O EBANX é uma empresa brasileira que fornece uma plataforma de pagamentos para que marcas globais vendam seus serviços digitais em mercados emergentes. Presente em 29 países da América Latina, África e Ásia, o EBANX processa mais de 2 milhões de transações por dia e opera com mais de 100 métodos de pagamento diferentes. Em entrevista para Mobile Time, seu vice-presidente de produtos, Eduardo de Abreu, destaca os desafios dessa atuação internacional e aponta Caribe e Nigéria como os mercados com crescimento mais acelerado em comércio eletrônico dentre aqueles aonde opera.

Mobile Time – O Brasil é tido como um dos mercados mais complexos para se fazer negócios, por conta especialmente da sua estrutura e carga tributárias, suas leis e regulamentações. Ou, como dizem por aí, o Brasil não é para amadores. O fato de o EBANX ter dado certo no complexo mercado brasileiro, de certa forma, facilitou a sua expansão internacional?

Eduardo de Abreu – Sim, o Brasil é um país que apresenta muitas complexidades. E com certeza não é para amadores. Empresas de fora que vêm para cá levam muitos anos para se estabelecer de forma apropriada. Mas apesar de ser bastante complexo em muitas frentes, quando falamos de sistema financeiro e de pagamentos, nos últimos dez anos, o Brasil evoluiu muito na sua regulação. Mas ainda é um país que demanda muita energia e estudo para colocar um negócio sólido de pé. Podemos contribuir com reguladores de outros países, como na África do Sul, que está em um momento de aumento da regulação. Vale lembrar que não tem só a regulação de pagamentos, mas a de câmbio e outras. A Índia é altamente regulada, com inúmeros frameworks para se operar. A complexidade do Brasil exige tanta energia inicial que isso acaba ajudando na nossa operação em outros países.

A Índia é pior que o Brasil em termos de complexidade?

A Índia é um universo à parte. São 1,2 bilhão de pessoas. O RBI (Banco Central indiano) é muito atuante. Quando estávamos começando a operar na Índia, houve uma mudança grande de regulação no meio da nossa entrada e aí tivemos que começar tudo de novo. A Índia talvez esteja sendo o país de natureza mais complexa para a gente. Mas todos os países, independentemente de estarem na mesma região, individualmente têm as suas particularidades.

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Eduardo de Abreu, vice-presidente de produtos do EBANX (Crédito: Divulgação)

A capacidade de entender as regras de cada mercado e simplificá-las para o seu cliente não seria justamente o principal diferencial competitivo do EBANX?

Com certeza é um dos diferenciais, um dos pilares do nosso trabalho. E estamos muito focados em países emergentes, ou “rising markets”. E cada um deles tem seu nível de complexidade. Toda a parte de câmbio para uma empresas estar full compliant; o jeito que nosso merchant consegue acessar o mercado dentro de todas as camadas possíveis sem ter que despender muito tempo, anos às vezes… A gente se especializa nisso. Temos papel de conselheiro, até para coisas supostamente simples, como data de recebimento de salário, ou organizar calendário de campanhas de marketing, até entender framework de impostos para serviços digitais em verticais de streaming. Temos essa postura de desbravar, de entender cada mercado.

Do total de transações processadas diariamente pelo EBANX, qual o percentual que acontece no Brasil e o percentual que acontece no exterior?

Cerca de metade das transações acontecem no Brasil. Mas tem alguns países que estão despontando…

Quais?

A região com maior apetite por parte dos merchants e maior crescimento agora é a do Caribe, com países como Costa Rica, Jamaica, Bahamas… A República Dominicana, por exemplo, é um país com presença muito forte de e-commerce e com um crescimento muito acelerado.

A Nigéria também é destaque, com população muito jovem, todo mundo conectado, penetração de smartphones alta e grande consumo de serviços de streaming. Enxergamos a Nigéria como um dos principais vetores de crescimento nos próximos cinco ou dez anos no continente africano.

Por que a preferência por países em desenvolvimento?

Faz parte da nossa missão de dar acesso às marcas globais para as pessoas em países em desenvolvimento. Desde quando começamos em 2012, e quando fomos para Nigéria, Quênia, Egito, vemos que o acesso ainda está muito limitado, principalmente pelo método de pagamento. As marcas globais estão nesses mercados, mas só conseguem capturar quem tem cartão de crédito habilitado para compra internacional. Mas em alguns desses mercados a penetração de cartão de crédito é baixíssima.

E também tem o motivo da competição. Nos EUA e na Europa, existem empresas há décadas com nível de maturidade muito mais alto. Nos emergentes temos oportunidade. Capturamos mais valor do que se estivéssemos em um país da Europa.

O EBANX está presente em vários países da América Latina. Qual deles você considera aquele cuja população está mais avançada em compras online? Por que?

