A era dos bots está começando. Embora o assunto seja discutido há alguns anos entre geeks e empreendedores do meio de tecnologia, todos concordam que o lançamento esta semana da API do Facebook para bots no Messenger marca o verdadeiro começo de um jogo que vai mexer com o equilíbrio de forças no mundo digital. Muito do que hoje é feito com apps passará a ser realizado com bots. Vários desenvolvedores desencantados com os apps móveis começam a olhar com interesse para os bots. Para entender melhor essa novidade, MOBILE TIME publica a partir de hoje uma série de matérias sobre chatbots, ou robôs para comunicadores instantâneos. Nesta primeira, entrevistamos Michael Vakulenko, diretor de estratégia da VisionMobile, empresa de pesquisas que realiza todo trimestre um levantamento mundial com mais de 20 mil desenvolvedores móveis e que incluirá o tema "bots" em sua próxima edição.

Vakulenko é um entusiasta do assunto, mas reconhece que é difícil adivinhar o que vai ocorrer: "Tal como aconteceu com apps, essa experimentação levará a serviços que não conseguimos imaginar agora. Quem poderia prever o nascimento do Instagram, do Uber e do Snapchat em 2007, quando o iPhone foi lançado?" Sua única certeza é de que Apple e Google estão atrasados nessa área e vão perder força para quem hoje controla os comunicadores instantâneos mais populares.

MOBILE TIME – Que tipo de serviços ou marcas você acredita que serão os primeiros a adotar chatbots? Por quê?

Michael Vakulenko – Eu acredito que a adoção vai começar por companhias que queiram substituir o atendimento telefônico de 0800 por algo que seja mais interativo, moderno e eficiente. É nisso que o Facebook espera focar inicialmente. Atendimento por 0800 custa caro para operar. E, ao mesmo tempo, oferece um serviço dos anos 90.

Várias start-ups começaram a experimentar bots em mensagens, buscando algo que fosse "matador". Vai levar algum tempo para a indústria aprender o que funciona e o que não funciona com bots. Tal como aconteceu com apps, essa experimentação levará a serviços que não conseguimos imaginar agora. Quem poderia prever o nascimento do Instagram, do Uber e do Snapchat em 2007, quando o iPhone foi lançado?

Os chatbots vão substituir os apps?

Não acredito nisso, mas haverá menos apps. Os aplicativos que atendem a um uso frequente ou a um consumo passivo de conteúdo vão continuar existindo. Esses são exemplos em que se justifica para o usuário baixar um novo app, aprender a mexer nele e torná-lo um hábito. Já as utilizações ocasionais vão migrar para as plataformas de mensagens, onde é muito mais fácil gerar engajamento a um serviço, pois o consumidor não precisa instalar um app e aprender a usá-lo.

Haverá um ecossistema de desenvolvedores de chatbots? A VisionMobile planeja incluir esse segmento em edições futuras das suas pesquisas sobre o mercado mundial de desenvolvedores?

Claro! Plataformas de mensagens vão nascer e morrer dependendo da adoção dos desenvolvedores, da mesma forma como aconteceu com os apps móveis. As plataformas de mensagens que construírem um ecossistema próspero de desenvolvedores sairão vitoriosas. Nós já constatamos que desenvolvedores que se desencantaram com apps móveis estão migrando seu foco para chatbots na esperança de conquistarem a vantagem de serem pioneiros nesse novo ecossistema.

A VisionMobile já começou um estudo sobre desenvolvedores de chatbots para a 11ª edição da nossa pesquisa sobre o mercado de desenvolvedores e que será publicada dentro de alguns dias.

Que modelos de negócios são esperados nesse mercado? Como os apps de comunicação instantânea vão gerar receita com chatbots?

As plataformas de mensagens terão múltiplos caminhos para fazer dinheiro direta e indiretamente. Será tudo baseado em conectar usuários de mensageria com empresas (marcas, start-ups, serviços on-line). Haverá milhares de robôs de mensagens competindo pela atenção do usuário. O Facebook, por exemplo, poderia monetizar promovendo bots específicos para a audiência mais apropriada. Não é muito diferente do que o Facebook já faz para gerar dinheiro com a instalação de aplicativos móveis.

Que app de mensagens vai liderar essa tendência?

O Facebook, com o seu Messenger e com o WhatsApp, é claramente o líder global. Mas haverá também líderes regionais em áreas onde a dupla Messenger/WhatsApp não atingiu massa crítica. WeChat/Weixin é intocável na China. Por sua vez, Line e KakaoTalk são muito populares em alguns países. Kik e Snapchat têm sucesso com uma audiência jovem que não está no Facebook.

A onda de chatbots reduz o poder de Google e Apple, já que suas lojas de aplicativos tendem a perder importância?

Com certeza. O mercado de apps móveis está maduro e a indústria de tecnologia procura pela próxima grande novidade depois de apps. Tanto Google quanto Apple parecem ter perdido essa oportunidade até o momento. O Hangouts do Google falhou em adoção. E o iMessage da Apple permanece fechado. Será interessante acompanhar se e quando a Apple vai abrir o iMessage para desenvolvedores de fora.

Haverá lojas de bots?

Já existem lojas de chatbots do Slack e do Kik, inspiradas nas lojas de apps atuais. Acredito que o problema de se encontrar o conteúdo desejado será resolvido de forma diferente no ecossistema de chatbots, pois veremos formas mais nativas de se descobrir e ativar serviços automatizados em comunicadores instantâneos.

Michael Vakulenko, diretor de estratégia da VisionMobile

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O CEO da VisionMobile, Andreas Constantinou, será o palestrante principal do 15º Tela Viva Móvel. Ele fará a abertura do evento, no dia 3 de maio, no WTC, em São Paulo, apresentando alguns números sobre o mercado latino-americano de desenvolvimento móvel coletados em sua mais recente pesquisa.

O Tela Viva Móvel, consagrado como o mais importante do mercado brasileiro de conteúdo móvel, terá ainda painéis sobre gestão de marketplaces; migração de SVA 1.0 para 2.0; privacidade X segurança em mobilidade; e investimento chinês no mercado móvel brasileiro, dentre outros.

O Tela Viva Móvel é organizado pela Converge Comunicações e promovido por MOBILE TIME e TELETIME. A grade do evento e informações sobre inscrições podem ser encontradas no site do congresso ou pelos telefones 0800-77-15028 e 11-3138-4619. Inscrições até 20 de abril contam com 15% de desconto.

 

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