheita, conectado, também é bom”, conclui.

Vivo

Sem dizer quem são ou quantos são seus clientes no agronegócio, Diego Aguiar, diretor de IoT e big data da Vivo, explica que a operadora quer levar conectividade ao campo, adicionando produtos em cima dessa conectividade, de modo que o produtor possa ter a sua operação cada vez mais digital. Nesse cenário, a empresa atua como provedor de conectividade, serviços e integrador, além de oferecer parcerias com startups e com o Broto, do Banco do Brasil.

Em sua estratégia, a companhia oferece as soluções do Vivo Agro com:

  • Vivo Maquinário Inteligente: telemetria avançada e gerenciamento de veículos pesados;
  • Vivo Clima Inteligente: análise do clima com estações meteorológicas;
  • Vivo Agro Gestão Pecuária: gestão de pecuária e corte;
  • Vivo Frota Inteligente: gestão de veículos e condutores com telemetria;
  • Drone Pro: drones de pulverização para o campo.

Além disso, a companhia oferece conectividade rural via redes privativas e redes específicas para Internet das Coisas, como NB-IoT e LTE-M. O diretor da operadora afirmou que a companhia investiu ao todo “R$ 9,5 bilhões, com foco majoritário na expansão das melhores opções de conectividade móvel do mercado, com 4,5G e 5G, e fixa, com fibra”.

Em resposta por e-mail, Aguiar explica que as soluções oferecidas pela Vivo são personalizadas de acordo com as necessidades do cliente: “Junto com o cliente, desenhamos a melhor solução para suas necessidades. Por isso, nós somos capazes de atender os mais variados perfis também no agro”.

Atualmente, o B2B da Vivo tem 1,5 milhão de empresas em sua carteira. “O agronegócio se tornou chave para a nossa companhia. E a resposta positiva do agro e dos demais setores industriais está diretamente ligada às nossas receitas em serviços digitais B2B (cloud, cibersegurança, IoT, entre outros) que, em 2022, alcançaram R$ 2,7 bilhões, valor 29% superior, quando comparado a 2021”, completa.

Imagem principal: Reprodução de campo conectado da ConectarAGRO que TIM e CNH fazem parte (Divulgação: ConectarAGRO)