Depois do Brasil é o México. O Brasil é metade do e-commerce da América Latina, e o México é metade do Brasil. Talvez por conta da proximidade com os EUA, o México tem um e-commerce muito desenvolvido, o que não é tão verdade quanto aos seus sistemas de pagamentos. O brasileiro é muito mais avançado. Depois do México vêm Colômbia, Chile e Argentina. Em uma situação normal, com estabilidade, a Argentina tende a estar no top 3. Mas por conta de todos os desafios macroeconômicos que está enfrentando, acaba perdendo espaço.

Poderia citar algumas particularidades dos países da região no que diz respeito ao hábito de compras online?

Uma particularidade é o pagamento parcelado. O brasileiro está acostumado ao parcelado sem juros. Nos outros países, quando compra parcelado, o consumidor paga os juros para o banco que emitiu o cartão. Essa é uma experiencia que dificulta botar todo mundo no mesmo bloco da América Latina para o cliente do exterior. Perdemos muito tempo para explicar o parcelado do Brasil, mas no resto da América Latina é diferente. Isso acaba sendo um ponto de fricção de UX, porque não dá para controlar a taxa de juros pois cada emissor define a sua. Na Colômbia dá para parcelar em até 48 vezes uma compra online. Mas quanto vai pagar no fim das contas? O merchant nunca vai saber porque é cada banco é quem define os juros. Essa é uma especificidade bastante única da América Latina.

O Pix está servindo de inspiração para outros países. Dentre aqueles nos quais o EBANX atua, qual está mais adiantado no projeto de ter também um meio de pagamento instantâneo?

O Pix é emblemático pela rápida curva de adoção. Escalou muito rápido. Não existe em nenhum outro lugar algo dessa magnitude em países do tamanho do Brasil.

O Pix se valeu de ter sido construído pelo próprio Banco Central, que trouxe normas muito claras que as principais instituições financeiras foram obrigadas a seguir. E aí passou a ter corrida de quem teria o melhor produto. Todas seguindo as mesmas regras, mas competindo em experiência do produto.

Os EUA têm o FedNow, mas enfrenta o desafio de regulação diferente por estado, o que praticamente impossibilita ganhar escala rapidamente. América Latina e África têm iniciativas que não vêm de bancos centrais, mas da inciativa priva. Algumas têm bastante relevância, como o PSE da Colômbia. É um método de transferência bancaria instantânea e que ganhou agora uma versão com melhor UX chamada PSE Avanza. No México tem o SPEI, transferência bancária em tempo real e baixo custo. Está pegando cada vez mais tração. A África do Sul lançou um experimento que não pegou tanta tração: PayShap. E agora estão revendo para relançar.

A busca por métodos alternativos de confirmação instantânea, baixo custo e baixo risco de fraude é o futuro do e-commerce.

O que acha da ideia de haver no futuro uma interoperabilidade entre sistemas instantâneos de pagamento internacionais, uma espécie de Pix internacional?

Não é algo simples. Tem que combinar as regulações de pagamentos e de câmbio. E também os tributos. Precisa de alinhamento entre governos, o que leva muito tempo.

A gente acompanha essas inovações e buscamos levá-las para nossos merchants. No caso de um Pix internacional, embora parte das complexidades desapareçam, existem outros aspectos que constituem a nossa solução, como reembolso, relatórios, integração de sistemas. Então, mesmo que dois países lancem um Pix internacional, haverá mais de 30 ou 40 mercados em que o mercahnt vai continuar precisando da gente. Não vemos o Pix internacional como risco, mas como oportunidade de oferecer experiência melhor para o merchant.

Com que velocidade o Pix está avançando no e-commerce? Ele ajuda a aumentar as vendas ou apenas canibaliza outros meios de pagamento?

A jornada de compra com Pix está cada vez melhor, com menos fricção. Nos nossos merchants, quando se trata da primeira compra, 95% é feita com Pix. Compras de recorrência acabam sendo feitas com cartão. Mas em compras avulsas, especialmente se for a primeira compra, o Pix domina.

Com as melhorias de UX planejadas e o Pix automático, que vai pegar parte relevante do share de cartão, o Pix tende a se tornar o principal método de pagamento do Brasil.

O Pix comeu muito do share do débito, apesar da UX do débito ter melhorado. E tirou praticamente todo o share do boleto. O boleto hoje existe quase que somente para compra B2B.  E muitos boletos já vêm com código QR para pagar com Pix.

Enquanto isso o crédito preserva sua proposta de valor e segue crescendo.

O que acha da iniciativa do Click to Pay?

É uma inciativa transformacional, porque melhora a UX sem deteriorar a prevenção a fraude. Esse é o verdadeiro futuro do e-commerce. As compras precisam ser mais seamless, mantendo a prevenção a fraude.

Ilustração no alto: Nik Neves para Mobile Time