Cada vez mais a tecnologia se faz presente em grandes eventos musicais, seja para prover boas experiências ao público, garantir a sua conectividade ou levar mais segurança. Nos últimos anos, festivais de música, como Rock in Rio, Lollapalooza, Tomorrowland e The Town, em parceria com diversas empresas de tecnologia, levaram cães-robô, drones, pulseiras inteligentes com NFC e conectividade 5G para transformar um dia de festival em uma experiência de vida. Mobile Time reúne algumas dessas soluções e mostra como são oferecidas em grandes festivais de música.

Segurança

Na última edição do Rock in Rio no Brasil, em 2022, a SegurPro, fornecedora oficial do evento, desenvolveu um plano que incluía mais de 130 câmeras de segurança (entre dome, fixa e fish eye), duas câmeras noturnas, uma câmera térmica, dois radares perimetrais, dois drones, 30 bodycams (câmeras corporais acopladas ao colete dos vigilantes) e um software de reconhecimento facial no Parque Olímpico localizado no Rio de Janeiro.

Em outros eventos, como o The Town, realizado no Autódromo de Interlagos, zona sul de São Paulo, a empresa levou inteligência artificial (IA), mais de 100 câmeras instaladas no espaço – sendo duas térmicas, 40 bodycams, dois radares perimetrais, cinco drones, entre outros equipamentos. Além disso, o projeto contou com um cão-robô, o Yellow, que atuou na prevenção e combate a qualquer incidente.

Rock in Rio

Yellow, o cão-robô da SegurPro no Rock in Rio em 2022. Foto: Divulgação/SegurPro.

O cão-robô utilizou conectividade 5G para coletar dados do ambiente, como temperatura anormal (detecção de incêndio), detecção de eventos suspeitos e, se necessário, se expor ao evento, evitando o risco à vida humana, além de outros tipos de situações que pudessem impactar a segurança do evento.

Atualmente, ele dá à equipe do Centro de Controle Operacional (CCO) a visualização de cada espaço, como áreas VIP etc. Ao Mobile Time, Regis Noronha, diretor de transformação da SegurPro, comenta sobre o Yellow: “Ele caminha, então pode nos apresentar qualquer perigo, um gás que está vazando, por exemplo”.

“No Rock in Rio, existem pessoas que tentam chegar de barco ou nadando. Então, o software de análise de imagens, através do drone, está programado para ter a visão de um corpo estranho e que não está permitido estar ali”, explica Noronha. Em outro exemplo, Noronha cita o caso de uma mochila largada em um espaço dentro do evento. “Isso não é normal, pode ser algo ruim, ou às vezes apenas deixaram uma mochila, mas tudo o que não faz parte ‘do normal’ é identificado”, aponta.

O drone, por sua vez, tem a função de monitorar tudo, desde a parte periférica até o que está dentro do festival. Ele tem uma zona de segurança estabelecida para poder voar e áreas específicas em que é possível descer para visualizar um determinado problema. Também possui uma verificação comportamental: se um artista atrasa, por exemplo, o drone consegue perceber a inquietação do público.

Para o diretor, este equipamento se tornou uma peça estratégica, porque tem a capacidade de zoom óptico de 40x e visão térmica, permanecendo constantemente no ar, tanto de dia quanto de noite. No Rock in Rio, foram utilizados dois drones próprios da companhia, e no The Town, além dos dois drones próprios, a SegurPro contou com outros parceiros na implementação de três drones, sendo um deles cabeado.

As câmeras corporais fazem a gravação e a transmissão de áudio e imagem de alta resolução em tempo real para o CCO. Já o software de reconhecimento facial OnWatch é um recurso adicional instalado em algumas das centenas de câmeras espalhadas nos eventos. Essa tecnologia pode ser utilizada para a busca de pessoas através de características faciais e atributos físicos visuais, como a cor do vestuário, gênero, faixa etária etc.

Antes de qualquer evento, a engenharia técnica vai ao local para identificar todo e qualquer tipo de problema com o objetivo de aplicar a tecnologia mais adequada para cada lugar. Com a análise prévia de todo o ambiente e dos vários palcos, é possível saber quantos equipamentos distintos são necessários para abranger o espaço. Em um ambiente como o Tomorrowland, onde a SegurPro também atuou, a sua maior preocupação foi a conectividade. Já no RiR, foi o “ambiente vulnerável”.

“Cada local tem uma complexidade, alguns terrenos são planos e outros não. No fim das contas, a conectividade é o ponto chave, pois se não tivermos uma boa conexão, não conseguimos fazer o monitoramento”, destaca o executivo.

Conectividade

A TIM foi a responsável pela cobertura 5G no Parque Olímpico para o Rock in Rio em 2022. Logo após o lançamento da rede de quinta geração no Brasil, a operadora registrou cerca de 30 mil a 40 mil pessoas que consumiram 133 terabytes de dados nos sete dias de evento. A velocidade média era de 300 Mbps com picos de 1 Gbps.

