Por vários anos a Apple foi cobrada por analistas e investidores pelo fato de não ter um iPhone popular que pudesse concorrer com os aparelhos Android e evitar a perda de share no mercado mundial de smartphones. No ano passado, a marca californiana resolveu experimentar, a seu modo, algo nessa linha, com o lançamento do iPhone 5C, uma versão mais barata, simultaneamente ao seu novo top de linha, o iPhone 5S. Foi um fracasso: lotes do 5C ficaram encalhados em vários países, levando a Apple a investir em publicidade em alguns lugares onde raramente o fazia, como o Brasil, na tentativa de desovar os estoques.
A lição foi aprendida e a Apple não repetiu o erro este ano. Pelo contrário, seguiu para o lado oposto: lançou aparelhos melhores e ainda mais caros. Com o iPhone 6 Plus, conseguiu bater um recorde no Brasil, sendo o primeiro modelo de smartphone cujo preço supera a marca de R$ 4 mil. A versão com 128 GB custa precisamente R$ 4.399, preço cheio. A desculpa da Apple é a tela maior e o dobro de memória interna quando comparado com os antigos iPhones top de linha. O aparelho que mais diretamente concorre com o iPhone 6 Plus é o Samsung Galaxy Note 4, que acaba de ser lançado por "apenas" R$ 2.899. Ou seja, o iPhone 6 Plus custa 51% a mais que seu concorrente direto. Pelo preço do novo produto da Apple dá para comprar uma TV 4K de 49 polegadas em alguns varejistas brasileiros.
A beleza e a durabilidade do iPhone são inquestionáveis, assim como o rico ecossistema de aplicativos e acessórios à sua volta. Mas nada disso é suficiente para justificar essa diferença de preço. A razão por trás desse valor é a estratégia de se posicionar como um produto para poucos. A Apple não quer popularizar o iPhone. Quer que ele continue sendo o telefone da elite mundial. E a forma de garantir isso é elevando ainda mais o seu preço. É como uma nova coleção de moda de um estilista famoso. Quem não tem dinheiro para comprar precisa se contentar com as roupas vendidas em outlets ou em brechós, com itens de coleções passadas.
É uma estratégia excludente e elitista, sem dúvida, mas que gera retorno financeiro e de marketing para a empresa. Com o iPhone 6, o produto segue sendo um diferencial de status mundo afora – há até quem alugue iPhone por um dia para se exibir em eventos sociais. Isso só mudaria se a Apple cometesse algum deslize muito grave no desenvolvimento do produto, ou se fosse feita uma campanha massiva de desconstrução da imagem do iPhone – algo que a Samsung vem tentando sozinha em propagandas bem-humoradas nos EUA, mas com impacto limitado. Para quem tem dinheiro sobrando, não faz diferença pagar R$ 3 mil ou R$ 4 mil. Mas para quem precisa fazer cálculos no fim do mês, vale lembrar que dá para se vestir tão bem quanto e por um preço mais em conta pesquisando em outlets e brechós.