[Atualizado às 15h48 do dia 18/04/2023 com dados atualizados da ExitLag] Atualmente, 48% dos usuários brasileiros com smartphone declaram que jogam games móveis, segundo a pesquisa Panorama de Apps do Mobile Time/Opinion Box de dezembro de 2022. Trata-se de uma queda de 18 pontos percentuais ante os 66% alcançados no auge da pandemia, em novembro de 2020. O percentual de gamers é menor que o de assinantes móveis de streaming de filmes (69%) e empata com aqueles que leram pelo menos um livro (47%) no smartphone. É neste cenário que a indústria de jogos eletrônicos busca por mais qualidade nos jogos, ao mesmo tempo que as empresas do setor procuram maximizar os lucros, como relata Carlos Estigarribia, head de business development da Kokku, em artigo recente para esta publicação.

Para ajudar publishers e desenvolvedores de games, novas plataformas estão aparecendo, como serviços de cloud gaming, melhoria no acesso e até carteiras que tentam reduzir barreiras de compras.

Conectividade

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Em Barcelona, Rafael Monte, CCO do ExitLag (à esq.); e Lucas Stolze, CEO do ExitLag (crédito: divulgação)

Um exemplo de serviço periférico aos jogos é o ExitLag (Android), uma plataforma americana – com tecnologia e gestores brasileiros – que ajuda a reduzir a taxa de latência (tempo de resposta) nas partidas online. Mais conhecida por atender desde 2010 usuários de PC com mais de 900 servidores dedicados e acesso a 1.800 jogos, sendo 200 para mobile. A plataforma entrou em um beta mobile no começo deste ano que gerou mais de 400 mil downloads em todo mundo.

“Somos como um GPS. O usuário abre o software/app, escolhe a destinação final e se conecta ao game. O acesso é feito via quatro rotas simultâneas que trafegam a mesma informação. Veja, isso é possível porque estamos falando de dados e não pessoas. Desse modo, ele se conecta ao servidor (mais rápido), independente do País onde estiver”, explica Lucas Stolze, CEO da ExitLag. “É uma plataforma para todo mundo que joga e quer ganhar. Gente que se preocupa com uma experiência melhor”, complementou, ao lembrar que o serviço está disponível para 196 países.

Recentemente, o ExitLag participou da MWC em Barcelona em uma prova de conceito com conectividade 5G. No teste, um smartphone de quinta geração com jogo conectado ao software da empresa teve 40% de melhoria na taxa de resposta em comparação a outro celular sem usar o ExitLag. Stolze explicou que a ideia do teste era mostrar que sua plataforma é uma “potencializadora do 5G”.

Meios de pagamento

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Beto Della Manna (esq.) e Alexander Winandy, sócios da Defuse (crédito: divulgação)

Na Defuse (Android, iOS), a ideia é ser uma plataforma financeira completa e segura para o gamer, uma vez que separa seus gastos com games do app principal do banco ou cartão de crédito. Nela, o consumidor pode comprar skins e jogos, assinar serviços com cartão pré-pago e débito Visa Internacional, além de fazer apostas com outros usuários. Com o BV como seu fornecedor de banking as a service (BaaS), a solução nasce com um pre-seed de R$ 1,2 milhão.

De acordo com Alexandre Winandy, sócio-fundador do serviço, a maioria dos gastos desses gamers são em desktop. E, para concentrar as tarefas do gamer em um único dispositivo, a Defuse foi concebida como carteira dedicada para o mobile, com “segurança e praticidade”. Beto Della Manna, o outro sócio e cofundador, afirma que o mobile foi escolhido por “democratizar o acesso aos games”. A prova disso é que, em fase beta, a plataforma atingiu todo o Brasil.

Ao todo, a plataforma já conta com 16 mil usuários, dos quais 2,5 mil deles vieram do beta: “Só entra na Defuse convidado, pois queremos ter uma solução muito boa para heavy user de game (aquele gamer mais assíduo). O perfil que buscamos é acima de 18 anos. Hoje, a média de idade é de 24 anos. É um público mais maduro que consome jogos e tem essa pegada de torneio e jogos. Ainda é uma maioria mais masculina, mas queremos trazer mais mulheres”, completou Winandy.

Cloud gaming e conteúdo

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Novos jogos em nuvem que entraram no Opera GX nesta semana (reprodução: Opera)

Outra plataforma periférica aos games que começa a apostar no Brasil é a norueguesa Opera com o Opera GX (Android, iOS), um navegador gratuito que tem estrutura de cloud gaming e consumo de conteúdo gamer, além da navegação segura na web. Ele possui mais de 20 milhões de usuários globais.

De acordo com a head de marketing para América Latina, Juliana Psaros, a companhia tem investido em ações para o navegador gamer no Brasil e na América Latina e os consumidores têm correspondido: “Principalmente com as soluções de gaming (Opera GX) e o navegador para web3 (Opera Crypto), o que temos visto é uma segmentação. São produtos que dialogam com a audiência. Hoje, o Brasil é o segundo mercado para o Opera GX no mundo”, explicou Psaros.

