A equipe do grupo de pesquisa NetLab, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), realizou um experimento para mapear as recomendações de vídeos de conteúdo informativo do YouTube, produzidos por veículos de comunicação. No período em que ocorreram os testes, entre os dias 23 e 30 de agosto de 2022, a plataforma privilegiou conteúdos dos canais do grupo Jovem Pan. A informação sobre o estudo saiu primeiro na Folha de S. Paulo.

O YouTube lançou, em 2022, a campanha #AntesDoSeuPlay, como forma de combate à desinformação na plataforma. Uma das medidas anunciadas foi a recomendação de conteúdos que considera de fontes confiáveis. “O objetivo deste estudo foi identificar quais os principais canais e conteúdos informativos que tiveram visibilidade destacada pelo algoritmo de recomendação do YouTube”, diz o relatório.

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Imagem: reprodução

Foram realizados 18 acessos, por navegação privada, à primeira página do YouTube, com diferentes novos usuários únicos, criados especialmente para o experimento. Para garantir variedade na localização desses acessos, uma VPN foi utilizada, gerando endereços aleatórios dentro do Brasil. Os vídeos de conteúdos informativos na homepage foram identificados, assim como cada um dos veículos e o seu teor.

Vídeos do grupo Jovem Pan estavam presentes em 14 dos 18 acessos realizados à primeira página do YouTube. Os conteúdos do grupo apareceram como primeira sugestão de vídeo, na homepage do YouTube, em 55% dos acessos-teste, ou dez deles. Em seguida, vieram UOL, com (5), CNN (1), e Band Jornalismo (1).

Os oito canais da Jovem Pan que apareceram nos testes foram recomendados 25 vezes na primeira página. Depois, vieram os conteúdos de UOL, com 16, Grupo Bandeirantes (9), CNN (8), e outros 16 grupos de comunicação, representados por 31 canais de conteúdo informativo jornalístico.

O vídeo mais recomendado, no período estudado, foi a entrevista do presidente Jair Bolsonaro no Programa Pânico, no dia 26 de agosto, que apareceu quatro vezes. Em um dos acessos, essa foi a única fonte de conteúdo informativo que aparecia na página inicial. Em outro, nenhum conteúdo informativo foi sugerido.

O NetLab também identificou os 50 primeiros vídeos recomendados ao se assistir cada um dos conteúdos informativos da homepage do YouTube. Mapeando essas conexões, foi possível constatar um cenário em que os vídeos mais recomendados nas publicações dos canais da Jovem Pan são do próprio grupo, levando o usuário a uma bolha de conteúdo.

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“Apesar do papel central que ocupa como mediador e distribuidor de conteúdo, o algoritmo de recomendação do YouTube tem mecanismos e critérios ainda opacos. Além disso, o impacto dos algoritmos de recomendação nas escolhas dos usuários é imperceptível para iniciantes ou leigos, o que aumenta seu potencial de manipulação”, afirma o texto.

O documento ainda enumera razões pelas quais as sugestões de vídeo feitas pelo YouTube não condizem com as diretrizes que supostamente a plataforma segue. A Jovem Pan foi desmentida diversas vezes por agências de checagem, espalhando desinformação sobre vacinas, candidatos a cargos políticos e outros assuntos, além de promover discursos de ódio.

YouTube

Em nota, o YouTube afirma que busca ajudar as pessoas a encontrar vídeos que lhes ofereçam algo útil e interessante, baseado em dados da própria plataforma. Alguns desses dados incluem número de cliques, tempo assistindo, número de compartilhamentos, quantidade de “gostei” e “não gostei”, entre outras informações, que são consideradas pelo algoritmo ao fazer recomendações.

De acordo com a plataforma, desde 2019 foram feitas atualizações no sistema de recomendações, para reduzir o alcance de conteúdos que não violam regras da comunidade, mas estão no limite disso. Esses esforços foram intensificados durante as eleições, conforme campanha do YouTube. A plataforma diz que o consumo desse tipo de conteúdo representa 0,5% do total de visualizações do site.

“O YouTube também oferece aos espectadores uma variedade de ferramentas para melhorar a experiência deles na plataforma e decidir quais informações pessoais serão usadas para influenciar as recomendações”, diz o comunicado. “Nossos revisores estão espalhados pelo mundo, e aplicamos nossas políticas de conteúdo com consistência, independentemente de porta-voz, ponto de vista político, histórico, posição ou afiliações.”

 

 

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