As redes 5G no Brasil estão tecnicamente prontas para o lançamento de serviços baseados em 5G Standalone (5G SA), como network slicing, mas a falta de cobertura contínua em quinta geração é um dos obstáculos para que as operadoras avancem na adoção dessa tecnologia. Um dos caminhos poderia ser através do refarming de frequências mais baixas, como aquelas usadas no 4G, aponta o diretor de soluções e redes da Ericsson no Brasil, Paulo Bernardocki, em conversa com jornalistas nesta quinta-feira, 13.
Hoje, as teles operam em 5G com dois cores diferentes – solução conhecida como dual core. Um é o core novo, feito para 5G SA. Outro é o core antigo, o mesmo usado no 4G, mas que serve para o 5G Non Standalone (5G NSA). Como ainda não foram lançados serviços que dependam de funcionalidades do 5G SA, como network slicing, e também por conta da pequena base de clientes com dispositivos compatíveis com 5G SA, o core de 5G SA vem atendendo a uma parcela pequena dos acessos. A maioria das conexões 5G no Brasil, por enquanto, ainda acontecem em 5G NSA, usando o core 4G. Cabe lembrar que isso não prejudica a velocidade de conexão, que é a mesma nos dois padrões de 5G. E é importante ressaltar que o core 5G SA está na nuvem e sua capacidade pode ser ampliada a qualquer momento. Mas o que atrapalha mesmo as operadoras a avançar no SA é a falta de cobertura contínua, por conta do uso de frequências altas, diz Bernardocki.
“O que limita a implementação do SA neste momento é a cobertura do 5G. Hoje as redes estão em 3,5 GHz, e alguns pontos em 2,3 GHz. Então a cobertura não é contínua. Enquanto não houver 5G implementado em bandas mais baixas, garantindo uma cobertura contínua para o assinante, a adoção do 5G SA fica prejudicada”, explica o diretor da Ericsson. Ele aponta como solução o refarming para o 5G de faixas mais baixas, hoje usadas no 4G.
Redes do futuro serão heterogêneas
Quando as operadoras adotarem plenamente o 5G SA, poderão aproveitar a funcionalidade de network slicing, que permite dividir a capacidade da rede de diferentes formas, sendo destinadas para diferentes aplicações. É o que o presidente da Ericsson para o Cone Sul da América Latina, Rodrigo Dienstmann, chama de redes heterogêneas. Isso tornará possível a venda de novos serviços, com capacidade garantida, gerando novas receitas para as teles.
“As redes do futuro não serão mais homogêneas, mas heterogêneas, com qualidade de serviços diferentes para cada aplicação”, descreve.

Rodrigo Dienstmann, presidente da Ericsson para o Cone Sul da América Latina. (Crédito: divulgação)
Nessa nova fase da indústria móvel, o uso da inteligência artificial será fundamental para a gestão dessas redes, prevê o presidente da Ericsson.
“Serão redes extremamente mais complexas. Para administrá-las e garantir a qualidade e a eficiência energética, vai ser preciso IA. Serão redes autônomas. Hoje a vasta maioria das redes são administradas por humanos, dentro de NOCs. Em um futuro próximo, quem vai estar analisando e tomando decisões técnicas será um agente de IA supervisionado por humano”, projeta Dienstmann.
A ilustração no alto foi produzida por Mobile Time com IA