A Palenca é uma fintech de verificação de dados. Nascida no México em 2021, aportou no Brasil no início de 2023, no Cubo Itaú, tendo como foco inicial os trabalhadores de aplicativo de delivery e de transporte particular. Por meio de uma API, a empresa faz a validação de informações de emprego e renda desses profissionais para seus clientes, no caso, bancos e fintechs. Recentemente, a Palenca passou a acessar os dados de celetistas, ou seja, pessoas empregadas com carteira de trabalho (CLT), um total de 43,4 milhões de trabalhadores, de acordo com o governo federal (dados de julho de 2023), um produto desenvolvido no Brasil. Vale dizer que, de acordo com o IBGE, o País tem 1,49 milhão de motoristas, entregadores ou profissionais de serviços gerais de aplicativos.

Ainda neste primeiro trimestre, a Palenca pretende expandir para ter acesso a dados de MEIs (em 2021, segundo o IBGE, eram 13,5 milhões no Brasil) e revendedores por catálogo, como Avon e Natura (são cerca de 2 milhões, de acordo com dados da fintech), englobando, então, mais de 60 milhões de trabalhadores do País.

Como funciona

A partir de um modelo de negócio B2B2C, bancos e fintechs que desejam oferecer produtos e serviços a esses profissionais usam a API da Palenca para acessar esses dados dentro dos aplicativos de transporte e delivery, por exemplo. A API da fintech está integrada aos apps de Uber, 99, inDrive, iFood, Rappi e Cornershop. Para os celetistas, a opção é a integração com a Carteira de Trabalho Digital.

Entre as ofertas há cartões de crédito, consignados, crédito imobiliário, financiamento de veículos, entre outras para pessoas físicas.

Palenca

Luiz Felipe Bolonhez, country manager da Palenca no Brasil. Executivo defende que solução da fintech oferece boa experiência para instituição financeira e trabalhadores. Foto: divulgação

Na prática, o banco ou a fintech pede para que a Palenca valide informações de renda desses profissionais. Para isso, a instituição financeira compartilha com o usuário um link que vai direcioná-lo para a aplicação da Palenca. Isso pode estar no próprio aplicativo do banco ou em seu site, por exemplo. Ao clicar, o cliente é direcionado para um prompt da Palenca onde há uma explicação de quem está pedindo os dados e o seu propósito. Neste caso, o profissional de app de transporte faz o login como se estivesse na plataforma do app para o qual trabalha e, com isso, a fintech tem acesso aos dados de quantas corridas aquele profissional fez, o modelo do veículo, o valor que arrecadou no mês, sua nota no aplicativo, entre outros dados. Caso ele também trabalhe para outra plataforma, é possível clicar no link dentro do app entrar em um outro prompt e fazer o login como se estivesse no aplicativo. Desta forma, a empresa que contratou os serviços da fintech tem um panorama amplo do profissional e pode oferecer um produto ou serviço personalizado.

No caso da carteira de trabalho digital, o acesso é pelo gov.br, mas é semelhante. O trabalhador entra no prompt da Palenca a partir de um link oferecido pelo banco/fintech e deve digitar suas credenciais da plataforma do governo. E, mais uma vez, a fintech tem acesso às informações de renda do profissional, tempo de trabalho, se está empregado etc. “E é exatamente isso que é o open finance. A Palenca acaba inserida no arcabouço regulatório do open banking”, resume Luiz Felipe Bolonhez, head da operação da empresa no Brasil.

“Existem três formas de validação desses dados. A primeira é a renda declarada. O problema é que se trata de um valor não muito confiável, a pessoa pode falar qualquer coisa. A segunda é pelos birôs de crédito, que também fazem uma estimativa. E a terceira é a verificação manual – que pode ser o holerite, extrato bancário ou imposto de renda, por exemplo. Mas é uma experiência ruim para o usuário final e a conversão cai. E para a instituição também é ruim porque hoje em dia é fácil falsificar um e precisa rodar um software antifraude. São três métodos ruins e complicados”, resume Bolonhez.

Depois de acessar os dados de renda do profissional via carteira de trabalho digital, a fintech entrega um resumo para seu cliente com dados sensíveis, como nome, sobrenome, CPF, nome do empregador, seu cargo e o salário bruto registrado, data de admissão e data final do contrato. Caso não tenha data final, significa que ele está empregado. “São dados sensíveis e por isso estamos preocupados com a proteção de dados dessa pessoa. Não à toa, nosso escritório de advocacia é o Pinheiro Neto Advogados, especialista no assunto. Nós estamos no programa de aceleração de startups do escritório e eles nos dão assessoria jurídica. Eles fizeram um parecer para o nosso modelo de negócio e nos categorizou como open finance”, conta Bolonhez.

Clientes e modelo de negócios

Como modelo de negócios, a Palenca cobra por API call, ou seja, quando um trabalhador usa suas credenciais em sua plataforma.

A fintech está presente em oito países da América Latina. Além de México e Brasil, está em Chile, Colômbia, Argentina, Peru, República Dominicana e Costa Rica.

Atualmente, a empresa possui seis clientes no Brasil e está rodando oito pilotos.

O primeiro projeto no Brasil foi com o Banco Neon. Vendo que muitos de seus clientes eram gig workers, a instituição financeira usou os serviços da Palenca para comparar os dados que possuíam com aqueles da Palenca para oferecer produtos e serviços mais condizentes e personalizados. “A gente viu que, em média, a renda efetiva extraída pela fintech era 46% maior do que a da base de dados do Neon”, explica o executivo.

“Uma parte bacana da Palenca é que tem muito motorista e entregador que se não fosse pela nossa tecnologia muito provavelmente não conseguiria crédito em lugar nenhum. A gente põe no mapa uma turma que hoje está fora da norma tradicional celetista”, acredita.

 

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