Um executivo que já foi diretor da Vivo e CMO da TIM é o responsável por traçar a estratégia de marketing da operadora norte-americana Sprint em sua migração para a quinta geração de telefonia celular (5G). Trata-se de Roger Solé, atual CMO da Sprint.
A operadora é a terceira maior dos EUA e aposta todas as suas fichas em uma rápida implementação do 5G para ganhar participação no mercado. A Sprint está bem posicionada em espectro para fazer esse movimento: tem 120 MHz na faixa de 2,5 GHz, mais do que todos os rivais. E essa faixa é considerada nobre, porque é uma frequência média, o que permite um bom equilíbrio entre cobertura e capacidade de transmissão.
Ao mesmo tempo, a Sprint vive a expectativa de fusão com a quarta maior operadora dos EUA, a T-Mobile, o que ainda aguarda a aprovação do governo norte-americano. A empresa resultante da fusão tem potencial para se tornar uma gigante global de 5G, pois os espectros das duas companhias se complementam: a Sprint na faixa média, e a T-Mobile em frequências baixas e altas.
Solé conversou com Mobile Time sobre esse desafio, durante o Mobile World Congress Americas, nesta semana, em Los Angeles, nos EUA. Leia a entrevista abaixo.
Mobile Time – Você participou da migração do 3G para o 4G no Brasil e agora está conduzindo a migração para o 5G na Sprint, nos EUA. Qual a diferença entre os dois processos?
Roger Solé – Se comparado com o Brasil, a troca tecnológica nos EUA é muito mais relevante, porque aqui 70% dos usuários são pós-pagos puros e os outros 30% são de planos controle. Na prática, 100% é pós. O público tem recursos para fazer upgrade para aparelhos icônicos, como chamamos os flagships. Por isso, a transição do 4G aqui foi muito rápida. 70% da base têm smartphones icônicos, porque oferecemos o aparelho em leasing em planos de fidelidade de 18 meses. Os aparelhos aqui são mais baratos que no Brasil porque não temos a alta carga tributária. E o PIB per capita aqui é maior. Assim, o ciclo de upgrade de aparelhos é rápido. As pessoas querem pegar o que há de melhor na tecnologia, ao contrário do Brasil, onde a adoção do 4G foi devagar. No Brasil, inicialmente, se vendia os aparelhos 4G apenas para o topo da pirâmide, enquanto a batalha seguia no 3G. Aqui uma nova tecnologia se torna relevante rapidamente.
No mercado norte-americano, lançar primeiro o 5G é uma forma de ganhar share. Por isso todos os players estão correndo e tentando antecipar a implementação da nova rede. Aqui a concorrência é enorme, com quatro players fortes e churn médio abaixo de 1% ao mês. Nesse contexto, procurar novas formas de diferenciação é super-relevante.
Mas a Verizon vai sair na frente, certo? Ela promete lançar o 5G agora em outubro.
Existem várias formas de oferecer 5G. A Verizon vai trabalhar com espectro milimétrico que só permite banda larga fixa sem fio, não móvel. Ela vai usar 5G em frequência alta, com alcance de poucos metros mas com capacidade enorme. Nós não estamos nesse negócio. Nós, por outro lado, temos o compromisso de lançar 5G móvel entre março e abril de 2019. Teremos um smartphone da LG que será o primeiro com 5G nos EUA. Seremos os primeiros a trazer um smartphone 5G.
Qual será o diferencial do 5G em Internet móvel?
O diferencial será oferecer uma velocidade 10 vezes maior que o LTE normal. Esperamos uma velocidade média entre 200 e 300 Mbps. Gaming será um dos principais casos de uso. Os gamers são os que mais demandam uma melhor performance. O usuário médio está feliz com 4G e quer apenas mais cobertura. Mas há grupos específicos que querem mais velocidade e menor latência. Estamos procurando identificar esses grupos. Realidade virtual e realidade aumentada também vão explodir com 5G.
E haverá ainda o uso para Internet das Coisas (IoT). Esta semana anunciamos uma plataforma de IoT chamada Curiosity. Ela mistura inteligência artificial e sensores para criar soluções de missão crítica com 5G e edge computing. Neste caso, é mais B2B.
Qual será a frequência usada pela Sprint no 5G?
Vamos usa a faixa de 2,5 GHz, a mesma em que usamos 4G hoje. Temos 120 MHz nessa faixa. Os EUA farão ainda um leilão de 3,5 GHz, mas 2,5 GHz é a joia da coroa, pois permite capacidade brutal sem muitas antenas.
O 5G ajudará a Sprint a ganhar participação no mercado?
É a nossa grande aposta. Antes teremos LTE Advanced com 4×4 Mimo. O novo iPhone está habilitado para funcionar com LTE Advanced. Será um primeiro passo para chegar ao 5G. Com LTE Advanced é forma de nos nivelarmos com a Verizon e o 5G será a forma de liderar porque temos espectro que ninguém tem e assim construiremos uma cobertura 5G que ninguém terá. Esperamos que o 5G seja a porta de entrada para liderarmos a percepção do público sobre qualidade de rede. E se entrarmos com a T-Mobile será ainda mais, pois com a combinação das frequências e das redes das duas operadoras vamos poder testar todo o novo ecossistema de serviços, desde o atendimento à área rural até a oferta de banda larga fixa sem fio. Queremos que a empresa resultante da fusão seja uma referência mundial de 5G. Pela primeira vez poderemos dizer que lideramos em capacidade e velocidade, o que é fundamental para conquistar clientes nos EUA, em vez de promoções.
Quando acha que haverá 5G no Brasil?
Não sei como está agora a distribuição de espectro no Brasil, mas acho que país não deve correr com isso. Ainda há muito o que fazer com LTE. Tem muita gente com 3G ainda. Operadoras têm que focar em aumentar cobertura e a densidade da rede 4G no Brasil. Quando chegar a 80% da base com 4G, aí fará sentido migrar para o 5G. Do ponto de vista do usuário tem muita coisa para fazer no 4G no Brasil. O LTE é um sucesso no mundo todo: vale a pena investir nessa tecnologia, melhorando a cobertura e investindo em handsets LTE. Do 3G para o 4G é um salto quântico. O 3G é como um pato: não nada, nem voa. O 4G é o que fez acontecer o sonho da Internet móvel. Mas claro que 5G vai chegar em algum momento no Brasil, mesmo que seja para IoT inicialmente.