O superintendente de outorga e recursos à prestação da Anatel, Vinícius Caram, afirmou que existem mais de 150 cenários para testar com Wi-Fi e celular na frequência de 6 GHz. Durante o Encontro Nacional da Abrint nesta quinta-feira, 13, o representante da agência reguladora afirmou que a Anatel fará um relatório até o final do ano para entender o “tamanho do canal”.
Para realizar essas provas que tentam avaliar a convivência do Wi-Fi com o celular, inclusive para offload da rede, Caram explicou que os testes são custosos e está em contato com a Abinee para apoiá-los.
Estudo
Além do posicionamento da Anatel, o evento teve um estudo da Telecom Advisory Service encomendado pela Abrint que afirma que o Wi-Fi 6 tem mais potencial econômico (US$ 690 bilhões) sem dividir o espectro, ante o modelo proposto pela GSMA de 500 MHz para Wi-Fi e 700 MHz para 5G (US$ 433 bilhões) e a proposta brasileira de 1.200 MHz para o Wi-Fi indoor, 700 MHz para o 5G e 500 MHz para o Wi-Fi outdoor (US$ 600 bilhões) – esta última foi apelidada de ‘Frankenstein’.
Raul Katz, professor da Universidade de San Andrés, na Argentina, explicou que o estudo leva em conta o mercado brasileiro de rede fixa e móvel (empresas, resultados financeiros, rentabilização do espectro). Afirmou ainda que há benesses sociais em manter o 6 GHz não licenciado, como o preço da conectividade nos ISPs que é menor que o dos grandes operadores de banda larga. Além disso, as áreas de coberturas são diferentes e dão mais cobertura ao resto do País.
Celular x Wi-Fi
O uso do 6 GHz foi tema de outro debate no evento desta quinta-feira entre defensores do espectro em toda sua capacidade para o Wi-Fi contra aqueles que apostam na posição da Anatel em deixar aberta a opção da divisão da frequência.
Para Martha Suarez, presidente da Dynamic Spectrum Alliance, o Brasil e o México traíram o acordo da região latino-americana ao colocarem a nota de rodapé. A executiva acredita que a adesão da nota troca a promessa de um crescimento e desenvolvimento da economia digital com pequenos provedores e startups que poderão ter acesso à conectividade mais barata, para a promessa que operadoras terão mais cobertura de rede, mais equipamentos e mais capacidade de espectro no 5G e futuramente no 6G.
Suarez, deu como exemplo, o fato de que as operadoras ainda não estão usando em sua potência máxima o espectro de 3,5 GHz subsidiado para a quinta geração das redes celulares. Reforçou que, “em qualquer país, há mais antenas de 5G em quaisquer outras frequências que no 3,5 GHz”.
Por sua vez, a líder do conselho de administração da Abrint, afirmou que há um gargalo do Wi-Fi atualmente, uma vez que o 2,4 GHz e 5 GHz não licenciado não dão conta, devido à entrega de velocidade de taxa de transmissão muito maior do que a capacidade atual e pelo Wi-Fi servir como offload da rede celular. Também disse que há futuras frequências a serem disponibilizadas para o uso de serviço móvel (4, 7, 14, 10, 43, 66 GHz), sendo que o 10 GHz já foi feito um trabalho pela Anatel.
Giuseppe Marrara, head de relações públicas da Cisco na América Latina, ainda reforçou que há a necessidade de se pensar as conexões nos próximos anos, em especial com o adensamento de equipamentos e o avanço de dispositivos com inteligência artificial chegando aos usuários de empresas com parte do processamento na nuvem e outra no device.
“O principal ponto é o uso da IA sendo utilizada nas aplicações corporativas. Elas precisarão de latência baixa e paramentação muito intensa. Hoje um armário de dispositivo da NVIDIA (de alto padrão) consome mais banda que metade do serviço móvel dos EUA”, disse Marrara. “Quando você fala de aplicações que exigem wireless com localização, adensamento alto de dispositivo (como escolas, hospitais e fábricas) com segurança cibernética, o mercado precisará de latência e canais largos para que seu uso aconteça efetivamente”, completou.
Imagem principal: Painel de debate do Wi-Fi 6 e uso do 6 GHz (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)