A evolução da inteligência artificial (IA) começa a ficar mais aparente em nosso cotidiano. Soluções como chatbots e assistentes virtuais já fazem parte do nosso cotidiano. Contudo, especialistas alertam para problemas que ainda não foram resolvidos em seu cerne.
Ranga Yogenshwar, cientista e apresentador de um programa de TV na Alemanha, acredita que o principal desafio do IA está na mudança da civilização. Durante seu painel na Cebit, nesta quarta-feira, 13, ele lembra que a solução deve ser encarada como uma “revolução”, pois mudará o nosso modo de vida e que pode aumentar ainda mais a desigualdade na população.
“Nós precisamos pensar nesta tecnologia como um todo para a sociedade, desde a inovação até a civilização em si. Por exemplo: o que podemos fazer pelos menos afortunados?”, questionou o cientista ao mostrar a foto de uma comunidade carente. “Essas pessoas não têm os mesmos benefícios que nós. Elas não compram produtos na Amazon e não têm acesso à web como nós. Nós precisamos ter certeza que, no caminho para o futuro, nós teremos uma sociedade mais igual. Precisamos discutir como redistribuir os benefícios da inteligência artificial para toda a sociedade”.
Homem x máquina
Por sua vez, Moshe Rappaport, um dos principais pesquisadores da IBM, defende que a tecnologia de IA depende de melhorias tecnológicas, como computadores com mais capacidade. Explicou que estamos passando da primeira era da inteligência artificial (Narrow AI – começo da programação), para a segunda era (Broad AI – programa que entende e explica suas ações). Mas que ainda falta bastante para chegar até a terceira era (General AI – autoprogramação).
Atuando na área de computação desde 1969, Rappaport frisa que, embora a AI esteja avançando, a solução não é a resposta definitiva para tudo: “A inteligência artificial não dá respostas exatas, mas apenas aproximadas. Precisamos pensar que nem sempre os computadores estão certos. E precisamos pensar seriamente nas barreiras entre seres humanos e máquina. Apenas a humanidade pode definir isso”.
Por outro lado, Sandra Wachter, advogada e professora assistente na Universidade de Oxford, acredita que os desafios da inteligência não são técnicos, são maiores. A especialista em direitos de dados acredita que as aplicações com inteligência artificial precisam ser mais claras e ter explanações que sejam capazes de evitar quebra de privacidade e manipulações, além de serem sólidas tecnicamente e sem ligação direta com o ser humano.
Mão-de-obra e dados
Outro tema debatido em Hannover, Alemanha, nesta quarta-feira, foi como os dados devem ser tratados pela sociedade. Christian Bauckhage, diretor científico do Franunhof Institute, disse que o mundo precisa de mais dados robustos (thick data, em inglês) do que big data, que os dados apurados são ralos (thin data) e lembra que este trabalho é feito por cientistas de dados.
Para Norberto Andrade, gerente de políticas públicas de privacidade do Facebook, o trabalho dos cientistas lembra que inteligência artificial começa “com as pessoas”, treinando máquinas e separando os dados e fazendo um treinamento próprio, para evitar rótulos e preconceitos. “AI é humano, é pessoal”, disse o executivo.
O presidente da Bosch de pesquisa corporativa e engenharia avançada, Michael Bolle, lembrou que mais de 1 milhão trabalham com treinamento de machine learning e marcação de dados, algo que atraiu US$ 50 milhões em financiamento para startups do gênero, segundo a Bloomberg. Por outro lado, a falta de profissionais qualificados no setor está contribuindo para aumentar o custo dos dados.