Há muito tempo já ouvimos falar sobre o Bitcoin, uma moeda digital que pode ser obtida a partir de programa peer-to-peer específico para este fim. Em determinados momentos no tempo é lançada na rede uma quantidade limitada deste recurso, em que os usuários que estão ativos na rede podem ser contemplados com uma quantia qualquer. Diferente de uma loteria, onde a sorte é o que prevalece, usuários com recurso computacional adequado poderão receber a quantia, sendo favorecidos em relação aos que não possuem o recurso necessário. Deste modo, a estatística parece definir modelos adequados para que um usuário tenha uma chance maior de receber a quantia em relação ao outro.
A partir daí, temos algo que podemos chamar de modelo Bitcoin, pois esse, por si só, não detém as características de um objeto, mas de um modelo que pode ser utilizado para derivar outras moedas que possuam características que serão herdadas do modelo. No entanto, a discussão em torno dessa moeda, ou de qualquer outra que poderá surgir, parece ser outra e a preocupação com o seu sucesso no campo político é muito mais profundo do que possamos imaginar.
Para ilustrar esta situação, vamos analisar alguns fatos ditos por alguns economistas. Que governo no mundo, principalmente aqueles que desejam ter controle sobre todas as coisas, inclusive no modo de pensar de uma população, desejaria ter o seu domínio abalado por algo em que não fossem capazes de exercer o seu controle?
O Bitcoin sempre esteve associado, no imaginário coletivo, aos modelos de negócios questionáveis, tais como aquisição de mercadorias ilegais (drogas, remédios controlados, armas de fogo), objetos roubados, entre outros, como é observado através de uma quantidade considerável de sites obscuros que sobrevivem no submundo da Deep Web. Sem colocarmos em pauta estes tipos de negócios obscuros, que não são o objetivo deste artigo, o fato é que a característica da moeda permite que ela seja usada desta maneira, já que é um dinheiro que não possui carimbo, o que dificulta a sua rastreabilidade.
O grande economista Milton Friedman já havia dito que o surgimento de uma moeda digital colocaria em xeque os poderes do Estado sobre a economia. Friedman previu categoricamente algo que hoje está em constante crescimento no meio econômico e discussões sobre este tema são fortemente travadas, principalmente nos Estados Unidos.
Para termos uma noção do perigo que este modelo representa aos governos, principalmente àqueles que se caracterizam pelo controle sobre todas as coisas, temos as opiniões de outro economista, chamado Paul Krugman, que contrasta com a previsão de Friedman. Para Krugman: o Bitcoin seria uma moeda perversa e um sonho impossível. Nada mais evidente através desta afirmativa que o medo que a classe política dominante tem e que economistas como Krugman tendem a dar suporte, endossando as atitudes de governos que possuem essa característica centralizadora e dominadora.
O fato é que a discussão em torno do Bitcoin nem seria colocada em pauta sem a Internet. Ou seja, mais uma vez a Internet muda hábitos e costumes simplesmente pelas possibilidades que a rede representa. Neste ponto fica evidente o desejo de muitos governantes de chamarem para si a responsabilidade de regular este meio, com discursos de cores democráticas, mas que na verdade colocam a rede sob o guarda-chuva governamental, pois representa uma ameaça ao seu domínio. A Internet já quebra diversos paradigmas e, consequentemente, tudo o que dela é derivado também detém esta mesma característica, como no caso do Bitcoin. O índice de resistência da Internet e este tipo de influência externa será determinado de acordo com a capacidade de manter suas características em face a qualquer tipo de regulamentação governamental.
O sucesso na implementação e efetivação do modelo Bitcoin, antes de passar por qualquer debate econômico, terá de sobreviver primeiro ao embate político.