Com um serviço ainda incipiente, o diretor de engenharia da empresa, Homero Salum, em conversa com Mobile Time, conta que 20% desse total correspondeu ao uso do 5G no festival. Para o festival deste ano, ele aponta que a tendência é aumentar.

Foram instaladas 25 antenas 5G no RiR e, na época, as instalações foram suficientes dado a demanda prevista de cerca de 100 mil pessoas por dia. Este ano, os equipamentos já estão sendo instalados para o evento no segundo semestre e a expectativa é que a operadora provenha mais antenas que a última edição.

“Esta edição do Rock in Rio tende a ser a primeira em que mais da metade do tráfego no evento vai cursar sobre a tecnologia 5G. Essa é a nossa expectativa”, prevê o diretor de engenharia. 

“O 5G trouxe a possibilidade de conectar as pessoas com qualidade de serviço nesses grandes festivais e, adicionalmente a isso, ele traz outras potencialidades. Ele permite, por exemplo, que o usuário tenha mais segurança com o amplo uso de câmeras, com inteligência artificial, reconhecimento facial, realidade aumentada etc”, observa Salum.

No caso do The Town 2023, foi feita uma parceria entre Vivo e Ericsson para implementar a tecnologia de network slicing no 5G (ou fatiamento da rede). De acordo com o Elmo Rocha, diretor de planejamento de redes da Vivo, o objetivo era possibilitar a entrada ao vivo dos repórteres na programação da TV Globo, Globonews, Multishow e Bis, por meio de quatro mochilinks – equipamentos móveis que permitem a transmissão de áudio e vídeo através da rede 5G da Vivo – disponibilizados aos profissionais durante os cinco dias de evento com 500 mil pessoas ao todo.

Outros eventos como o festival gratuito de música no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, o TIM Music Rio, também foi marcado pela conectividade da TIM. Artistas como Djavan, IZA, Gloria Groove, Marina Sena, Baco Exu do Blues, Rael e Preta Gil estiveram presentes. “Para cada evento, a depender das suas características, é feito um dimensionamento para prover uma excelente experiência aos nossos clientes”, salienta Salum.

Meios de pagamento

No Lollapalooza deste ano, além da SegurPro e da Vivo, com as soluções já apresentadas, a Cielo participou fornecendo uma solução integrada na Lio On, seu smart terminal. Essa é uma maquininha inteligente que foi usada para a recarga de pulseiras (sistema cashless) e para o processamento de todas as transações do festival.

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Máquina inteligente da Cielo (Foto: divulgação)

Em entrevista a Mobile Time, a Thalita Martorelli, diretora de marketing da Cielo, conta que foram processadas mais de 141 mil transações presenciais com 3 mil terminais inteligentes durante os três dias de evento. Pela Internet, foram aproximadamente 30 mil transações nos dias anteriores ao evento, para carregar as pulseiras usadas no festival.

De sexta-feira a domingo, foram quase 250 mil pessoas que usaram a solução cashless nas máquinas da Cielo. Todo o consumo no festival foi realizado por meio das pulseiras. A partir dos dados dos terminais da empresa, Martorelli conta que ocorreu um pico de transações entre17h e 18h nos três dias de evento. “Esse horário antecedia a realização das atrações principais de cada dia. Possivelmente, foi o momento de ‘preparação’ do público para acompanhar os shows”, aponta a diretora.

Ela aponta a pulseira – que funciona através da tecnologia de aproximação (NFC) – como um substituto para a utilização dos cartões ou celulares, sendo mais prático e seguro para o público, descartando a necessidade de abrir bolsas ou mexer em carteiras.

“O diferencial da pulseira é a possibilidade de carregar o valor desejado para o uso no festival”, diz a executiva. Especificamente sobre o Lollapalooza, essa primeira carga podia ser feita pela Internet (semanas antes do festival começar) ou no próprio evento, nos terminais inteligentes da Cielo. Ao longo dos três dias, era possível fazer recargas a qualquer momento.

Futuro

O diretor de engenharia da TIM enxerga espaço para o uso da tecnologia móvel na transmissão dos festivais para as TVs, barateando seu custo operacional, que ainda é muito alto. Já Noronha, da SegurPro, observa oportunidades para aumentar a segurança dos funcionários dos eventos.

E Martorelli, da Cielo, acredita que a pulseira pode ser eventualmente substituída no futuro pela biometria facial ou digital, por exemplo. “O que não mudará é a necessidade de se atentar a alguns aspectos básicos. De um lado, sofisticar ao máximo os atributos técnicos como tecnologia e segurança; de outro, cultivar a relação com o cliente e com o varejista, garantindo que as soluções estejam de acordo com suas necessidades”, conclui a diretora da Cielo.

 

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