Um primeiro movimento para aumentar o seu portfólio gamer foi a parceria GameMakers que gerou a Gx.Com, uma plataforma que permite aos desenvolvedores publicarem seus jogos para os usuários do navegador. Por exemplo, o Opera GX recebeu nesta semana dois novos games em cloud: Revita e Nomad Survival. Também busca estreitar o relacionamento com a comunidade gamer ao lançar programas de streaming e gaming show. Totalmente voltados aos usuários brasileiros, os dois primeiros episódios tiveram 8 milhões de visualizações.

“O Brasil é o nosso segundo mercado. Queremos trazer jogos de desenvolvedores locais”, complementou, ao lembrar que em fevereiro o app ficou entre os mais baixados na categoria apps de comunicação do País.

Marketing

DigitalReef anuncia parceria com Gamers Club 1

Siprocal, empresa criada da união entre DigitalReef e GamersClub (reprodução: DigitalReef)

Em uma movimentação mais recente no mercado, a DigitalReef anunciou uma fusão com a empresa de matchmaking GamersClub, em março deste ano. A partir da união das companhias foi criada a Siprocal, uma empresa de publicidade que atuará em mobile, connected TV e games, o que inclui plataformas digitais e ações offline como organização de grandes ligas de games de PC, console e mobile.

“Gamers são aqueles que desbravam novos modelos de negócios. A ideia é ter uma porta de fato para conversar com o ecossistema de negócios para atender os publishers (engajamento e monetização) e se aproximar do mercado anunciante que quer falar com esse público. Trazemos uma marca, uma identidade, sem deixar de associar com a oferta de tecnologias e soluções para growth e monetização”, descreve Marcus Imazumi, head of publisher business na DigitalReef.

A Siprocal (fala-se ‘Sai-Pro-Col’ em alusão ao termo ‘reciprocol’ em inglês) tem um mercado endereçável de US$ 360 bilhões, uma vez que almeja crescer com serviços e produtos de publicidade em TV digital, mobile e games. Quando separado o segmento de games, Imazumi reconhece que vê bastante potencial nos serviços periféricos dos games que ajudam a desenvolver o ecossistema como um todo.

“É exatamente por essa visão mais holística que temos expectativa de explorar mais negócios. Não é só o jogo, só o app, mas todos os negócios paralelos que crescem junto com a indústria de jogos. Nós conversamos com desenvolvedores, escolas de cursos, desenvolvedores de acessórios, fornecedores de infraestrutura, empresas de eSports. Diferentes prestadores de produtos e serviços”, afirma.

“Independentemente de qual lado a indústria de games gera negócios, o nosso posicionamento é na audiência gamer, seja qual for o canal, a plataforma ou o jogo. Queremos ajudar o ecossistema de jogos e todos os seus agentes, seja com mídia ou tecnologia aplicada para o desenvolvimento de apps/plataformas. Achamos que faz parte do crescimento da indústria e ajuda a criar um ecossistema”, completa.

Próximas etapas e modelos de negócios

A ExitLag já tem um modelo de negócios bem estruturado e o manterá com a ida para o mobile: quem assina o serviço de melhoria de lag no PC ganhará o acesso à versão mobile sem a necessidade de pagamento adicional, assim como novos consumidores terão acesso às duas opções. Agora, a companhia espera lançar a versão para iOS até o final do segundo trimestre deste ano. Stolze diz que tem conversado com operadoras de telefonia de dentro e fora do Brasil para adicionar o ExitLag como serviço de valor agregado aos gamers. Também tem outros modelos paralelos de receita, como revenue share com estúdios de jogos.

Por sua vez, a Defuse quer escalar e chegar nos 50 mil usuários até o mês de junho, e terminar 2023 com 100 mil consumidores, algo que será conquistado a partir de parcerias com streamers e influenciadores digitais. Winnady e Della Manna explicaram que o intuito da plataforma não é ganhar com o share da aposta e nem torneios feitos pelos gamers que usam o aplicativo. Mas no futuro devem oferecer outros modais para adicionar mais receita como battle pass e serviços freemium.

Também com um modelo de negócios definido em anúncios e pesquisas segmentadas e customizadas, a Opera quer estreitar o relacionamento com a comunidade gamer na América Latina. Psaros afirma que a chave para isso é o diálogo para ouvir e entender as especificidades dos usuários e das empresas locais. Ressalta que o Brasil é estratégico nesta relação e busca por parcerias, além de ter traçado estratégias de curto, médio e longo prazo.

E a Siprocal ainda está em processo de sinergia. Imazumi espera que a parte administrativa das empresas estejam em união em até seis meses, mas o ganho virá realmente com a união de “comunidade e audiência” e cada unidade de negócio explorando o que tem de melhor em um processo que é visto pelo executivo como permanente.

“Tem muita sinergia do lado de negócio. Parceiros e clientes da GamersClub, são os mesmos clientes que compram mídia com DigitalReef e Columns6”, diz Imazumi. “No final das contas vira uma empresa só. Vamos continuar investindo e queremos escalar ainda mais. Queremos ajudar a GamersClub a alavancar o portfólio de serviços através da tecnologia que possuímos. Por outro lado, a GamersClub abre as oportunidades com novos universos de publishers e anunciantes com seu conhecimento em negócios e consultoria de games”, conclui.