Com as novas regras de limite de espectro, a possível aprovação do PLC 79 no horizonte e a expansão de provedores regionais na mira de fundos de investimento, o setor de telecomunicações vislumbra a oportunidade para um cenário de fusões e aquisições como uma tempestade perfeita. Na opinião do analista e managing director da área de Equity Research do Santander, Valder Nogueira, as mudanças vão exigir uma autoconsciência às empresas para revisar o contexto na qual vão se inserir, avaliando qual a base de ativos que querem ter no futuro – seja para desinvestir, seja para adquirir. Sobretudo porque o modelo de consolidação pode ser diferente. “Em vez de ser entre empresas, pode ser entre infraestruturas”, disse em conversa com jornalistas nesta terça, 13, após painel no Seminário TelComp, em São Paulo.

Isso significa o potencial desmembramento das empresas, na avaliação do analista. Ele cita o caso da American Tower, que comprou ativos da Cemig Telecom. “Ela vai ter melhor interoperabilidade, mas ainda vai ter capacidade para vender acesso de fibra como player agnóstico”, explica.

A mudança da legislação com a aprovação do PLC 79 poderá facilitar esse processo, o que influenciará até mesmo na companhia que pode ser consolidada total ou parcialmente. “Tem que levar em consideração aspectos fiscais: se eu divido a empresa em dois pedaços, vou estar sendo ineficiente fiscalmente? Tem que olhar, não é necessariamente desinvestir o ativo, mas definir a melhor alocação do capital.”

“O PLC 79 vai te dar um norte, depois vem os regulamentos subsequentes e várias discussões, incluindo TCU e Anatel, para onde vamos depois. Mas não será imediato”, afirma. Nogueira estima que será necessário pelo menos um ano até que as regras sejam definidas, mas reitera que a mudança no marco proporcionará às empresas maior flexibilidade para a tomada de decisão. Um dos benefícios será a possibilidade de uso do saldo de conversão de concessão para autorização, uma vez que a empresa poderá otimizar a utilização dos recursos, aumentando a liquidez.

Da mesma forma, os novos limites de espectro não significam que todos esses ativos farão sentido no contexto diferente de cada operadora. “É preciso casar isso com o refarming que está fazendo no espectro, porque não necessariamente o disponível é o que você precisa”, declara Nogueira. Isso envolve não apenas a faixa e a tecnologia, mas a localização também.

ISPs

Há ainda o avanço de fundos de investimento nos pequenos provedores, recebendo investimentos de empresas de private equities e venture capital. Valder Nogueira destaca que os ISPs precisam primeiro fazer o dever de casa para poder se expor no mercado. “Não adianta construir negócio se não tem base boa, com governança correta, números direitinhos e história para contar”, diz.

“Não basta um plano de negócios de sucesso, todos têm uma história assim. A questão é como monetizar e perceber isso como algo sustentável”, afirma o analista Bruno Lima, também do Santander. Ele elenca requisitos para que fundos de investimento se comprometam mais seriamente os aportes nas pequenas. Para ele, o ISP precisa estar preparado para enfrentar processo de due dilligence. Além disso, a empresa precisa ter estrutura societária simples, controle de processos internos, demonstrações financeiras auditadas, conformidade fiscal e trabalhista e conformidade de projetos de rede.

 

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