A Apple anunciou nesta quarta-feira, 18, a abertura de sua solução de transações por aproximação (NFC) e de seu arcabouço de segurança (SE ou Secure Element, no original em inglês) para desenvolvedores de aplicativos do Brasil e outros seis países. A iniciativa é uma continuação do movimento que fez este ano na Europa.

A partir do iOS 18.1, os profissionais e suas empresas poderão oferecer:

  • Pagamentos por aproximação;
  • Chaves de carros;
  • Bilhetagem em transporte público;
  • Crachás empresariais;
  • Carteira estudantil;
  • Chaves de casa;
  • Chaves de hotéis;
  • Cartão de clube de fidelidade e recompensa;
  • Identidades governamentais.

Por meio de APIs, o desenvolvedor poderá incorporar o NFC para esses tipos de transação. Na prática, o consumidor poderá abrir o app de seu banco, por exemplo, e o definir como padrão para pagamentos contactless no lugar da Apple Pay.

Assim como acontece na Europa, os desenvolvedores deverão aceitar as regras da Apple e pagar taxa pelo uso do ecossistema.

Impacto do NFC da Apple no Brasil e no mundo

Além do Brasil, a Apple liberou o NFC e o SE nos Estados Unidos, Canadá, Japão, Nova Zelândia, Austrália e Reino Unido. Boanerges Freire, CEO da Boanerges & Cia Consultoria, explicou que o fato de a Apple abrir esta solução para o mercado brasileiro mostra que a companhia vê o País como um “mercado-chave”, uma vez que o Brasil figura ao lado de Europa (que estava na primeira leva), e das principais regiões geográficas com o inglês como idioma, além do Japão.

Porém, o especialista e colunista da Mobile Time afirmou que a solução chega tarde ao mercado brasileiro. Explicou que por mais que seja importante a entrada de uma nova opção de pagamento eletrônico no País, o impacto não será tão forte, uma vez que a proporção de usuários Apple é muito menor que a de Android. Tampouco pode ser comparado com outros movimentos “mais abertos” como Pix e tap on phone/tap to pay.

“O uso do pagamento por aproximação já decolou no Brasil com compras presenciais, respondendo por mais de 60%, segundo relatório da Abecs da semana passada. Portanto é bem-vindo, traz inovação, flexibilidade. Mas não está na lista dos ‘big shots”, disse, mas acrescenta que pode ter mais impacto em países aonde o iOS é mais presente, como Reino Unido e EUA.

Por outro lado, Boanerges acredita que o NFC aberto da fabricante pode ter espaço no mercado brasileiro com usuários que podem agregar mais valor (Apple consome mais que Android) e até gerar avanço de soluções no segmento corporativo e empresarial: “Soluções de nicho são sempre possíveis. O uso corporativo é relevante e traz alto valor agregado. Mas não tem uma boa oferta de produtos e serviços. Geralmente são soluções bancárias e cartões. Só uma extensão do mundo da pessoa física. É importante trazer isso como oferta de entrada para esse mercado. Acho que vale a pena ficar atento para soluções para empresa e uso dia a dia de executivos de venda, relacionamento ou funções externas”, disse.

Crescimento nas carteiras

Por sua vez, Nelson Leite, vice-presidente de pagamentos da RecargaPay, afirmou que a entrada do NFC pode trazer um aumento substancial às transações no mercado brasileiro: “Apesar de ser difícil quantificar exatamente esse potencial – pois temos uma base estimada de 15 a 20 milhões de usuários de iPhone no Brasil -, a adoção de pagamentos por aproximação via NFC poderia aumentar na casa dos dois dígitos caso essa solução fique disponível para utilização de todos os players do mercado”, disse.

Leite acredita ainda que a abertura da tecnologia NFC pela Apple no Brasil “tem potencial para acelerar significativamente a adoção de pagamentos móveis” e  que pode democratizar o acesso a essa tecnologia para um público mais amplo:  “Assim, esse movimento permitiria que mais aplicativos e fintechs, como a RecargaPay, integrem soluções de pagamentos por aproximação, criando oportunidades para o desenvolvimento de produtos ainda mais competitivos e alinhados com as necessidades do mercado brasileiro”, concluiu.

Adquirente e o comércio

O diretor de produtos de pagamentos na Stone, João Misko, acredita que o movimento de abertura do contactless da empresa norte-americana para transações “abre oportunidades para novas soluções de meio de pagamento através de NFC, como  transações de meios alternativos (como o PIX), aumenta a segurança de transações não presenciais ou para “criação de novas wallets” nos ecossistemas de consumidores.

“O crescimento do mercado de pagamentos contactless, impulsionado pela conveniência, segurança e rapidez dessas transações, destaca o potencial dos cartões NFC. Do ponto de vista da Stone, enxergamos que, à medida que mais consumidores e comerciantes adotam essa forma de pagamento, a demanda por cartões NFC continua a aumentar, abrindo uma oportunidade de posicionamento no processo de transformação digital do setor financeiro”, disse Misko.

O diretor da adquirente afirmou ainda que a abertura do ecossistema do iOS também “fortalece o ecossistema de tecnologia e de soluções para comerciantes”, uma vez que democratiza o acesso ao NFC e cria oportunidades para novas soluções: “Qualquer iniciativa que gere valor para o cliente e promova o empreendedorismo é algo que consideramos positivo”, prevê.

Sem respostas

Mobile Time ainda procurou Apple para entender se está conversando com o mercado de pagamentos e se endereçou essa abertura ao Banco Central para não ter problemas similares àquele que a Meta enfrentou com o pagamento via WhatsApp. Mas a companhia não respondeu.

Para efeito de comparação, o Google demorou dois anos para se adequar a padrões e começar a abrir sua carteira com o Pix. E só depois de quatro anos após o seu anúncio inicial e uma série de conversas com o BC e o mercado, a Meta se sentiu segura para avançar com o Pix no WhatsApp.

Imagem principal: Tap on Phone, da Apple (divulgação)